Num mundo cada vez mais globalizado, os países que não estão isolados, estão naturalmente sujeitos a alterações exógenas. Estas alterações ocorrem a ritmos cada vez mais acelerados e associam-se a alterações internas que cada país procura implementar para a melhoria de vida das suas populações.
Muito se tem debatido sobre as mudanças que estão a ocorrer em Portugal em todos os sectores. Os sectores que mais notoriedade têm são sobretudo o do trabalho e segurança social, o da saúde de e o da educação. Embora existam outros sectores como o da justiça, também ele objecto de muitas polémicas, os sectores atrás referidos têm sido os que maiores mobilizações têm captado em termos da sociedade portuguesa, quer a nível de debates, quer a nível de contestações traduzidas, entre outras formas, por greves e manifestações.
Se no ponto de partida todos parecem concordar com os princípios que estão na origem dos problemas e na necessidade de se encontrar soluções, já o mesmo não sucede no ponto de chegada, onde as soluções escolhidas são fortemente contestadas.
Impõem-se então as perguntas: O que está a falhar? Porquê uma contradição tão gritante entre posições cada vez menos consensuais, quando se implementam soluções que supostamente deveriam ser benéficas para todos?
Sendo esta uma questão fulcral, que estará sempre presente, qualquer que seja a área de debate escolhida, sugiro as seguintes pistas para obtenção de respostas que poderão nortear futuros debates em torno destas questões:
1. Muito se fala da realidade do país, quando o que deveríamos ter em mente deveriam ser as realidades do país. Num país marcado por fortes assimetrias regionais em termos de desenvolvimento sócio-económico, é profundamente errado reduzir a padrões e soluções standard, problemas diferentes, fruto de especificidades próprias do meio em que ocorrem.
2. Em todas as acções a implementar, existem por um lado os planificadores das acções e por outro lado, os destinatários das mesmas. Os decisores devem ter em mente que as soluções que preconizam só terão sucesso se forem decisões que tenham em conta a participação das pessoas. Não se deve fazer para as pessoas mas sim fazer com as pessoas, que deverão em qualquer sistema, ser tidas em conta nos processos de mudança.
3. As bases de estudo das realidades têm de ser amplas, profundas e actuais. Só deste modo poderemos ter uma maior garantia de proximidade das realidades, na elaboração de premissas que estarão no cerne de muitas tomadas de decisões que irão condicionar o nosso presente e o nosso futuro.
4. Os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis têm de ser quantificados. Este dado é absolutamente vital. Diz o povo na sua milenar sabedoria popular que “Não se fazem omeletes sem ovos”.
5. Esclarecidas as questões internas acima indicadas, interessa perceber em que “quadro de relações externas” estas realidades estão a ocorrer, ou seja, de que forma o que se passa no mundo, afecta as medidas que se implementam a nível nacional.
6. Todos os factores acima indicados, devem ser objecto de uma comunicação clara aquando da tomada das decisões. Estas nunca serão pacíficas pois conciliar interesses sempre tão diversos, ainda por cima em cenário de contenção financeira (porque não vivemos num país rico) nunca será tarefa fácil. Importa pois que as decisões tomadas sejam as mais correctas possíveis e sejam entendidas como tal, de forma a haver maior canalização de esforços para o trabalho efectivo de implementação de medidas necessárias.
Estas pistas procuram entender as diversas posições intervenientes nas mudanças presentes e futuras. Só procurando amplos consensos poderemos abarcar um maior número de realidades do país, promovendo medidas que, não sendo satisfatórias na totalidade, terão um maior campo de acolhimento, realizando objectivos comuns do povo e dos governantes, ou seja, a melhoria de vida das populações.
Otávio Rebelo
1 comentário:
Caro Otávio
Referes-te à nossa sociedade como devendo ser um espaço de consensos, onde o Estado deve ser um gestor de desequilibrios criando equilibrios. Tal é o que me parece por vezes utópico no estado actual das coisas (lembrando-me sempre o que li na UTOPIA de Thomas Moore). Falas também de uma sociedade de comunicação, apaziguadora, solidária, num quadro do que deve ser uma economia social (o que de facto deve ser a economia) - muitas vezes tal não acontece.
Mas a complexidade dos problemas e das realidades de que falas merecem de facto um Estado solidário, gestor de conflitos, mediador, menos interventor. Deixando esse papel às pessoas, aso privados, às empresas, a todos nós. Mas vale a pena continuar a lutar.
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