Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, março 10, 2006


Fala-se hoje tanto na falta de competitividade das empresas portuguesas face ás suas congéneres estrangeiras, da necessidade emergente em ser criado valor para os seus accionistas e do fraco “rendimento” da nossa economia. As sociedades modernas não são economias de mercado, são economias de organizações em que as empresas são o factor fundamental na criação de valor e no progresso económico, ou, tal como Peter Drucker afirmou:” as organizações são a principal invenção da sociedade moderna e no centro delas está a criação de valor”. Mas o que significa a criação de valor? Do ponto de vista financeiro e duma forma muito simplista podemos afirmar que uma empresa estará a criar valor se o resultado da produção de um bem tiver um retorno financeiro maior do que o valor dos recursos investidos no seu fabrico.
Todavia, a questão fundamental, na perspectiva de
Sumantra Ghoshal, não é, como "comer" o máximo de um valor criado mas sim como criar novo valor, pelo que, a missão das organizações comerciais que concorrem num determinado mercado não deve ser a de tentarem apropriar-se da maior fatia desse valor, pois, assim, os interesses delas não são compatíveis com os da sociedade.
Para se adaptarem melhor a este cenário de mudança as empresas portuguesas precisam de estratégias não lineares para criar “o tal “ novo valor, ou como afirma Gary Hamel, de desenvolver as suas capacidades de continuamente redesenhar produtos e conceitos de serviços, recriando as fronteiras dos mercados. No fundo, trata-se de reinventar as regras do jogo.
Existe hoje um consenso generalizado de que vivemos num mundo cada vez mais globalizado e não linear, marcado por uma nova geração de consumidores, que não são tão "leais" como as gerações anteriores, que são mais "experimentais", pelo que, vivemos num mundo económico mais "aberto". A maior parte das estruturas empresariais portuguesas estão obcecadas por uma tentativa sistemática de "apanhar" as líderes de mercado, todavia ,na maior parte dos casos, nunca o conseguem e perdem muito tempo em "benchmarking" e a analisar relatórios de vendas e índices de performance, mas, não resolvem a equação.
As organizações verdadeiramente inovadoras são as que são capazes de revolucionar a sua estratégia. Criar novos conceitos e reinventar os moldes em que operam.
Para que isto aconteça a missão das nossas empresas deverá ser, na minha opinião, a de desenvolver um processo incubador de gerar novo valor e não um objectivo predador de apropriação do valor existente. Uma firma é também uma instituição social e não só económica, ou seja o objectivo não deverá ser o de ganhar cota de mercado, apenas baixando preços e níveis de serviço existentes, reduzindo custos à conta de trabalho precário, não qualificado e mal remunerado esperando assim sobreviver à custa de praticar os preços mais baixos, mas sim, o de procurar e criar novas oportunidades de negócio bem como novos nichos de mercado criando assim o tal novo valor que apoie a criação de postos de trabalho qualificados contribuindo para a comunidade em que está inserida também em termos de pagamentos de impostos suplementares adjacentes a uma melhoria de margens, lucros e vendas.
O preço é, como se sabe, apenas, uma das dimensões da competitividade, e, para celebrar sucesso no futuro as empresas portuguesas necessitam de inovar e reinventar as suas estratégias, para isso, precisam de inspirar e motivar os trabalhadores para atingir os objectivos propostos nessas novas estratégias, aplicando um novo estilo de liderança, um estilo participativo em que tentem captar e fomentar a imaginação e criatividade de cada colaborador.
Para tal os gestores de topo deverão abdicar do seu “direito” exclusivo no delinear de estratégias envolvendo também outros níveis hierárquicos internos nessas análises e discussões, deverão concentrar os seus recursos numa busca incessante de procurar em fornecer novos benefícios para os Seus clientes e travar uma luta sem quartel a todos os factores internos que inibam a criatividade.
Os empresários portugueses necessitam de aprender a encorajar o empreendedorismo a todos os níveis, aprender a celebrar e partilhar sucesso, banir a nostalgia em relação a modelos de negócio obsoletos criando novos e vibrantes mercados internos nos campos da inovação a fim de reter e atrair capital financeiro e humano.



5 comentários:

Henrique Abreu disse...

Obrigado pelo teu comentário Mario,

Poderíamos apontar alguns exemplos de empresas portuguesas que tenham tido sucesso na área que referiste?
"Criar valor é diferenciar i.e. significa oferecer algo (produtos, serviços, emoções) de forma diferente, ousada ", poderia ser o ínico de uma plataforma de discussão neste blog dedicada a este tema ?

Álex disse...

Gostei do «processo incubador» e do «objectivo predador» - frase criativa e assertiva, muito plástica, quase que se vê uma empresa a "comer" outra.

Parece-me óbvio que a oferta tem que ser relevante para o público alvo e tem que ser direccionada para as suas necessidades ou então têm que se criar essas necessidades, de outra forma não haverá saída para esses produtos ou serviços oferecidos pelas empresas e é a falência!

Não será um exemplo de oferta de produtos/serviços de forma ousada (agora não me ocorre nenhum), mas oferta de êxito já reconhecido internacionalemente e, para o que aqui falamos agora, oferta inovadora, foi o «correio verde» dos CTT, por citar uma.

Henrique Abreu disse...

Obrigado pelo comentário Alexandra,
Este, parece-me ser um óptimo exemplo de como estimular o debate de ideias via blog para atrair também as opiniões de pessoas que não sejam membros do nosso forum mas cujo feedback nos é por demais importante.
Segundo percebi do comentário do Mario trata-se da necessidade de inovar não só no desenvolvimento de produtos e serviços, mas acima de tudo na forma de abordar e detectar essas novas ( velhas )não satisfeitas necessidades. ( precisamos de vender paixão e emoção)
Os CTT são de facto um bom exemplo , mas existem outros; Via verde , Multibanco, Netjets (( empresa americana mas com a sede operacional europeia em Portugal que inovou o mercado da aviação comercial criando um produto para o segmento de mercado "executivos de negócios", aqueles que não estão satisfeitos com a oferta da aviação comercial convencional mas que não têm disponibilidade ( rentabilidade )para adquirir um jet particular)), A vida é bela ( empresa portuguesa ligada ao Marketing experiencial e de eventos , a marca amor.( Restauração ) . O Grupo Mello com a criação do conceito de residência asssitida para idosos etc, etc, etc,

Henrique Abreu disse...

Mario,

Uma vez que por detrás de cada empresa e ideia de sucesso estão pessoas, quais, na tua opinião, são as competências mais importantes que caracterizam os " leaders" desses projectos ?

Anónimo disse...

Algumas caracteristicas que um bom leader deverá ter de acordo com Warren Bennis:
1.) The ability to “dream” a vision,
2.) To have a very clear picture of what she or he wants to do professionally and personally, and will try to accomplish those goals relentless and regardless of some setbacks
3.) Being passionate and having the motivation, enthusiasm and the ability to communicate, inspire and motivate others for that passion.
4.) Self-knowledge
5.) The ability to make judgments free from discrimination or dishonesty
6.) Maturity achieved from learning by doing and learning from past mistakes
7.) Being capable to learn as much as possible
8.) The will to take risks