Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, fevereiro 24, 2008

Crises e Soluções

A Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) alertou quinta-feira para um «mal-estar» na sociedade portuguesa que, a manter-se, dizem, poderá originar uma «crise social de contornos difíceis de prever».

Criada em 1970, a SEDES é uma estrutura que tem como preocupação reflectir sobre a situação económico-social do país e o último alerta que lançou pode também ser relembrado no link

http://www.millenniumbcp.com/SME/middle/04/showNew/0,3532,3-20080222011700-DIARIODIGITAL----true-,00.html

Tal como a SEDES, o FRES também segue atentamente os acontecimentos que têm implicações económicas e sociais, aplaudindo os contributos de todas as associações que com maior ou menor notoriedade, lutam por uma sociedade melhor.

O contributo recente da Sedes é particularmente importante por ter conseguido despoletar de imediato uma série de reacções e debates, envolvendo pessoas de diversos quadrantes.

Uma das questões que se coloca em torno deste alerta é o de tentar perceber se esta crise social terá origem numa crise económica ou se, pelo contrário, é a crise social que cria as condições para um agravar da crise económica.

Mesmo não querendo “abusar” da palavra crise, todos constatamos uma multiplicação de sinais preocupantes tais como: elevado número de desempregados, fraco dinamismo do mercado de emprego, aumento do número de falências e crescimento económico bastante abaixo do desejado e necessário para uma real revitalização da economia.

Tal como a questão popular de quem nasceu primeiro, se foi o ovo, ou se foi a galinha, também aqui poderiam ser analisadas as relações de causa-efeito entre a crise social e a crise económica.

Receio contudo que essa não seja a tarefa mais importante. Todos os estudos, debates e análises são importantes para se aferir a realidade com base em factos. No entanto, é também necessário ter presente o factor tempo. Enquanto o tempo vai passando, são milhares as pessoas afectadas pelos males económico-sociais acima descritos.

Numa altura em que as estatísticas estão na moda, é importante que se deixe de pensar nas pessoas como simples números estatísticos, analisados e interpretados sempre da perspectiva mais benéfica, distanciando-se do que está na origem dos números, ou seja, das pessoas, dos cidadãos, dos seres humanos que nos rodeiam e que por motivos alheios à sua vontade, enfrentam desafios de sobrevivência em condições cada vez mais precárias.

Também nesta semana e em entrevista televisiva, António Pires de Lima, presidente da comissão executiva da Unicer, comentou as alterações recentes efectuadas no seio da empresa. Relatou a necessidade de com rigor mas com custos sociais, terem sido feitas reestruturações organizativas.
O que achei mais curioso e esperançoso nos seus comentários foram dois factos:
1º - As reestruturações recentes que a Unicer fez tiveram o apoio e envolvimento dos trabalhadores. Não de todos, obviamente, pois certamente houve muitos trabalhadores que não queriam ser dispensados. No entanto, as administrações das empresas têm de defender o interesse global de accionistas e trabalhadores no longo prazo, sendo por vezes necessários os tão temidos sacrifícios. Quanto aos trabalhadores que ficaram, foi criado um clima de maior envolvimento na organização, que traz sempre resultados positivos. Sempre defendi que as reformas se fazem com as pessoas e não para as pessoas, sendo positivo o contributo de cada pessoa, de cada trabalhador(a).

2º - Sendo desejados os processos de racionalização, eles não podem ser a única via a enveredar porque, até a racionalização tem limites físicos. Torna-se então importante ter novas estratégias, novas medidas, novas acções que potenciem o crescimento económico da empresa. Essa ambição, assente em bases realistas, contribuiu para uma constante e maior motivação de todos elementos da organização.

Também o nosso país funciona como uma empresa. Se por um lado são necessários sacrifícios que trazem as sempre indesejáveis consequências económicas e sociais, por outro lado é necessário que os nossos administradores públicos e privados (leia-se Estado e Empresas Privadas) sejam capazes de tomar medidas motivadoras e que contemplem a participação activa dos cidadãos.
Otávio Rebelo

2 comentários:

Mário de Jesus disse...

De facto são os grupos como a SEDES que sempre vão alertando para a necessitade de pararmos, reflectirmos e entendermos sobre o estado das coisas nesta sociedade. Há de facto um clima de crispação (sim, de novo) na sociedade portuguesa. As pessoas estão preocupadas, inseguras e pouco confiantes.As causas são conhecidas e foram apontadas por ti Otávio neste excelente texto. Acredito mais na versão de que é a crise económica que está a pressionar o país para a crise social. O que é facto é que, apesar dos discursos, as melhorias são ainda ténues e pouco sentidas no bolso dos cidadãos. Estou do lado das reformas mas gostaria de as ver produzir resultados mais rápidos.

Anónimo disse...

Octávio,
Excelente artigo.Concordo contigo perfeitamente. O problema das reformas é que ao contrário das reestruturações nas empresas o principio do empowerment (dar mais poder e responsabilidade/envolvimento) é possivel de acontecer. Nas reformas politicas isso nunca acontece dado o fosso cidãdãos politico ser profundo apesar de eles representarem o povo.
Existe de facto uma crise social devido a crise económic pois, eu li o relatório da Sedes e ouvi as palavras do Henrique Neto que faz parte da SEDES.
o Problema de Portugal é profundo e não é novo: Enqwuanto não houver um consenso nacional sobre as grandes reformas e os objectivos estratégicos nacionais para elevar a nossa sociedade e economia aos padrões europeus assistiremos a guerrilhas internas entre facções politicas e damos espaço a lobbies e interesses corporativistas.Infelizmente Portugal como legado Latino e cultura politica colectivista em que o Estado está omnipresente em todos os sectores na minha modesta opinião nunca conseguirá encontrar o seu caminho........A nossa cultura é muito de esperar que o Estado faça tudo por nós e pense por nós inclusive. Pois, existe um fascinio pelas instituições e pelo poder estadual no cidadão.