Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

terça-feira, março 04, 2008

Prons and Cons: Education´s true hour

Assisti ontem ao programa Prós e Contras sobre o tema educação. É de facto um programa único como poucos na televisão nacional e a não perder.

Como primeira conclusão refiro para já o seguinte: tinha assistido ao da semana passada sobre o mesmo tema, no qual participaram as partes litigantes – o Governo através da Ministra da Educação por um lado e os professores por outro - e comparativamente àquele, o de ontem sem as partes litigantes, antes debatido entre pessoas que pensam e trabalham a educação num contexto fora das partes beligerantes, foi muito mais profícuo, esclarecedor e interessante.

Depois várias questões relevantes foram abordadas pelos participantes. Quero aqui referir as que me pareceram ser de destacar. Não sendo de destacar quem disse o quê, apenas referirei as ideias que me pareceram essenciais.

Foi referida a necessidade de haver a criação de uma plataforma de intermediação do litígio hoje vigente entre professores e Ministério. Essa plataforma deverá ser composta por pessoas independentes, capazes, com competências e com prestígio suficiente para tratar o tema. No fundo uma intervenção cívica (ou um misto de) independente para mediar o conflito. Foi ainda referida a necessidade de vermos os professores como uma classe acima das disputas políticas, cuja importância da profissão é transversal a toda a sociedade portuguesa, devendo ser transcendental a todo este clima de quezília instalada. É aos professores que nós confiamos os nossos filhos para nos ajudarem a educá-los.

Outro interveniente referiu que hoje, o sistema de educação ao nível do ensino secundário, tal qual muitos de nós o conheceram e viveram, outrora de classe mundial, está hoje muito distante do melhor que existe nos países mais desenvolvidos ao nível da educação. A escola não se terá adaptado bem a uma certa modernidade, uma vez que há um novo paradigma a que chama a inteligência colectiva (com o advento da Internet) através do qual as pessoas agem, discutem e se expressam em grupo através da net, a qual tem hoje uma força que pode fazer mudar o estado das coisas e a perspectiva que se tem da realidade.
Diz o mesmo que por exemplo “lá fora” ou seja noutros países como os EUA, o grau de exigência, as temáticas de leitura e a atenção para todos os fenómenos de participação intelectual e cívica exigida aos alunos, não tem comparação em Portugal.

Um dos convidados da assistência regista uma ideia de salientar: a escola não pode e não deve estar vocacionada nem o sistema de ensino tampouco, para educar em função das necessidades das empresas, mas antes sim em função da felicidade dos alunos. Os alunos devem estudar e seguir as orientações, os cursos, os ensinamentos, as temáticas com as quais pretendem ser felizes. Esta busca da felicidade não pode ser condicionada de modo a que a escola apenas prepare as pessoas para trabalhar nas empresas. E a arte, as ciências, a literatura, a música, a pintura, a poesia e tudo o resto?

Outro dos convidados do debate reforçou a ideia que todos os intervenientes defenderam: é necessária a avaliação de professores. Deu como exemplo o facto de ter dado aulas na Inglaterra durante 3 anos e ter sido avaliado 2 vezes. Sem traumas e com toda a naturalidade é assim. Não se pode conceber uma profissão com a importância deste calibre sem as pessoas serem avaliadas.

Uma questão que esteve em aberto foi se os pais deveriam participar neste modelo de avaliação. Agora em minha opinião e também conforme foi referido por um dos intervenientes julgo que sim que é indispensável.

Tal como refere um dos convidados da assistência, recorrendo ao futebol como analogia, os treinadores são diariamente avaliados bem como os jogadores. É isso que os faz procurar ser melhores e vencedores. E os melhores avaliadores dos treinadores são os próprios jogadores. Também, pela mesma lógica de raciocínio, os pais podem ser bons avaliadores dos professores.

Finalmente ainda a destacar o facto de ter sido salientado que a disciplina, o esforço e a dedicação como factor essencial para uma escola de sucesso. Um dos convidados sublinha uma frase quanto a mim paradigmática: uma escola fácil não prepara os alunos para uma vida difícil.

Referiu ainda o aprumo e disciplina que testemunhou entre os alunos da Academia de Alcochete do Sporting como um exemplo a observar.

Não previmos isto no FRES quando há mais de um ano tomámos como tema mais relevante para trabalho a Educação. Parece que adivinhava-mos. Está como nunca na ordem do dia e prende a atenção das pessoas mais atentas e conscientes.

Agora esperemos pelo debate.

2 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Olá Mário,

O Fres como grupo interessado em debater temas relevantes para a sociedade escolheu no ano passado( e bem ) o tema da Educação. Dada a complexidade do tema e os contornos que tem ganho nas últimas semanas, maior é a necessidade de se manter a clareza em torno do mesmo. O grande desafio continua a ser o de indicar caminhos alternativos e viáveis. A viabilidade pressupõe a aceitação de grupos "beligerantes" Ministério da Educação e Professores, mas também dos Pais, Alunos e restante pessoal envolvido na Area da Educação e ligado às escolas. Parece de facto uma tarefa Hérculea, mas nada melhor do que deixar assentar alguma poeira mediática que de repente envolveu este tema. Reforço a minha ideia principal de que as reformas sendo necessárias não devem ser feitas para as pessoas mas com a participação das pessoas. Gostaria também de deixar a ideia de que havendo dezenas de perspectivas diferentes sobre os caminhos a seguir, muitos serão inviabilizados à partida. É importante que as reflexões que iremos continuar a promover, acolhendo os possiveis contributos externos, continuem a ter a força de ser ideias diferentes, pertinentes e viáveis.

Mário de Jesus disse...

Otávio

Dizes bem. A viabilidade do processo exige diálogo e a participação dos vários Grupos interessados - designadamente pais, avós (porque não)alunos e assistentes de acção educativa. É assim que tem que ser num país avançado e civilizado. É talvez O GRANDE TEMA do país e ninguém pode ficar alheio se for consciente. É um projecto das pessoas e para as pessoas - excelente mote o teu.