Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, março 08, 2006

Notoriedade e Imagem positiva

Em recente conferência realizada em Lisboa pelo Banco de Portugal, subordinada ao tema do desenvolvimento económico de Portugal no espaço Europeu, foi apresentado por um dos oradores um modelo de desenvolvimento económico para uma melhor competitividade para Portugal, no meu entender, no mínimo discutível. Não pretendendo referir aqui todas as premissas apresentadas nesse modelo, gostaria apenas de mencionar algumas das questões que me pareceram mais relevantes e objecto de alguma controvérsia.

Defendia esse modelo, a necessidade de proceder a uma desvalorização real dos salários, como forma mais eficaz e imediata de resolver os problemas da falta de competitividade nacional, pelo facto de este caminho poder proporcionar um impacto menos negativo (em termos de desemprego) no processo de ajustamento da economia Portuguesa. Curiosamente esta ideia faz-me recordar o modelo passado de competitividade com base nos baixos salários. Esta proposta era em parte baseada no facto de se verificar, dentro de um determinado período de tempo, um crescimento nominal dos salários e dos custos unitários do trabalho, acima do crescimento da produtividade.

Defendia igualmente este orador (e aqui não estarei em desacordo) que o país deveria investir num turismo vocacionado para os centro Europeus, em idade de reforma, cujos rendimentos que dispõem lhes permitem usufruir (e exigir) de uma oferta turística de alguma qualidade de acordo com as suas necessidades e expectativas. Esta oferta deverá no entanto ser oposta à oferta tradicional e baseada num portfólio diverso de produtos e serviços mais sofisticados, como por exemplo a qualidade de serviços de saúde.

Segundo o autor, este modelo de desenvolvimento com base no crescimento e diferenciação do sector turístico, deverá ser adoptado em vez do tão defendido modelo de desenvolvimento económico português baseado no conhecimento e no desenvolvimento de novas competências nas novas tecnologias. Neste ponto não poderia estar mais em desacordo. Não por não acreditar no turismo.

Em face das soluções atrás referidas, chego à conclusão que o país revela uma necessidade absoluta de investir na sua imagem e notoriedade. Senão vejamos.

Se é certo que para combater os problemas da produtividade, esta deve crescer a taxas superiores às taxas de crescimento nominal dos salários bem como dos custos unitários do trabalho, quanto a mim esta não deve ser a abordagem prioritária para combater o fraco crescimento da produtividade em Portugal.

Não nos esqueçamos de algumas das variáveis do modelo de crescimento e desenvolvimento da Irlanda: aposta determinante na educação e conhecimento como valorização dos recursos humanos, controlo das despesas públicas correntes, redução dos impostos sobre as empresas (o que contribuiu para intensificar o investimento directo estrangeiro) e que permitiu aumentar a produtividade.

Para Portugal o problema essencial passa por: grande investimento na educação e formação – desenvolvimento de novas competências – elevação da motivação – elevação da produtividade per capita e agregada – aumento da competitividade em termos internacionais.

Voltando à questão da imagem e da notoriedade do país, é essencial divulgar lá fora o que de bom e positivo temos vindo a construir nos últimos anos. Como é possivel não nos lembramos dos casos de sucesso e de excelência desenvolvidos internamente em sectores como o das tecnologias de informação e comunicação ( telemóveis pré-pagos, sistema de pagamento da via verde, mapas e livros virtuais, jogos virtuais, ritmo de penetração da internet nas escolas e nas empresas e adopção destas novas tecnologias). Observemos o ritmo e intensidade com que aderimos aos sistemas de pagamento electrónico, como o Multibanco, os cartões de crédito ou o uso do telemóvel ou dos contactos via SMS, para facilmente concluirmos que, ao nível das novas tecnologias, somos early adopters.

