A morte de Nelson Mandela permite
algumas reflexões.
Não deixa de ser extraordinário como o
destino de um povo, de uma nação ou da humanidade depende das contingências da
História. Para uma nação, ter entre os seus um Homem como Nelson Mandela, no
momento certo da sua História, é um acaso mas também uma bênção. As
manifestações de reconhecimento dos sul-africanos e de todo o mundo são disso
uma evidência.
Como foi possível que, numa sociedade
cujas instituições políticas e económicas foram concebidas para promover a
exploração e a pobreza de muitos em benefício de uma elite, tenha surgido,
exatamente dessa mole de explorados, um Homem como Nelson Mandela? Ter
acontecido é um sinal de esperança e um aviso para todos os regimes
semelhantes.
O que a vida de Nelson Mandela nos
lembra é que para nos libertarmos da lei da Morte, para deixarmos marca, para
sermos homens-bons, temos que acreditar, ter coragem, mas também paciência. Não
deixa de ser uma mensagem poderosa para as nossas sociedades, que se acomodam e
aceitam, bastas vezes, ser governadas por políticos instantâneos, sem ideias e
ideais, que beneficiam o imediato e servem interesses que não, e só, o
interesse público.
Embora muito esteja por fazer, não é
difícil assumir que a sociedade sul-africana é hoje mais inclusiva do ponto de
vista político, social e económico, mas importa referir que no futuro não tem
que ser necessariamente assim.
Cabe a todos nós, cidadãos, fazer
escolhas, nomeadamente quanto à arquitetura institucional política e económica e ao modo como nos organizamos para que daí resultem sociedades mais inclusivas, com
maior capacidade de geração da riqueza, que reduzam a assimetria na
distribuição do rendimento e que promovam a inovação.
Vem esta reflexão muito a propósito do momento em que Portugal, como
país, atravessa e em que vemos alguns pilares da nossa arquitetura
institucional serem atacados, nomeadamente o Tribunal Constitucional. Não me
importa tanto, por agora, discutir da razão para tal, mas somente referir que
as sociedades inclusivas só existem porque suportadas em instituições políticas
inclusivas e que estas, por sua vez, só existem quando se tem um Estado
centralizado e respeitado, se mantém a efetiva segregação de poderes, se
respeita o primado da lei e as instituições são permanentemente escrutinadas
pela imprensa e os cidadãos livres.
Convém estarmos atentos.
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