Portugal é um país que pode reunir todas as condições para
ser uma Suíça no sul da Europa. Geograficamente privilegiado, pode
posicionar-se como uma porta para abastecer o mercado europeu em produtos e
serviços de vanguarda e servir de plataforma de negócios, centro de serviços e
logística, quer para a União Europeia quer para a Lusofonia (países da CPLP).
Portugal tem, por comparação com a Suíça, um melhor clima,
uma mais longa e influente História para descobrir, uma gastronomia ímpar, uma
hospitalidade e pacatez mais vincadas, igual segurança, grande beleza natural,
excelente e diversificada oferta turística de serra e mar, um país de sol e
praia que consegue fomentar os desportos marítimos e captar uma procura
turística diversificada. Além disto apresenta uma rede de infraestruturas de
qualidade. Portugal possui 8 aeroportos internacionais, 3 dos quais no
Continente, 4 no arquipélago dos Açores e 1 na Madeira. De Lisboa e do Porto
saem voos para as principais cidades europeias e para algumas das mais importantes
do mundo. Dispõe de 9 portos de grande capacidade, tem 48 linhas férreas que
cobrem o país, uma das quais considerada de alta velocidade. Tem ainda
excelentes vias de comunicação rodoviárias e uma oferta significativa de
excelentes e modernos parques de escritórios para empresas, com uma adequada
logística de serviços e transportes. A rede de hotéis é das melhores da Europa
onde se podem realizar as melhores e maiores conferências e encontros de
negócios assegurando a mais elevada qualidade de serviços.
Existe em Portugal uma disponibilidade de capital humano,
jovens e menos jovens licenciados, provenientes de boas universidades onde são
ministrados bons cursos universitários, que permitem uma oferta de
especialistas em engenharia informática, engenharia aeronáutica, em tecnologias
de comunicação e informação, investigação e ciências bioquímicas, médicas e
biomédicas ou em áreas económicas e empresariais.
No período compreendido entre 1991 e 2011 o país registou
progressos assinaláveis ao nível da educação. Multiplicou por 1,5 o número de
matriculados no ensino superior e por 4 o número de diplomados. O número de
pessoas entre os 15 e os 64 anos com o ensino superior completo correspondia em
2011 a 25% da população activa. Em 2010 o país tinha lançado no mercado mais de
78 mil diplomados com um qualquer grau do ensino superior.
Em Portugal, os jovens licenciados, no quadro das grandes
dificuldades macroeconómicas em que o país vive, têm energia e vontade para
prosseguir uma carreira, realizarem-se profissionalmente e ter sucesso. Vestem
a camisola a 100%, são eclétios, na sua maioria disponíveis para trabalhar em
qualquer parte do mundo e com grande espírito competitivo. Trata-se de uma
geração bem informada, alguns muito viajados, com pleno domínio das tecnologias
e ferramentas de informação e comunicação, nas quais Portugal é um early
adopter, e possuem grande apetência para falar línguas.
Notícias recentes atestam esta realidade: empresas alemãs
recrutaram em Portugal mais de 100 engenheiros jovens e recém-licenciados, para
trabalhar em empresas industriais no sector público e privado; Uma empresa de
recrutamento francesa veio recrutar no país jovens médicos e enfermeiros para
trabalhar quer no sector público quer privado.
Encontramos em Portugal um sistema de telecomunicações e
informação dos mais desenvolvidos do mundo. O país está muito bem posicionado
em termos europeus na oferta e cobertura de internet de alta velocidade,
apresenta neste serviço uma boa cobertura nacional, acima dos 25%, oferece uma
das mais modernas infra-estruturas de fibra óptica posicionando-se no TOP 20
dos países com maior uso desta tecnologia. Sem ser visto como um país símbolo
da inovação, Portugal é efectivamente, à sua escala, um país inovador. Temos
vários exemplos: o sistema pré-pago para telemóveis, que representou um caso de
inovação mundial; o sistema de pagamento automático de portagens nas
auto-estradas, através da chamada Via Verde; o actual sistema automático de
cobrança em portagens; a liderança mundial na inovação na indústria de moldes
para automóveis ou com aplicação na aeronáutica; a especialização no fabrico de
componentes automóveis para algumas das principais marcas mundiais já para não
falar da inovação e criação ao nível da indústria do calçado e do têxtil.
Portugal é por tudo isto um país fascinante. Tem conseguido
tirar partido destas características mas está longe de optimizar os seus
recursos e activos. Em virtude da crise económica e financeira que atravessa, o
país necessita de captar investimento estrangeiro para fazer crescer a
economia, criar riqueza e emprego. Mas está a competir com países europeus e
asiáticos. Neste campo Portugal tem apresentado muitas fragilidades pois temos
assistido não só a uma redução do investimento vindo de fora mas também a algum
desinvestimento externo. Um dos pontos fracos deriva do sistema fiscal,
complexo e desfavorável a quem quer investir, seja pelas elevadas taxas de IRC,
licenças e outros custos administrativos mas sobretudo pela volatilidade das
suas regras. A política fiscal é irregular e sofre mudanças contínuas em função
dos Governos o que tem criado um quadro de grande incerteza e instabilidade, o
que retrai os investidores.
Neste quadro o país tem quase todas as condições para se
afirmar como um destino estratégico para a localização de empresas
multinacionais, designadamente ao nível dos seus serviços partilhados (shared
services centres) o que lhes permitirá aproveitar todos os recursos já aqui
enumerados. A prova disso é que temos já o testemunho de várias iniciativas de
sucesso através dos exemplos de empresas como a Fujitsu, a Siemens, a Nokia
Siemens, a Cisco Systems, o BNP Paribas, ou mesmo a Microsoft e a Solvay, que
colocaram em Portugal os seus shared services centres. Aqui concentram e desenvolvem
as suas atividades que vão desde os call centers à investigação, serviços
centrais administrativos, informáticos ou financeiros.
Para a Lusofonia, o país pode concentrar uma plataforma de
apoio logístico, legal, financeiro, administrativo, de tradução e de apoio
diplomático e empresarial a todas as empresas e investidores que pretendam
investir nestes países, dado que conhece como ninguém as suas características.
Há ainda as oportunidades que resultam do facto de estes países necessitarem de
professores e formadores, pelo que as alianças entre as Universidades e escolas
seria um primeiro passo indispensável.
Portugal é um país amável, generoso, moderno e inventivo que
permite às famílias dos que vêm trabalhar segurança e uma boa qualidade de
vida. O país tem que melhorar os seus pontos fracos de modo a elevar a
qualidade da sua oferta: um quadro fiscal estável e amigo do investidor, uma
justiça célere e uma simplificação urgente da burocracia. Todos os restantes
ingredientes estão cá.
Artigo publicado no semanário Vida Económica (01-12-2012) e no diário OJE (12-12-2012)
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