Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, maio 09, 2012

Ecos de uma Europa em estilhaços




Temos vindo a assistir gradualmente ao estilhaçar do modelo sócio económico europeu. A grave crise, primeiramente financeira, depois económica e agora social, veio pôr à prova a solidez da Europa a qual não está a saber (nem a conseguir) resistir ao teste, infelizmente real, não simulado, da situação de pressão económica e social em que vivem as empresas, as famílias e as nações europeias.

E a Europa não resiste demonstrando uma desorientação e uma desunião como provavelmente nunca se assistiu antes, desde a sua fundação. E o que tem estilhaçado o modelo sócio económico europeu não foi uma guerra, uma catástrofe natural, um confronto político entre Estados ou uma desavença entre blocos comerciais. Foi primeiro a crise, mas mais e pior do que esta, foi a austeridade resultante da crise. Podemos acreditar que os povos entendem até certo ponto e em certa escala, as medidas de austeridade que lhes são impostas pois é certo que as pessoas têm a noção das dificuldades financeiras porque passam os orçamentos nacionais, os custos da dívida, os problemas dos bancos e de algumas instituições públicas. De um modo geral, todos os países europeus têm passado por problemas idênticos assistindo-se a ecos de revolta e de insatisfação por todo o lado. Porém, os povos não entendem a profundidade, a braveza e a dureza desta austeridade. Em primeiro lugar porque esta não lhes está a ser explicada, por outro lado porque não se percebe quando terminará nem quais os benefícios futuros que tiraremos todos deste sufoco e das dificuldades, em muitos casos graves, porque passam as pessoas. E com isto assistimos a uma Europa desnorteada, em que cada país fala por si e para si, subjugados a uma austeridade com correntes internas em que uns concordam e outros discordam, mas que tornam a Europa, como um bloco, refém.

No plano meramente teórico e das ideias, circula pela Europa entre as organizações da esquerda e de um certo centro-esquerda uma corrente menos favorável a uma austeridade com a dureza da que vivemos e defensora da teoria da política do crescimento económico como alavanca para uma maior competitividade, como contraposição a esta austeridade e como instrumento para evitar a dureza em que vivemos. Já as organizações de direita se têm afirmado mais defensoras de uma política de forte austeridade como alavanca para um futuro crescimento económico sustentado. Porém, as quebras no consumo interno e os níveis de desemprego, pelo menos no plano interno, têm sido fortes opositores deste desiderato.

De uma forma ou e outra, julgamos que o caminho da austeridade pura e dura, brava e persistente não conduzirá o país nem a Europa ao seu melhor destino. As pessoas sentem que esta é demasiada, cruel e desumana, dadas as dificuldades, problemas e amarguras que tem produzido na vida das pessoas. Por isso as pessoas se têm manifestado contra esta nova forma de ser Europa. Uma Europa que passa com grande velocidade da primazia de um modelo social, de bem-estar e de prosperidade para um modelo de seguidismo, de subjugação e de subserviência aos mercados. Um modelo que responde com essa mesma austeridade às pressões e aos apertos desses mercados perdendo toda a sua génese e ADN construído ao longo de décadas.

E estas são as razões para que tenhamos assistido à condenação dessa mesma Europa e ao modelo agora seguido. Foi contra esta actual Europa e por uma nova Europa que o governo caiu na Islândia, na Irlanda, que mudaram as forças políticas na Espanha, na França, na Grécia e em Portugal. Porque sendo entendida a necessidade uma certa corrente de austeridade, a força dessa corrente e o tempo que é dado aos países para se ajustarem a esta nova realidade e equilibrarem os seus orçamentos, é curto, demasiado curto, provocando um desgaste social e emocional nas famílias de tal forma que as pessoas exigem a mudança. Como têm afirmado algumas vozes discordantes deste modelo de Europa, tudo isto torna ilegítimos todos os esforços exigidos às pessoas e põe até em causa o modelo de democracia que vigora na Europa, por isso encontramos uma Europa aos cacos, em manta de retalhos, onde cada país parece navegar ao sabor do vento que lhe parece mais favorável.

É indispensável vivermos em austeridade, no caso nacional não há alternativas credíveis, sem a qual não conseguiremos provar a confiança de que somos merecedores nem resolver os graves problemas financeiros que assolam o país, cuja dívida e os desequilíbrios orçamentais não nos deixam alternativas. O mesmo se passa por quase todos os países europeus. Porém, há que saber dosear esta austeridade sob pena de matar o doente com a medicação.

Não se constroem cidades em 3 anos, muito menos países, quanto mais novos paradigmas económicos.



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