Pois é, as aparências iludem.
Eu existo, mas não canto.
O canto que vos trago aqui não é canto de cantar, por
exemplo uma canção com letra e música, embora seja fan de música.
Quero falar-vos de outros cantos, os cantos geográficos.
Hoje o canto geográfico de que dou conta tem uma localização
neste canto maior, à beira mar plantado.
Passeando pelas ruas da baixa lisboeta com uma movimentação sempre
crescente de turistas estrangeiros, resolvi afastar-me da Praça da Figueira e
entrar no Martim Moniz.
Ia em direção a uma antiga tasca com a ideia de comer uma
sopa e uma bifana quando, ao passar junto à Igreja da Nossa Senhora da Saúde,
espreito para uma rua que já vi centenas de vezes, mas nunca me atrevi a lá
entrar, rua do Capelão.
Era uma da tarde e disse para mim mesmo, porque não entras
aqui nesta rua para ver este canto de lisboa, tão perto de ti e tão longe, por
nunca te dares a oportunidade de o conhecer.
Entrei então na rua e fiquei logo agradado por sentir
literalmente nas paredes dessa rua estreita, histórias de outros cantos, mais
concretamente de nomes de fadistas, que confesso a minha ignorância, nunca
ouvi.
Mas agradou-me, agradou-me ver nas paredes os nomes e rostos
de quem contribuiu com a sua voz, para o engrandecimento de um dos maiores
contributos de Portugal para a história cultural e musical, o Fado.
Como não era o fado que me movia mas a curiosidade de ver um
canto diferente da cidade, e também a necessidade de aconchegar o estômago,
avancei mais uns metros e vejo um restaurante com esplanada, com um grelhador cá
fora disse para mim mesmo, hummm…aqui há gato.
Quer dizer, não havia gato mas
havia peixe. Olhei para os pratos que estavam na mesa e vi em vários deles,
pescadinha de rabo na boca com arroz de tomate e decidi logo que era aí que
iria almoçar.
Para minha tristeza, já não havia esse prato, pelo que optei
por uma dourada escalada servida com batatas cozidas e uma salada, qual dos 3 componentes
com melhor aspeto.
E assim me vi de repente, num bairro típico de lisboa (Mouraria)
a almoçar numa mesa para 6 pessoas, uma das quais sem me conhecer de lado
nenhum, fez questão de me integrar de imediato nas conversas atuais e passadas
das suas vidas lisboetas.
Adorei o almoço, o convívio e ter estado naquele canto com
história e com histórias.
Lisboa transforma-se dia-a-dia. Sempre amei Lisboa, embora
reconheça que muitas lisboas que conheci, hoje já não existem. As cidades são
assim e as grandes cidades são assim, sempre a transformar-se, a modernizar-se,
a readaptar-se constantemente a um mundo envolvente, que também ele está em
constante mutação.
Gostei de conhecer este canto. Conheci um canto que eu não sabia
mas que existe.
Canto, logo existo.
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