Veja-se ainda o sucesso de algumas das nossas empresas de telecomunicações no exterior, em mercados tão distantes como o Brasil ou Angola. E que dizer ainda dos prémios ganhos por alguns dos nossos compatriotas inventores em concursos internacionais? Casos que, infelizmente por falta de investimento em capital, ou porque simplesmente não se revelam rentáveis no curto prazo, são esquecidos. Estes são activos que o país não pode descurar.

Também no campo da genética e da biotecnologia, temos exemplos de sucesso, onde podemos encontrar empresas que desenvolvem investigação na procura de medicamentos aplicados na cura de doenças como o cancro ou que se dedicam ao trabalho de investigação em células estaminais. Estamos a Investir em Portugal em parques de biotecnologia (como o de Cantanhede). Estas nossas empresas são já reconhecidas internacionalmente.

É um facto que Portugal tem um bom activo que é a oferta turistica, a qual não esgotou o enorme potencial que representa como factor de crescimento económico e de competitividade futura. Aqui estou de acordo com o nosso orador. Portugal, para além de bom sol, boas praias, excelente gastronomia e bons vinhos é também pacatez, segurança, estabilidade politica e social. Estes são bens e serviços transaccionáveis, que nos permitem criar uma oferta de elevada qualidade e sofisticação.

Os 800 Km de costa com um mar rico em especies piscícolas e potencial de aproveitamento energético através das ondas, a localização geográfica do país em latitude e longitude e a sua topografia, que nos permitem aproveitar como poucos os recursos para o desenvolvimento da energia eólica e da solar (sendo certo que para tal são necessários determinados recursos financeiros –o que acredito ser uma questão de tempo) e esta beleza natural, são activos potenciais a rentabilizar fora de um modelo de crescimento baseado nos baixos salários. E isto para não falar da desmotivação surgida com um crescimento nominal negativo dos mesmos, tendo em atenção o conhecimento generalizado que já estamos a anos de distancia dos rendimentos médios dos nossos parceiros mais próximos.

É igualmente importante não esquecer alguns dos sectores económicos onde Portugal apresenta uma elevada competitividade internacional, os chamados tradicionais, como os moldes, cortiça, cristalaria, calçado, cerâmicas decorativas, componentes para a industria automóvel ou aglomerados de madeira, onde deveremos continuar a apostar. Nenhum país de elevada competitividade abandona fácilmente os sectores onde conquistou as suas vantagens competitivas ao longo de décadas.

Por tudo isto julgo que existe ainda um preocupante desconhecimento do país nos mercados externos, uma imagem de Portugal desfocada e fora de tempo, que urge rejuvenescer. A qual se demonstra existir entre alguns académicos que nos visitam.

Como alguns afirmam, Portugal deve deixar de aparecer como país do sul da Europa para ser antes um país do Oeste da Europa. Temos que reposicionar-nos geográficamente.

Este rejuvenescimento terá que ser concretizado através de uma campanha de imagem institucional forte, coesa, agressiva e bem organizada, coordenada entre os organismos nacionais responsáveis (embaixadas, consulados, icep) centrada em conceitos de credibilidade, prestígio, fiabilidade, simpatia, calma e segurança. É urgente a criação de um slogan forte de modo a aumentar a notoriedade e a imagem positiva do país.

Mário de Jesus

1 comentário:

Henrique Abreu disse...

Excelente artigo Mario,
Falta ao nosso país uma visão estratégica daquilo que o país pretende vir a atingir nos próximos 5 a 10 anos, ou seja,procurar o espaço competitivo que pretende vir a ocupar face ás economias concorrentes , para isso, é necessário entre outras , reposicionar a marca Portugal e promovê-la de uma forma profissional e sobretudo " diferente ", mas acima de tudo criar um novo estilo de liderança por parte dos empresários portugueses um estilo participativo em que sejam transmitidos valores, paixões e entusiasmo entre os colaboradores das empresas comerciais bem como organizações governamentais. Necessitamos de um espirito vencedor que acredite de que somos capazes de atingir os nossos objectivos promovendo e publicitando os " muitos " casos de sucesso de empresas portuguesas como exemplos a seguir.