Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Os eleitos


Este é um artigo aberto.
Aberto porque não expressa nenhuma opinião concreta.
Apenas aborda o tema das eleições em geral, apelando a contributos preciosos dos leitores do blog sobre cada um deles em particular, ou sobre as possíveis ligações ou implicações entre eles.
Também se pode chegar à conclusão que relatam apenas realidades diferentes e completamente independentes.

1ª Eleição – Paquistão
Nunca me apercebi bem da importância estratégica do Paquistão, mas a sua posição central em relação a muitos problemas económicos, religiosos e políticos, há-de ter alguma relevância. O Paquistão está rodeado de países como a Índia , o Afeganistão e o Iraque entre outros, e a importância da estabilidade neste país parece-me que tem muitas implicações a nível local e até global. Agradeço a quem possa acrescentar contributos ou visões sobre a relevância ou não do Paquistão, que o faça para que possamos enriquecer-nos em termos de conhecimento político-geo-estratégico.

2ª Eleição – Quénia
Num mundo cada vez mais “civilizado”, parece-me terrível o alastrar e o arrastar das barbaridades que se estão a cometer neste país, sob o olhar sereno ? impotente ? indiferente ? do nosso mundo ocidental e cheio de valores. As sociedades civis estão ainda muito desorganizadas e gostaria de saber o que poderemos fazer para pressionar os Líderes mundiais a dar condições à ONU para por termo a tragédias como estas.

3ª Eleição – EUA
Ano de eleições presidenciais nos EUA , parece um ano de festa, onde o circo muito bem montado, centra-se sobre si próprio, alheando do resto do mundo. Queria também perceber se estas eleições podem trazer alguma coisa de novo ao mundo, dado os EUA terem uma importância tão espalhada pelos 4 cantos do mundo.

Agradeço todo e qualquer contributo, pois cada opinião particular ajuda a entender e formar uma melhor opinião colectiva, por vezes tão necessária e importante.

Otávio Rebelo

terça-feira, janeiro 22, 2008

A Islândia como um exemplo


Um exemplo: A Islândia.

Um pequeno país (um pouco apenas maior que Portugal) onde 11% do território é coberto por glaciares. Grande parte coberta por gelo. População de 305 mil habitantes. O PIB per capita está 19% acima da média da UE e 28% acima da média dos países da OCDE. Representa 80 vezes o PIB per capita português! Gente produtiva e culta (30% com ensino superior). O facto de ser pequeno e sem recursos naturais e rquezas para além da pesca, não o impede de ser um dos mais prósperos. É certo que a dimensão populacional ajuda.

O que se distingue? Comportamento cívico, educação, cumprimento de regras e sentido de união e participação. Preocupação com o futuro e com as gerações vindouras. Preocupação com o legado futuro. Tudo é levado a sério porque tudo a todos diz respeito.

Em Portugal, assistimos à ausência de disciplina, sentido cívico e de participação. Pese embora termos tudo aquilo que a Islândia não tem em termos naturais, físicos ou geográficos. Apesar de tudo somos mais centrais na Europa, temos sol, gastronomia e turismo. Mas falta-nos a atitude. Tudo se resume à atitude. Porque os problemas da educação não são culpa deste ministério apenas, os professores são co-responsáveis pelo estado das coisas. Porque na justiça os magistrados e juízes são co-responsáveis pelo estado das coisas. Porque na saúde não é apenas o ministro que falha. Os médicos são co-responsáveis pelo estado das coisas. Porque é sempre mais fácil o queixume e repassar as culpas para os outros. Para aquele alguém que normalmente é o Estado ou o Governo, esquecendo-nos que o Estado somos todos nós e que o Governo fomos nós que o elegemos.

Não sei se somos uma geração rasca (nunca tive tantas dúvidas ) mas somos certamente uma geração à rasca pois ainda não nos encontrámos. E estamos já ou muito perto dos 40 ou já acima dos 40. Por muito paleio político que assistimos à nossa volta, os problemas persistem, o atraso mantém-se, as fraquezas cá estão e da cauda desta Europa não saímos. Este é o legado aos nossos filhos?!!
Aqui neste espaço alguns de nós saem por detrás da moita e afirmam-se, gritando alto com as armas que dominamos: a palavra e a escrita. Como na rábula do Otávio "fazemos a nossa parte". Outros ainda se mantêm por detrás da moita. Será, estou em crer, uma questão de tempo e de coragem. Necessidade de ajuda do Grupo ao seu aparecimento e afirmação. Muitos concordam outros não. Mas acreditar nisto ou não distingue as atitudes. Como está filosoficamente classificado, somos o país da "não inscrição". No FRES remamos contra a maré - lugar comum mas verdadeiro - pois não conheço ainda igual. Certamente haverá melhor, mas diferente do que somos e fizemos. Isto é o que temos ouvido. Mas não chega e é ainda muito pouco.

