Fórum de Reflexão Económica e Social
«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»
domingo, outubro 14, 2012
Um prémio certo na hora certa
Perdemos a memória das duas grandes guerras mundiais que devastaram a Europa. A memória vivida perdeu-se quando deixámos de conviver com quem as viveu. Esses dois devastadores conflitos existem hoje sobretudo, ou quase exclusivamente, em filmes, documentários, livros de História, mas já não na memória das gentes.
Mas ao projeto europeu se devem mais de seis décadas ininterruptas de paz na Europa. Não é, pois, de estranhar a atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia (UE). Porém, alguma da nossa intelligentzia, cujo nível de vida em grande parte se deve à União Europeia, zurze hoje na sua atribuição, não raramente confundindo as instituições com os seus atores momentâneos. Penso que só mesmo por ignorância do que foi a história da Europa e do que foi a história da Europa do séc. XX se pode questioná-lo. O prémio é justíssimo.
Nos países do Sul grita-se e barafusta-se contra a UE, aponta-se-lhe a falta de coesão, de entendimento, de diálogo, de solidariedade, e vaticina-se mesmo a sua destruição iminente. Creio, porém, que essa escatologia é bem capaz de ser mais baseada na espuma das ondas do que no movimento profundo das marés.
Se olharmos mesmo para o momento presente, certamente o mais difícil da história da UE, notaremos que tem, ainda que com dificuldades, avanços, recuos, imperado um sentimento de família, de pertença, de comunidade... É mais o que nos une, desde a moeda que temos nos bolsos, aos regimes políticos que partilhamos, às leis e instituições que nos regulam, ao legado da civilização e da cultura ocidentais, do que o que nos separa… Se conseguirmos o distanciamento necessário, veremos que, mesmo agora, o velho lema militar de que «ninguém fica para trás» tem, apesar de tudo, dominado. E a atitude perante Grécia, sempre muito criticada, é um bom exemplo disso. É que mesmo depois de dois pedidos de resgate e de um perdão de 50% da dívida, o dinheiro continua a chegar... E os gregos, chamados a pronunciar-se, manifestam-se favoráveis à continuidade no euro…
Além de justo por tudo o que a União Europeia fez pela paz na Europa, o prémio é oportuno, por ser dado no momento em que é. É que o prémio coloca nos ombros dos decisores europeus a responsabilidade acrescida que é «honrá-lo»…
Este é, pois, um prémio certo, na hora certa...
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