Esta semana a noticia mais relevante de âmbito económico e social foi o encerramento de uma unidade de produção da Delphi em Ponte de Sor e de outra da Yazaki Saltano em Vila Nova de Gaia colocando no desemprego cerca de 900 pessoas sem contar com as empresas fornecedoras nacionais e service providers dessas duas multinacionais instaladas em Portugal que actuam no cluster automóvel.
Este cenário já era previsivel há bastante tempo aquando da entrada da China na OMC e do alargamento da UE a Europa Central e de Leste.
O sector de componentes autómovel está bastante globalizado e a tendência para o OEM (Offshore Equipment Manufacturing) é uma constante que implica a identificação e pesquisa de novos mercados fornecedores no seio da cadeia de valor do sector automóvel.
Portugal já foi um mercado atractivo até a nossa adesão a União Europeia,pois, com a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais bem como a eliminação das barreiras aduaneiras nacionais tornou-se irrelevante a produção destas compeonentes em Portugal.
Para além de que os grandes fabricantes do sector automóvel não consideram Portugal um mercado estratégico para a fixação de unidades industriais deste sector. Excepção , felizmente é o caso da Autoeuropa.
Os nossos custos de produção são elevadissimos e não devem ter em conta a questão apenas da mão de obra, mas sim a produtividade, os custos de logistica, a competitividade dos portos nacionais e o custo energético bem como a elevada carga fiscal e a Burocracia que dificultam a captação de IDE em Porugal. Isto é, o grau de atractividade de investimento directo estrangeiro torna-se reduzido devido a estes condicionalismos.
O fenómeno da deslocalização e transferência de produção para outras áreas mais dinâmicas do globo não tem apenas Portugal como vitima, pois, abrange todos os Países da Europa e os EUA.
A globalização dos mercados e a procura de mercados mais competitivos ou a redução global de custos no seio das grandes corporações é algo que está para ficar e que está a criar verdadeiros fenómenos de desemprego ao nivel global e a conduzir regiões a situações perda de competitividade económica e social o que é prejudicial para a Estabilidade dos Países afectados onde essas regiões se encontram.
Alguns Paises vão conseguir superar esta questão através da seguinte estratégia:
- Reconversão profissional urgente das pessoas afectadas pelo fenómeno de desemprego nessas regiões - Mas uma reconversão real e eficaz feita entre Estado/ Autarquias e sector privado de forma a elevar a dignidades das pessoas e dar-lhes perspectivas reais de emprego em vez de emigrarem ou deslocarem-se para outras zonas do Pais.
- Captação de Investimento Directo que não necessita de ser de Multinacionais mas de PME que estão a internacionalizar-se e procuram novos mercados.
- Estratégia de captação de investimento direccionada para novos mercados emissores de IDE em vez de o esforço de diplomacia económica ser sempre nos mercados tradicionais.
- Melhoria do ambiente macroeconómico e redução da carga fiscal para o investidor
- Novo modelo de captação de investimento estrangeiro baseado em novas indústrias emergentes
- Novo modelo de apoio as PME nacionais na área da exportação e consórcios de exportação de forma a estimular a criação de riqueza nacional de base industrial nessas regiões.
- Forte estimulo a formação profissional e a criação de condições favoráveis nessas regiões para o investidor instalar as suas empresas o que implica redução da Burocracia e que as autarquias dessas vilas e cidades tenham gabinetes próprios de apoio ao investidor com técnicos com experiência do mundo real das empresas e que conheça quais as indústrias emergentes e as em declinio.
- Gestão previsional dos RH de forma a termos mão-de obra especializada para as indústrias atractivas que possam investir nessas regiões em declinio.
- Fortes acções de relações públicas internacionais para captar investidores e posicionar essa região como pólo atractivo para instalação de novas indústrias e com um ambiente envolvente com qualidade de vida e boas infraestruturas como: escolas, universidades, hospitais de excelência, boas acessibilidades etc..
2 comentários:
Caro Alfredo,
Parabéns por mais uma brilhante análise de uma questão tão vital como a criação e manutenção de empregos em Portugal. Gostei da forma transversal como abordaste este tema, analisando-a do ponto de vista regional e global em termos geográficos e analisando as dificuldades e as soluções em relação ao problema propriamente dito. Este diagnóstico calro e objectivo e as propostas pertinentes e consistentes são mais um exemplo de um excelente contributo que deve ser fixado e repescado por todos nós, cidadãos comuns e decisores. Lembrando as palavras que recentemente escrevi a propósito da batalha naval, apeteceu-me dizer "Um Tiro no Porta-Aviões".
Caro Alfredo
Excelente reflexão. Excelentes propostas para ajudar a encontrar caminhos para a resolução dos problemas de deslocalização de empresas e consequentemente do aumento do desemprego. Chamo particularmente a atenção que referes dos aspectos ligados à falta de eficiência e de competitividade dos nossos portos, do problema do excesso de burocracia, do custo elevado da energia industrial e da falta de uma formaçao técnica e profissional em largas fachas da mão-de-obra nacional (que afecta a sua produtividade) como aspectos a realçar.
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