Lanço aqui a discussão face ao excelente post do Otávio Rebelo com o título "o silêncio dos competentes". A temática é complexa, mas não necessita de ser tratada com complexidade.
O chefe é humano, o líder também, todos os colaboradores o são, negar a dimensão social, de relacionamento de qualquer colaborador com o próximo é contraproducente para chefes e chefiados e para todos nós enquanto membros dos grupos em que nos inserimos e da sociedade em geral. Isto significa que, por muito pouco que a tarefa, e respectivos resultados almejados, seja influenciada por razões sociais e por muito individual que seja, a dimensão social ou grupal na vida da empresa nunca deixa de ser importante.
Daqui se infere que as competencias de relacionamento e de comunicação são indissociáveis do conjunto de competências desejáveis de qualquer colaborador (aquele que colabora ...) em qualquer organização. Vivemos num ambiente cada vez mais propício à interacção, pela proximidade que as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) e a facilidade do recurso ao transporte físico nos permite. Essa interacção, se bem aproveitada, pode ser originadora de uma incomparável capacidade de criação, sem paralelo histórico, que poderá elevar a humanidade a níveis de progresso inimagináveis.
No entanto, a maior interacção também implica maior proximidade e maior intensidade de trocas entre culturas que até aqui têm subsistido relativamente "protegidas" de influências externas. Segundo Lévi Strauss, existe um fenómeno que acontece quando dois grupos se encontram e que tem sempre um de dois resultados. Passo a definição - "potlatch é um fenómeno social total, do tipo agonístico, em que duas fratrias, irmãs e inimigas, validam a sua identidade social" - o resultado dessa validação, amplamente estudado pelo sociólogo, tendencialmente tem dois resultados: a troca ou a guerra! E claro, uma das fratrias tem que ganhar e a outra perder no confronto. O importante é perceber que o confronto tem como objectivo a validação social e pode e deve ser efémero, senão mesmo evitado se ambos ou um dos grupos souber, no momento do contacto, endereçar as necessidades de validação do outro, o que envolve conhecer bem o grupo oponente e dominar boas tácticas de relacionamento. Tudo em prol do resultado que interessa - a fase de troca e construção, em oposição à guerra e destruição inerente.
Mas o que isto tudo tem a ver com o silêncio do competentes? Talvez esteja na hora dos competentes pensarem em investir mais em competências de relacionamento, da comunicação inerente, da liderança e das outras setenta e tal para as quais existem técnicas de desenvolvimento. Talvez esteja na hora de acreditar que, tal como as outras competencias técnicas que se dominam, também as denominadas "soft skills" merecem a justa atenção, porque se podem desenvolver e porque sem elas, o competente nunca será verdadeiramente competente, como colaborador, como chefe, como pessoa ...
2 comentários:
Gostei da reflexão. É um tema que deve e tem que ser sempre recorrente entre nós. Darei de seguida continuidade ao mesmo através de um novo post.
Abraço
Caro João,
Muito interessante a tua resposta/ desenvolvimento ao post que coloquei. O Fres orgulha-se de poder contar com pessoas com uma visão de 360º. Quando lancei o tema, fi-lo numa perspectiva unidirecional. No entanto, tu alertaste brilhantemente para a necessidade de se ver esta questão numa perspectiva dinâmica e bidirecional. É um desafio acrescido aos competentes. Muitos dos passos já certamente eles deram. Mas como tu alertas e bem, esses passos podem ser insuficientes e frustar o trabalho de anos ou de uma vida. Competirá então aos competentes, passe-se o pleonasmo, acrescentar competências, de modo a se fazerem ouvir. Muitos parabéns pela tua excelente resposta.
Enviar um comentário