sábado, janeiro 12, 2008

Ataque à Razão


Este é o título do livro que estou a ler e cujo autor é o ex-vice presidente americano Al Gore recentemente nomeado Prémio Nobel da Paz em 2007.

Diz Al Gore que “ Como cidadãos, se não estivermos bem habituados a usar as palavras e se não as soubermos utilizar correctamente como um meio de exercermos o nosso poder, isso reduzirá a nossa capacidade para manter a razão firmemente no seu lugar”.

Não só nos Estados Unidos da América obervamos que a razão está a faltar ao povo, nos EUA pelas razões descritas no livro, o qual a propósito recomendo aqui aos meus amigos fresianos, mas também no nosso país verificamos a ocorrência de fenómenos semelhantes de desnorte e perca da razão (nem tão pouco pela prevalência da fé sobre aquela uma vez que não me parece que seja a fé a mover e influenciar os nossos comportamentos e atitudes).

Já antes aqui referi a leitura de José Gil, segundo o qual os portugueses se demitem civicamente de todas as suas responsabilidades de cidadania, naquilo que classifica como uma sociedade da “não inscrição”. Ao ler Gore, verifico que este se encontra igual e sériamente preocupado com este fenómeno na sociedade americana e escreve um livro exactamente para dispertar as consciências (aquele que esteve muito perto de ser o homem mais importante do mundo em termos políticos – mas que foi já o segundo).

Digo isto a propósito dos mais recentes acontecimentos vividos em Portugal, os quais, apesar do mediatismo, passam ao lado da maioria dos cidadãos (é assobiar para cima ou para o lado ou chutar para canto – como dizemos na gíria). Fenómenos como o mais recente escândalo financeiro vivido no seio do maior banco privado nacional, do qual muitos de nós cidadãos anónimos sejamos talvez accionistas ou clientes, reflectem o estado da vivência a que assistimos no país, onde entidades de supervisão (não se entende muito bem) parece terem-se demitido de assumir as suas responsabilidades (pelo menos na sua quota parte de responsabilidades) e que nos confunde quanto ao nosso julgamento sobre a seriedade, verticalidade, racionalidade e confiança que sempre nos mereceram aqueles que o dirigiam (não nos lembrava qualquer coisa como Deus pátria e familia?).

Ou o fenómeno a que assistimos na televisão sobre as dezenas de camas nos corredores das urgências do hospital de Faro (o maior do sul do país e da região algarvia) onde, por falta de condições logísticas, de espaço, médicos ou enfermeiros (eu sei lá que mais) nos foi permitido assistir a um cenário típico do mais terciário dos países do chamado terceiro mundo. Falta de dinheiro para novos hospitais? Para alargamento dos actuais? Para contratar médicos?

Mas teremos o TGV (aquela alta velocidade) que sairá do bolso dos mesmos contribuintes que se encontram naquelas macas nos hospitais.

E temos o Sr. Vara que, fenómeno espantoso, se transfere de armas e bagagens como funcionário público do maior banco nacional, embarca no combóio da alta administração para a alta administração do maior banco privado português. Mas pretende-se que se mantenha no primeiro no regime de licença sem vencimento!!!. Funcionário assim de dois bancos directamente concorrentes. Algo sinistro.

Nada tenho a dizer sobre as listas de candidatos, pois é aos accionistas que compete mandar e decidir sobre quem querem a conduzir os destinos do banco (ou pelo menos dessa responsabilidade não se livram). Mas a todos aqueles que são profissionais na banca, lhes pergunto se tal lhes seria a si permitido tal qual se pretende permitir, como tudo leva a crer, no caso do Sr. Vara.

E não tenho visto grande debate e movimento ou pronunciamento sobre estes fenómenos. Estamos calados, julgamos que não é nada, estamos até de acordo e não estranhamos certos fenómenos ou se calhar pensamos “é o costume” encolhendo os braços.

