Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quinta-feira, novembro 19, 2009

PRÓS E CONTRAS


Não, não é do programa televisivo com este nome que me proponho escrever, mas tem alguma correlação. De facto, sobre qualquer tema ou situação que se discuta ou se julgue, há sempre os que são "Pró" e os que são "Contra". Mas porque razão não podemos discutir e ter as mesmas opiniões? É assim tão difícil concordarmos uns com os outros? Afinal o que determina o nosso comportamento? Não somos todos "crescidos"? Não temos todos "olhos de ver"? Então ...?
Pois bem, podemos dizer que o nosso comportamento é determinado por factores relativos à pessoa (hereditariedade) e factores relativos à sociedade (meio ambiente). Para além da "carga" hereditária que nos é transmitida (aptidões intelectuais, aptidões físicas) pelos nossos progenitores, há todo um processo de integração na sociedade onde vivemos que nos vai facilitar ou dificultar o desenvolvimento dessas características, geralmente designado por "Socialização". Como sabemos, todos herdamos características diferentes, pois temos realidades genéticas diferentes. Do mesmo modo, o processo de socialização é diferente, uma vez que cada sociedade tem normas, valores, crenças, religião, próprias de cada uma e que as distingue das demais.
Logo, quando uma pessoa tem que emitir uma opinião, ou juízo de valor, sobre uma dada situação, baseia-se no seu "Quadro de referência" que foi interiorizado ao longo da sua vida e só assim poderemos entender porque há pessoas que são, por exemplo, "Pró" poligamia e outras que são "Contra", na medida em que a sua opinião é determinada pelos valores intrínsecos à sociedade onde se formou e desenvolveu a sua personalidade. Deste modo, não me parece correcto emitirmos juízos de valor sobre o comportamento dos outros, sem conhecermos previamente as suas origens, o meio onde se desenvolveram, para que tenhamos uma percepção adequada das diferenças individuais, sob pena de corrermos o risco, muito comum, de os avaliarmos a partir do nosso próprio "Quadro de referências", como se eles tivessem tido a nossa "hereditariedade" e tivessem crescido no nosso "meio social".
Mas o caricato é que as pessoas em geral, do ponto de vista cognitivo, já o sabem, só que não o praticam, é só atentarmos à tão falada sabedoria popular, cheia de exemplos, tais como : "Tal pai, tal filho" (refere-se aos factores hereditários) ou "Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso" (refere-se aos factores sociais), então ...?
Então, deveríamos ter mais cuidado ao fazer juízos de valor uns dos outros, mais cuidado com as nossas opiniões e comentários, senão, um dia destes, ainda nos julgamos os detentores da verdade.

3 comentários:

Isabel Teixeira disse...

E agora chegaríamos, talvez, à importante pergunta: e o que é a verdade? Se queremos ser donos dela, deveríamos saber o que é.

Ora, resumindo o comentário do José Alves, dentro da minha leitura do mesmo, eu diria que existem tantas verdades quantos seres pensantes. Cada um de nós, tal como o José acabou de explicar, tem a sua. A tal verdade que resulta daqueles factores todos que mencionou, das experiencias de vida de cada um.

Se ser dono da verdade for visto como sentir que se tem opinião própria, para mim, não será um problema.

Acredito até que aquela conhecida frase que diz que "da discussão nasce a luz" tem muito sentido.

Mas estou a falar de uma discussão civilizada de opiniões, aquilo a que costumamos chamar debate.

Acredito que não temos todos que ser "formatados" de uma determinada maneira e concordar com tudo o que os outros opinam. Bem pelo contrário, acho muito útil que sejamos todos diferentes. Só assim poderemos ser complementares e aprender uns com os outros.

Que interesse teria um debate se todos concordassem em tudo e em todos os temas postos a discussão? Seria muito mais rápido, é certo! Mas nada se acrescentaria, ninguém aprenderia algo mais com os outros. Pouco se evoluiria.

Agora, o que é importante, mas importante mesmo, é que saibamos todos respeitar o direito à diferença de opinião e o direito a não concordar com tudo aquilo em que muitos acreditam.

Cada um de nós é diferente e todos desejamos o mesmo: sermos respeitados, pelo que somos e pelo que pensamos. Só há uma forma de o conseguir: começar por respeitar aquilo que os outros são e aquilo que os outros pensam.

Uma questão de atitude que pode tornar discussões áridas e penosas em debates interessantes, partilhando ideias, opiniões, soluções. Crescendo e evoluindo.

José Ferreira Alves disse...

É isso mesmo Isabel, concordo em absoluto. Todavia quando refiro dono da verdade, escrevi como reparou "os" detentores (donos) da verdade, no sentido de não julgarmos ser os únicos, o que aliás a Isabel muito bem sublinhou. E para complementar o comentário da Isabel, apenas citaria um autor, cujo nome não me recordo, que dizia "embora não acredite numa só palavra do que dizes, defenderei até à morte o teu direito de dizer", ou seja, todos temos direito
a nossa opinião e há que o respeitar, e isso, de facto não é um problema, antes pelo contrário.

Mário de Jesus disse...

Amigos

Como penso que todos percebemos - é isto que é o FRES.

Foi para isto que surgiu o FRES.

Foi a pensar nisto que há anos quis partilhar com um grupo alargado de pessoas diferentes, de elevado valor intelectual (na minha perspectiva) com as quais eu próprio muito iria aprender, esta ideia e este projecto até termos chegado onde chegámos hoje.

O direito à diferença, de opinião, de ponto de vista, de visão, de percepção. Bebendo a sabedoria de todos consoante o quadro de referência individual, de cada um, sabendo que no final, todos estaríamos inequívocamente mais ricos e cultos.

É num espaço de liberdade da palavra que vinga o pensamento dos homens e das mulheres, tão raro neste país.

Espaço onde nos ajudam a re-construír a nossa própria opinião e visão do mundo.

No fundo, um espaço de tertúlia e de reflexão, de confronto intelectual e de opinião (num ambiente ao mesmo tempo de socialização humana).

Abraços