Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, abril 20, 2008

O Silêncio dos competentes e o Talento em Portugal


Ainda dando continuidade ao tema do Otávio e do João sobre o silêncio dos competentes, pretendo evoluir para outras considerações ligadas às competências e atitudes, capacidades e oportunidades dadas aos competentes (exigidas e procuradas por eles) aos que potencialmente serão ou são já talentosos. É a questão tão em voga do talento em Portugal.

É certo que as competências se constroem através das atitudes, da educação, da formação, dos comportamentos, das inter-relações sociais e humanas. Muitas vezes é mesmo e só uma questão de crer, de atitude ou de uma forma de estar na vida. Outras não depende exclusivamente disso mas também de oportunidades e de janelas abertas. Vejamos o tema que aqui quero deixar e que se prende com o talento.

Está na ordem do dia falar-se em talento, na retenção de talento ou na identificação e recrutamento de pessoas com talento. Talento passou recentemente a fazer parte do léxico de muitos empresários, gestores, políticos ou outros opinion makers.

É bonito e importante falar em talento. Para se parecer talentoso. Se calhar é até chic ou muito in falar daquele de uma forma sofisticada como sofisticados parecem ser aqueles que são possuidores de talento. Claro são talentosos!

Mas exigir talento ou pessoas talentosas não passa de uma falácia e hoje em dia de um lugar comum. Quem são os talentosos? Nós? Eles? Quem somos nós? E quem são eles? E o que é o talento? Formação? Experiência? Atitude? Capacidade inata de fazer algo melhor e com mais competência a um nível de qualidade e eficiência que outros não conseguem? Ou o fenómeno da simples cunha? Talvez importasse definir claramente o que se entende por talento.

Seria igualmente relevante perceber porque se fala hoje tanto em talento? Dão os empresários apoio ou oportunidades aos talentosos? Aos jovens licenciados de elevado potencial, mediante a oferta de empregos qualificados e remunerados na justa medida? Àqueles que são ou podem vir a ser verdadeiramente talentosos? Oferecem-lhes boas expectativas de carreira, possibilidade de afirmação e realização pessoal e perspectivas de evolução, amadurecimento pessoal e profissional? Capacidade de virem a ter uma vida própria? Se sim, porque observamos então uma fuga sistemática e preocupante destes jovens talentos lá para fora, onde, por exemplo na Espanha, Inglaterra, Alemanha, Holanda ou EUA os recebem, talentosos, de braços abertos? Colocando a sua sabedoria e talento ao serviço das concorrentes instituições europeias e de outras partes do mundo?

E que dizer daqueles licenciados, profissionais de diferentes áreas, que já deram prova do seu talento e experiência que neste momento se encontram na fila do desemprego porque os talentosos empresários resolveram por em prática com algum talento programas de downsizing das suas empresas de modo a manterem só para si os seus talentosos resultados?

Ou será que quando falam (e se fala) em talento apenas se pretende fingir que se fala dos outros não se pretendendo outra coisa que não seja demonstrar e exprimir com uma vaidade subentendida que talentosos são eles (somos nós) porque, claro está, só exigem e procuram os serviços dos talentosos? Complexo não?
É extraordinário que num país como Portugal onde as carências em termos de conhecimento, formação e talento são tão vincadas, assistamos ao fenómeno de sujeitarmos mais de 65 mil licenciados ao desemprego. E que empresas em áreas tecnológicas nos digam que têm que recrutar centenas de jovens talentosos noutros países uma vez que estes não existem em Portugal. Quem sabe ainda algum destes jovens e talentosos emigrantes terá a sorte de ser recrutado na Alemanha ou na Holanda como jovem talento para trabalhar em Portugal.

Esta é uma questão sobre a qual teremos também que reflectir profundamente.

2 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Prezado Mário,

Oportuna a tua reflexão sobre o aproveitamento dos talentos e da competências. Se a nível mundial a transferência de tecnologias é bastante rápida, residirá no factor RH ( Recursos Humanos ), um dos factores chave de diferenciação e competitividade. Portugal pode e deve aproveitar melhor os recursos humanos de que dispõe. Será certamente este um dos caminhos que tornará o nosso país mais forte e competitivo.

Cecília Santos disse...

Estimado Otávio

Mas é exactamente na qualidade dos recursos humanos que reside a grande polémica. Para uns a qualidade está ausente, para outros não (veja-se o sucesso das multinacionais que operam em Portugal e ganham prémios de produtividade e excelência). O problema porém ronda sempre à volta da educação e formação. Aqui sim, temos um logo e árduo caminho a percorrer. Em especial porque ainda não encontrámos o modelo a seguir e adoptar. O nosso modelo...