O que fazer então perante fenómenos como estes, para além de debatê-los? Para já debatê-los e denunciá-los efectivamente. Aqui , no Blog, na imprensa jornalística. É assim o princípio democrático em qualquer sociedade desenvolvida e solidária, despertar consciências, apelar ao grito da sociedade civil.

Depois algo mais. Em termos práticos? Encerrarmos contas bancárias, vendermos acções, desligarmo-nos. Mudar de banco. Promover abaixo assinados para impedir fenómenos como o do hospital de Faro e lutar contra o TGV talvez mesmo com manifestações de rua, exigindo a transferência de fundos da UE e do Estado, de combóios vazios para hospitais cheios de gente.

terça-feira, janeiro 08, 2008

A Realidade do País ou as Realidades do País?


Num mundo cada vez mais globalizado, os países que não estão isolados, estão naturalmente sujeitos a alterações exógenas. Estas alterações ocorrem a ritmos cada vez mais acelerados e associam-se a alterações internas que cada país procura implementar para a melhoria de vida das suas populações.

Muito se tem debatido sobre as mudanças que estão a ocorrer em Portugal em todos os sectores. Os sectores que mais notoriedade têm são sobretudo o do trabalho e segurança social, o da saúde de e o da educação. Embora existam outros sectores como o da justiça, também ele objecto de muitas polémicas, os sectores atrás referidos têm sido os que maiores mobilizações têm captado em termos da sociedade portuguesa, quer a nível de debates, quer a nível de contestações traduzidas, entre outras formas, por greves e manifestações.

Se no ponto de partida todos parecem concordar com os princípios que estão na origem dos problemas e na necessidade de se encontrar soluções, já o mesmo não sucede no ponto de chegada, onde as soluções escolhidas são fortemente contestadas.

Impõem-se então as perguntas: O que está a falhar? Porquê uma contradição tão gritante entre posições cada vez menos consensuais, quando se implementam soluções que supostamente deveriam ser benéficas para todos?

Sendo esta uma questão fulcral, que estará sempre presente, qualquer que seja a área de debate escolhida, sugiro as seguintes pistas para obtenção de respostas que poderão nortear futuros debates em torno destas questões:

1. Muito se fala da realidade do país, quando o que deveríamos ter em mente deveriam ser as realidades do país. Num país marcado por fortes assimetrias regionais em termos de desenvolvimento sócio-económico, é profundamente errado reduzir a padrões e soluções standard, problemas diferentes, fruto de especificidades próprias do meio em que ocorrem.

2. Em todas as acções a implementar, existem por um lado os planificadores das acções e por outro lado, os destinatários das mesmas. Os decisores devem ter em mente que as soluções que preconizam só terão sucesso se forem decisões que tenham em conta a participação das pessoas. Não se deve fazer para as pessoas mas sim fazer com as pessoas, que deverão em qualquer sistema, ser tidas em conta nos processos de mudança.

3. As bases de estudo das realidades têm de ser amplas, profundas e actuais. Só deste modo poderemos ter uma maior garantia de proximidade das realidades, na elaboração de premissas que estarão no cerne de muitas tomadas de decisões que irão condicionar o nosso presente e o nosso futuro.

4. Os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis têm de ser quantificados. Este dado é absolutamente vital. Diz o povo na sua milenar sabedoria popular que “Não se fazem omeletes sem ovos”.

5. Esclarecidas as questões internas acima indicadas, interessa perceber em que “quadro de relações externas” estas realidades estão a ocorrer, ou seja, de que forma o que se passa no mundo, afecta as medidas que se implementam a nível nacional.

6. Todos os factores acima indicados, devem ser objecto de uma comunicação clara aquando da tomada das decisões. Estas nunca serão pacíficas pois conciliar interesses sempre tão diversos, ainda por cima em cenário de contenção financeira (porque não vivemos num país rico) nunca será tarefa fácil. Importa pois que as decisões tomadas sejam as mais correctas possíveis e sejam entendidas como tal, de forma a haver maior canalização de esforços para o trabalho efectivo de implementação de medidas necessárias.


Estas pistas procuram entender as diversas posições intervenientes nas mudanças presentes e futuras. Só procurando amplos consensos poderemos abarcar um maior número de realidades do país, promovendo medidas que, não sendo satisfatórias na totalidade, terão um maior campo de acolhimento, realizando objectivos comuns do povo e dos governantes, ou seja, a melhoria de vida das populações.

