Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, março 15, 2006

Portugal Desafios para o futuro

Portugal Desafios para o futuro

(Breve resumo do artigo publicado na edição de Março de 2006 da revista Economia Pura)

“Falta a Portugal a ousadia, capacidade de inovação e de assumir riscos, bem como o atrevimento necessários para criar produtos e serviços de design modernos, com campanhas de promoção agressivas.

Posição geográfica
Plenamente integrado geograficamente no espaço económico, político e social europeu e membro de pleno direito da União Europeia (UE), Portugal está contudo em posição geográfica periférica relativamente ao centro da UE a 25. Por outro lado posiciona-se no centro do triângulo ocupado nos seus vértices pelo Brasil (e América Latina), Europa Ocidental e pela África lusófona (entendida aqui como os países africanos de expressão portuguesa ou PALOP). Este é assim um eixo determinante para Portugal no futuro.

Brasil. As razões a favor do reforço destas relações explicam-se pela própria História dos dois países e em especial pelo papel que Portugal desempenhou enquanto potência colonizadora
Europa. Portugal deve procurar manter-se no que se designa por “pelotão da frente” ou no grupo dos países que correm na “primeira velocidade”. É indispensável que seja cumprido o Pacto de Estabilidade e Crescimento como forma de o País se disciplinar ao nível das finanças públicas e na gestão das variáveis macro-económicas. Cumpridos estes objectivos, estará em melhores condições para atingir um nível de estabilidade económica (e política) indispensável ao crescimento e desenvolvimento social futuros
África. Os países lusófonos são uma excelente plataforma para o relançamento português ao nível económico e empresarial no quadro africano, uma vez que representam mercados alternativos para as empresas e empresários nacionais.
China. Este caso é paradigmático: a presença portuguesa por 500 anos em Macau (eis de novo a importância da História) pode representar um trampolim de acesso à China, dados os sinais da presença Portugal ao nível cultural, económico ou empresarial naquele território.

Educação e escolaridade
No quadro interno são inúmeros os desafios que Portugal vai ter de enfrentar num futuro próximo. De entre estes considero que a problemática da educação e escolaridade é, talvez, a mais determinante de todas as apontadas para o sucesso no futuro. Existe um excesso de oferta a nível universitário dado o elevado número de universidades para os estudantes actuais e potenciais do País havendo também a necessidade de apostar de forma mais vincada no ensino de cariz técnico-profissional.

Organização empresarial
O desafio da produtividade tem muito a ver com três factores essenciais, que, no meu entender, são os principais determinantes para a sua melhoria: a atitude perante o trabalho; as formas de organização empresarial e as competências de gestão dos empresários.

Segurança social
É neste campo que Portugal tem outro dos principais desafios a enfrentar.
Há cerca de 15 anos existiam 8 trabalhadores no activo para cada reformado, hoje este rácio passou de 4 para 1, sendo possível que, daqui a alguns anos (poucos), seja de 2 para 1. Este problema foi agravado na última década com a implementação pelo Estado e empresas (públicas e privadas) das reformas antecipadas.

Emprego
Hoje o desemprego é um dos principais problemas de fundo da sociedade portuguesa e é o que pode provocar não só instabilidade social mas também restrições no consumo interno (menos rendimentos disponíveis para gastar) e ao nível da produtividade agregada (menos indivíduos no activo).

Exportações e internacionalização
Um último ponto: a internacionalização empresarial do País. Se estivermos atentos chegamos à conclusão de que os chamados tradicionais sectores de actividade económica, onde Portugal apresenta elevada experiência, know-how, qualidade e capacidade competitiva, são, na sua maioria, sectores tipicamente exportadores, onde parte dessa competitividade foi obtida (e discutida) nos mercados internacionais. São disso exemplos o sector da cortiça, cristalaria, faianças decorativas, cerâmica, moldes, cortumes, têxteis e calçado, ou dos vinhos (sobretudo os do Porto).
Falta a Portugal enquanto país (e a muitos empresários) a ousadia, capacidade de inovação e de assumir riscos, bem como o atrevimento necessários para criar produtos e serviços cuja oferta se caracterize pela credibilidade, fiabilidade, prestígio e notoriedade, associados a conceitos de design modernos, acompanhados por campanhas de promoção agressivas quer do ponto de vista institucional (do País) quer do ponto de vista empresarial.”

Mário de Jesus

4 comentários:

Anónimo disse...

Mário um eixo permanente da nossa Politica externa é também o reforço da relação transatlântica
Portugal-EUA. É também uma aposta estratégica para vencermos uma presença efectiva no sistema de relações internacionais.
O teu artigo é muito interessante.
Um abraço,
Alfredo

Anónimo disse...

"Brasil. As razões a favor do reforço destas relações explicam-se pela própria História dos dois países e em especial pelo papel que Portugal desempenhou enquanto potência colonizadora"

Ah bons tempos aqueles do grande papel desempenhado por Portugal, a tal "potência colonizadora"! A escravidão, o roubo das riquezas, o genocidio dos indigenas, estupros de escravos e indios, destruição da mata atlântica, 98% da população brasileira analfabeta, o Brasil sem saneamento básico nas suas cidades, o Brasil sem escolas, bibliotecas, falculdades e universidades, o Brasil sem jornais, revistas e literatura que eram proibidos pela nossa querida "potência colonizadora" etc... enfim bons tempos que não voltam mais....

Henrique Abreu disse...

Excelente ARTIGO MARIO,

um bom exemplo do que deve ser um post num blog ; claro , informativo, sucinto.
Quanto ao conteúdo, tocaste em vários pontos cruciais e inspirou-me a preparar um artigo sobre os desafios estratégicos para Portugal no ínicio deste século e a necessidade de mudança da nossa cultura empresarial.
Alfredo, concordo com a tua opinião do reforço do eixo Portugal - EUA, que trás mais valias numa série de áreas e fortalece o nosso posicionamento geográfico.

Anónimo disse...

Deste interessante artigo gostaria de destacar 2 pontos; educação e escolaridade e organização empresarial