Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, outubro 25, 2013

Orçamento de Estado para principiantes


«Portugal já cresce e tem um forte sector exportador. Está muito à frente da Grécia no caminho da recuperação», assim opinam no Morgan Stanley.
E de comentário em comentário vão descrevendo o nosso bom comportamento, enquanto bons alunos aos olhos da Troika, não se esquecendo de referir que a nossa economia já não está a viver acima dos seus meios, que estamos a ter ganhos de competitividade e o Orçamento de Estado (OE) para 2014 é credível, alertando, no entanto, para um certo ambiente político de risco. Não sei o que pensam todos os portugueses, mas eu fiquei orgulhoso, e não esqueço, como muitos, que tudo isto se deve aos nossos governantes.

Não sei bem porquê, tudo isto me soa a conversa pouco credível, mas, de facto, não tenho competência técnica para ajuizar, pelo que não me atrevo a tal, sobretudo tendo em consideração que os que a têm, como tudo indica, têm falhado rotundamente. Não quero com isto dizer que sou pessimista, mal agradecido, mas gato escaldado ...

É que toda esta discussão à volta do nosso Orçamento de Estado, que mais parece um orçamento de medidas avulso, de alguém que sonha de noite julgando ter encontrado a solução e no dia seguinte bota faladura com uma imponência desmesurada, me tem deixado com medo de água fria.

Em tempos, antes da modernização e informatização, era costume algumas empresas, com o conluio dos seus contabilistas, apresentarem 3 balanços: um para as Finanças, com prejuízos para fugir ao pagamento de impostos, um outro para os bancos, mais reluzente, com proveitos, para abonar os financiamentos e um terceiro, para consumo interno, para os accionistas saberem o que realmente tinham, ou não tinham.

Assim me parece hoje em dia, o nosso OE que vai sendo elaborado durante o sono por iluminados sonhadores, de tal modo que, cada vez mais, se vai assemelhando a uma manta de retalhos. Pode até ser uma inspiração no ditado popular que diz que o travesseiro é um bom conselheiro, mas… nos assuntos de Estado? Na minha modesta opinião penso que para uma melhor compreensão do OE seria interessante lerem a obra de Sigmund Freud A Interpretação dos Sonhos, onde talvez encontrem os fundamentos de tão promissor modelo.

De facto, tal como em tempos que já lá vão, parece que temos não três balanços mas três Orçamentos. Ou seja, um para a Troika, com anotações acentuando as dificuldades, os entraves do Tribunal Constitucional, que agora virou moda, para suavizar as exigências e se desculpabilizarem da sua incompetência, um outro para os credores e mercados internacionais, acentuando que estão no bom caminho, que se estão a tomar medidas para embaratecer a nossa mão de obra de modo a se obter maior competitividade, prevendo-se deste modo uma certa recuperação económica e um terceiro para consumo interno, para o povo, com carpideira, colocando a tónica nas despesas, na dificuldade em pagar os compromissos com a Segurança Social, com a Administração Pública, com as reformas e pensões, bem como com a Saúde e a Educação para justificarem os cortes salariais por falta de ideias e de competência, porque é disso que se trata, já que se assemelham mais a um grupo de garimpeiros à volta de um poço sem fundo..

Sinceramente que o lamento, mas esta é a minha leitura, porque já estou a ficar cansado, irritado e desconfiado... é que esta conversa fiada, mesmo com roupagens diferentes, já dura há 39 anos, e até não seria incomodativa se não se tratasse da nossa vida. Portugal é um território onde vivem cerca de 10.000.000 de pessoas e não um filme definido por 10.000.000 de pixels.

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