Reformar,
v.t. (do lat. reformare) - Dar
forma nova, melhor ou mais aperfeiçoada. Atualizar, reorganizar. Restaurar,
Corrigir, emendar. Abastecer. Dar a reforma a. (Lexicoteca - Moderno Dicionário
da Língua Portuguesa. Círculo de Leitores).
Quando se fala em reformar o Estado, o que
se quererá realmente dizer? Será que se pretende definir uma fase, um tempo para
parar, cortar com o passado e começar algo de novo? Ou pretender-se-á
atualizar, corrigir, aperfeiçoar algo? É que se se trata disto, e tudo me leva a
crer que sim, já me é mais percetível. Mas, por outro lado, faz-me pensar,
então não é isto que se faz, ou se deveria fazer sempre? É comum dizer-se que uma
pessoa nunca está completamente feita, nunca sabe tudo, e que está, por isso
mesmo, em constante aprendizagem, num processo permanente de formação, como
diz o povo, aprende até morrer. Ou seja, o homem tem de ser capaz de
integrar novos conhecimentos, novas realidades e adaptar-se a essas situações,
logo, está em permanente mudança, evolução ou, se quisermos, em permanente
reforma.
Não será isto que deve acontecer também com
o Estado? Com as pessoas que gerem esse Estado? Com todos nós?
A ser assim não me parece fazer muito
sentido dizer que é preciso uma reforma do Estado, uma vez que ele, como todos
nós, está ou deveria estar, em constante mudança, ou seja em reforma. Muito
provavelmente do que se trata é da constatação de que existem pessoas que têm
dificuldade, ou não querem, atualizar-se e adaptar-se às novas realidades e
isso levanta uma outra questão. É que nesse caso, o principal problema não será
reformar o Estado, mas sim trocar certas pessoas por outras que sejam
competentes e capazes de processarem as adaptações, correções ou atualizações
necessárias de acordo com as novas realidades e com a evolução dos tempos para
que não haja quem esteja ou queira travar a reforma.
Afinal como e quando reformar a Saúde, a
Educação, a Justiça ou a Solidariedade Social? Cada caso é um caso e deve ser
visto como tal. São realidades distintas, com processos de evolução distintos,
e consequentemente necessidades de atualização distintas no tempo e no modo,
sendo que o que importa é estarem em permanente estado de mudança, em permanente
evolução de acordo com a sua própria realidade.
As coisas não se alteram todas ao mesmo
tempo, nem com o mesmo ritmo, só porque se diz ou se quer, têm a sua própria
idiossincrasia e querer meter tudo no mesmo saco, como o demonstra a
experiência, é meio caminho andado para o insucesso.
A meu ver, a reforma é um modo de estar, em
constante evolução e permanente adaptação às novas realidades e, por isso mesmo,
nunca está concluída. Neste sentido, quando ouço dizer que é preciso fazer uma
Reforma do Estado, fico sempre sem
saber se o que se pretende é mudar as pessoas que não são competentes para conduzir
este processo ou se se trata de outra coisa.
Parece-me fazer mais sentido dizer que é
preciso ir actualizando e adaptando os modelos da prestação da Saúde, da
Justiça, da Educação ou da Solidariedade Social, cada um de per si, sempre
que as realidades situacionais o exijam e, deste modo, respondam às solicitações da sociedade.
Nos casos em que determinado modelo, como um todo, se torne obsoleto e já não responda, talvez seja necessário uma mudança radical, então que se faça o corte com o modelo velho e se construa um modelo totalmente novo mas que não seja uma reformulação do anterior, pois nesse caso não se trata de uma verdadeira mudança, mas de uma mudança na continuidade.
Creio mesmo que uma das principais necessidades
de mudança se encontra ao nível das pessoas, daqueles que gerem os ministérios.
Se se diz frequentemente que a gestão privada, nas mesmas condições e com os
mesmos problemas, é melhor e mais eficaz do que a gestão pública, então
provavelmente não se tata de um problema de modelo mas de pessoas.
Ou então, talvez que as pessoas agregadas a
determinados ministérios devessem ter um período de permanência maior ou efetiva, diria
mesmo profissional, para poderem dar garantias de continuidade aos processos em
curso e participarem nas mudanças que se afigurem pertinentes, quaisquer que
sejam os governantes. Porém, estas pessoas deveriam ser selecionadas de acordo
com as suas competências profissionais e não por nomeação partidária, pois por
muito competentes que o sejam, mesmo com experiênca profissional no privado, como se sabe, poderão ter de sair nas eleições
seguintes e os que se lhe seguirem, tudo farão para alterar e dar o seu cunho
pessoal, quer por questões de egoísmo quer por razões de autoestima pessoal.
Mudando apenas os ministros, mesmo que estes pretendam dar o seu cunho pessoal, nem todo o conhecimento dos processos em
curso e respetiva informação se perderiam se a maioria do quadro de pessoal
dos gabinetes fosse profissional, o que se traduziria em maior celeridade e
recetividade à mudança, mas que, de todo, não é o caso português.
Deste modo
vejo muito difícil operar-se qualquer mudança sustentável, uma vez que um mandato
não dá para a concretizar e, de um modo geral, as pessoas que as deveriam
realizar não são as mais competentes nem as mais indicadas para tal. Na
realidade, o que vamos tendo é uma amálgama pouco consistente de situações, qual
tecido remendado e fragilizado.
Em suma, a meu ver, para que qualquer futura
reforma seja viável, deve-se começar por dar a reforma a estas pessoas que andam
há décadas nos corredores do poder e que não atam nem desatam. Como muitos já o
disseram, provavelmente isto só se resolve com novos partidos e com novas pessoas,
sob pena de daqui a 10, 15 ou 20 anos ainda andarmos a falar do mesmo.
Foto - José A. Ferreira Alves
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