Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, fevereiro 17, 2008

No interior da Cultura e a Cultura no Interior



A promoção da qualidade de vida dos cidadãos passa também pelo seu acesso a eventos culturais. Nas grandes cidades do país já existe uma boa e diversificada oferta, sendo também verdade que se pode sempre melhorar, em quantidade e em qualidade.

Quando nos deslocamos para o interior, esses momentos de recreação, lazer e cultura, tendem a ser mais escassos ou, pior ainda, inexistentes.
Foi por isso com bastante agrado que me desloquei ontem ao Sobral do Monte Agraço. Não se trata de um concelho do interior profundo. Está situado entre Torres Vedras e Arruda dos Vinhos, não estando pois muito longe de Lisboa. É contudo, uma terra pouco falada e pouco visitada, que acolheu ontem à noite um espectáculo de Jazz.
Confesso que não sou ( não era ) apreciador de Jazz. Habituado a ouvir um pouco de tudo, nunca tive muita predilecção por este género musical. Ainda assim, e por ter a opinião de que devemos ter a mente e os ouvidos abertos a novas sonoridades, resolvi descobrir então quem são os Lisbon Swingers e como iriam eles fazer a defesa da sua dama, o Jazz.
Os Lisbon Swingers são uma chamada Big Band, constituída por um grupo de amigos de diversas idades, interessados em interpretar grandes temas do Jazz, nomeadamente os clássicos americanos da era do Swing. Ensaiam sob a direcção de Claus Nymark e contam actualmente com cinco saxofones, um clarinete, oito metais, secção rítmica e duas vozes, tudo novidades para mim. Uma coisa é estarmos sentados no sofá de casa, ouvindo um cd. Outra bem diferente é vermos os intérpretes ao vivo, podendo apreciar como tocam cada um dos instrumentos. Esta orquestra foi constituída há mais de dez anos e realiza anualmente concertos por todo o país, levando estes “pedaços de cultura” a públicos pouco habituados a eventos desta natureza.
Ontem foram a população do Sobral ( e os visitantes ) presenteados com um muito bom espectáculo, onde foram dados a conhecer os sons de orquestras de referência da história do Jazz, como as de Count Basie e Duke Ellington. Para mim e num primeiro contacto ao vivo com o Jazz, mais importante do que estes nomes, foi o apreciar da actuação desta orquestra. Estiveram em palco cerca de 20 elementos que se entregaram de corpo e alma, demonstrando rigor e paixão. Foi sem dúvida uma óptima oportunidade de conhecer melhor este género musical.
Também ajudou o facto de estarmos numa sala bastante acolhedora. O Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço, com capacidade para 219 espectadores, apresenta-se como um espaço de descoberta em torno da Dança, Música, Teatro, Cinema e áreas multidisciplinares. A sua plena utilização ao longo do ano, dinamizada sobretudo pela Câmara Municipal, possibilita o desenvolvimento de um trabalho de sensibilização e fidelização de públicos, promovendo a elevação do nível de acesso cultural da população do concelho do Sobral e dos concelhos limítrofes.
Gostando de apreciar o que se vai fazendo no desenvolvimento e promoção da cultura, devemos estar orgulhosos por também no interior se estarem a fazer esforços produtivos no sentido da sua divulgação.
O frio da noite de ontem não chegou para arrefecer o entusiasmo da população, que saiu do Cine-Teatro com um sorriso de satisfação por ter presenciado um bom espectáculo cultural.

1 comentário:

Mário de Jesus disse...

Caro Otávio

Excelente texto escrito com a precisão e sensibilidade de um grande apreciador de música(seja ela qual for e de que tipo for). Escrito da forma como o foi, faz-nos ter sede do jazz dando-nos conta da importância que a cultura e o espectáculo (o verdadeiro - aquele que é feito de forma apaixonada para o público)têm, afinal, para a educação e informação das populações. Afinal a música teve, desde sempre,um papel de extrema relevância para a formação nas pessoas de um espirito de criatividade e sensibilidade.