Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, abril 08, 2015

O valor da Política e a Política com valor


A política é uma das mais nobres atividades do ser humano. Tudo o que discutimos é política e são política todas as nossas ações, reflexões e iniciativas. A política tem uma vastidão de braços com uma mão no fim e que nos abraça em todas as nossas manifestações humanas e enquanto seres sociais: a política da educação, a política social, a política da justiça, a política do emprego, a política monetária ou financeira, a política diplomática etc.

Por isso é hoje mais do que nunca relevante valorizar a política como nobre atividade que é. Embora encontremos níveis de compadrio, corrupção, clientelismo e também de nepotismo, a verdade é que, por tradição, alguns povos do norte da Europa olham para a política de uma forma diferente. Sem esquecer os aspetos atrás referidos pois sabemos que existem sempre exceções, a política é vista em países como a Finlândia, a Dinamarca, a Noruega ou a Suécia (são apenas uns exemplos) como uma missão, uma responsabilidade, um desiderato, cujos valores estão acima de tudo e para a qual, quer cidadãos quer políticos, devem contribuir, na qual todos têm que se envolver e sobre a qual devem assumir a maior respeitabilidade. Devia ser assim por aqui. O pior da política são os (alguns) políticos.

Deixou de ser uma ideia feita ou um preconceito, fazendo referência ao excelente artigo do meu amigo José Ferreira Alves, a tese de que "cada povo tem os políticos que merece". Passou já de um preconceito à realidade; de facto, cada povo tem os políticos que merece. Porque há os bons e há os maus e os maus, só lá estão porque o povo (os povos) o permitiram, por desleixo, desinteresse, por irresponsabilidade ou descomprometimento. Em suma, por culpa própria.

E temos hoje infelizmente exemplos de sobra sobre a fraqueza da nossa política. Não ao nível dos partidos. Estes são o que são, existem porque existem, são estes mas podiam ser outros, pelo que, se os cidadãos não se revêm nestes partidos, terão duas possibilidades de atuar: ou criam novos partidos ou entram nestes e apresentam propostas de mudança por dentro. Isto não se faz por uma só pessoa mas através de movimentos de muitas pessoas. Não é fácil, os resultados não são imediatos mas Roma e Pavia não se fizeram num só dia.

Os maus exemplos da política são os do dia a dia, quando se penhoram gaiolas de pássaros, aquários, unidades de fruta ou se despejam pessoas das suas casas por deverem ao Fisco um IMI de umas centenas de Euros. Esta é a política imunda, antissocial, antidemocrática que nos deve enojar e desejar a mudança. Esta é a política dos maus políticos. E o pior da política vem igualmente quando se perdem horas, dias, semanas de horário nobre nas TV´s e de resmas de páginas nos jornais diários , a discutir quem tem o melhor perfil para vir a ser um Presidente, como se o país não tivesse outros problemas a resolver. Quando não há emprego, quando não há cultura ou quando não há a justiça suficiente, para dar apenas uns parcos exemplos. Os cidadãos merecem que a política e os políticos os tratem com dignidade pelo que não podemos aceitar o que hoje se nos depara como a ditadura das finanças. Nem tudo se explica através de orçamentos e de contas de deve e haver, embora todos devamos saber fazer as contas do deve e haver.

Li há dias que o primeiro ministro do Japão pedia aumentos de salários às empresas e comparei com o que temos por cá. O Fisco pilha os cidadãos e a ameaça de novos impostos não está afastada até porque a fragilidade das finanças públicas e deste frágil equilíbrio orçamental, que pode ser perene, são como uma espécie de guilhotina sobre as nossas cabeças já que o fio que nos separa de uma crise é imensamente ténue. E tudo isto se passa à porta de eleições daqui a meses. Enquanto se discutem gaiolas, aquários e peças de fruta penhoradas ou o perfil do candidato a Belém, como se fosse este o gestor dos destinos do futuro, não se discutem as políticas da saúde, da educação, da justiça, do emprego ou da demografia.

No FRES discutimos política, falamos de política e agimos em prol da política. No FRES fazemos também política já que o livro que recentemente publicámos, espelha as nossas ideias de política: sobre a educação, sobre a demografia ou sobre a lei eleitoral, para dar apenas uns exemplos. Seria bom que as pessoas no geral e outros grupos em particular também se preocupassem e se ocupassem da política, para erradicar os piores políticos e ajudar a implementar melhores políticas. Assim como quem não tem medo, vergonha ou acanhamento em dar a cara por uma atividade tão nobre, afinal a mais nobre de todas, que é a política. 


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