O desporto nacional dos portugueses por estes dias é «arriar» nos políticos. E fazem-no muitas vezes de uma forma generalista, tomando a parte pelo todo, implacável, e não raras vezes boçal e grosseira. É um fenómeno transversal à sociedade portuguesa. Dos reformados que recebem muito mais do que alguma vez descontaram, por via das «leis dos políticos», aos jovens recém-chegados ao mercado de trabalho depois de duas ou três décadas de estudos subsidiados pelas «leis dos políticos» e sem currículo, sem passado, sem desempenho que se conheça para o teor das críticas que fazem. Dos trabalhadores do sector privado, que recebem em «fringe benefits» privilégios e prebendas muito maiores do que as de qualquer político, pagos pelos clientes da respetivas empresas, e sem que essas alcavalas sejam devidamente taxadas, por via da falta de «leis dos políticos», aos funcionários públicos que beneficiaram de anos a fio de progressões/promoções regulares, igualmente por via das «leis dos políticos». Vê-se de tudo!
Impera a cegueira que não deixa ver o óbvio.
Vem isto a propósito de um pequeno episódio ilustrativo dessa cegueira larvar. Vinha eu de carro num final de tarde destas férias e ouvia por desfastio na rádio o início do relato do jogo de futebol entre o Estoril e o Hapoel Ramat Gun, uma equipa israelita, para acesso ao play-off da Liga Europa. Referia o repórter que ao entrar num táxi em Israel e dizendo que era português logo o motorista associou a sua nacionalidade a Cristiano Ronaldo, José Mourinho e Figo. O comentador da estação, Joaquim Rita, também comentou aquela frase referindo do alto de uma certa pose que, muitas vezes, por sentimentos mesquinhos, os portugueses não sabem reconhecer e valorizar os seus melhores lá fora. E acrescentava que se nas outras atividades o País tivesse a projeção do futebol e designadamente se tivesse políticos da envergadura de alguns dos três futebolistas mencionados Portugal não estaria como está. Logo ali meditei naquelas declarações avulsas e encontrei três nomes de políticos capazes de ombrear com aqueles outros três no futebol: Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, António Guterres, Alto Comissário da ONU para os Refugiados, e Freitas do Amaral, que foi presidente da Assembleia Geral da ONU... E concluí, como Joaquim Rita, que os portugueses, por sentimentos mesquinhos ou outros, não valorizam os seus melhores e quando são políticos, então...
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