Otávio Rebelo

sábado, janeiro 05, 2008

INTEGRAR

Bom dia, boa tarde ou boa noite a todos.
Ao lerem estas palavras já estarão “fartos” de ouvir desejar um Bom Ano de 2008.

O desenvolvimento tecnológico que atingimos já nos permite controlar muita coisa.
Um simples click numa tecla de um telemóvel, computador ou de um dos muitos telecomandos que possuímos, proporcionam rapidamente a concretização de muitos desejos.

Contudo, (in) felizmente, ainda há muitos acontecimentos que não estão ao nosso alcance.

Não somos nós que determinamos quando anoitece ou quando nasce o Sol.
Não somos nós que controlamos a chuva, a seca, o frio ou o calor. Não somos nós que controlamos o tempo atmosférico nem o tempo cronológico que mede, pacientemente, a nossa passagem por este lindo planeta azul.

Quem não tem o desejo de ser jovem ou saudável eternamente?

Quer os que acreditam na vida eterna, quer os cépticos em relação a qualquer forma de vida para além da nossa existência como comuns mortais, co-habitam hoje e agora, um espaço maravilhoso mas, limitado.

Só partindo da compreensão dos limites espaço-temporais que balizam as nossas vidas, poderemos verdadeiramente encontrar novas e melhores formas de interacção com os que nos rodeiam nos nossos lares, nos nossos locais de trabalho ou nos espaços comuns que a vida em sociedade nos proporciona.

É verdade que os limites cada vez são mais apertados.

Se conduzimos não podemos ultrapassar os limites “x” ou “y” consoante as estradas em que estivermos.
Se estivermos rodeados de pessoas que estão sossegadas ou a descansar, não podemos ultrapassar limites sonoros ao ponto de as prejudicar.
E agora, mais recentemente, se estivermos em locais fechados ou pouco ventilados, não podemos fumar.

Todas estas limitações parecem anular aquilo que o ser humano mais preza, a sua liberdade.

Não pretende esta pequena reflexão comentar quais os limites da nossa liberdade.
O facto incontornável é que a limitação da liberdade existe, em maior ou menor grau, consoante a hora e o local onde estivermos e também, de acordo com as pessoas que nos rodeiam.

Assisto com alguma preocupação à forma como nós estamos a reagir a todas estas alterações que nos são impostas.

Alinhando com aqueles que defendem a vida em sociedade, não me agrada que todas estas medidas tornem cada um de nós num cidadão isolado no “seu mundo”, com maior ou menor segurança financeira e rodeado de maior ou menor conforto material mas sempre, isolado.

O isolamento e a solidão têm efeitos muito nefastos. Num contexto de aparente bem estar, proporcionado pelo conforto e segurança material, ocorrem episódios (mais ou menos intensos) de distanciamento de quem nos rodeia.
O distanciamento, contrariamente ao que muitos pensam, tem dois sentidos: distanciamo-nos de quem nos rodeia, alheando (confortavelmente) dos seus problemas e, criamos barreiras a que os outros se apercebam dos nossos problemas.

A realidade obriga-nos a perceber que vivemos num mundo cada vez mais competitivo em que se luta, na maior parte dos casos, ainda com regras de respeito pelos outros.

É neste contexto que devemos fomentar a integração. Se não conseguirmos uma integração imediata e universal, podemos sempre começar pela integração de quem nos rodeia.

Pessoalmente, gosto de vencer desafios, mas não gosto de vencer desafios onde as armas estão todas do meu lado. É desta integração que precisamos para verdadeiramente vivermos num mundo melhor. Ao ajudarmos alguém a crescer, não o podemos fazer “aterrorizados” com a ideia de que esse alguém nos vai anular.

Todos nós neste projecto do FRES ou em qualquer projecto em que estejamos envolvidos, podemos sempre fazer mais e melhor. O contributo de cada um, por mais simples que seja, é um passo no sentido da integração. Esses passos devem ser dados sem receios.

Parece um pouco “mais do mesmo” mas, aproveitando o facto de estarmos em período de mais umas eleições presidenciais na América, repesco e adapto a mítica frase de Kennedy, dizendo, não questionem o que o mundo que nos rodeia pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer por este (único?) mundo.

Otávio Rebelo