Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, março 04, 2012

Outra vez a KrugmanMania e as respostas a dar



Caro Paulo e estimados fresianos, sobre o tema aqui em discussão e relativamente às reflexões levantadas e assinaladas pelo Paulo Barata, diria algumas palavras e recordaria que Paul Krugman ganhou o Nobel da economia pelos seus estudos sobre a globalização e as economias de escala defendendo que os mercados nem sempre funcionam e que o seu fracasso se deve à falta de economia de escala. É portanto um critico dos mercados.

Com o enorme respeito que me merece não vou aqui falar de Krugman, uma vez que discordo da sua teoria da redução de salários mas concordando com outras ideias como a dificuldade que Portugal sentirá em voltar aos mercados em 2013, já que me parece ser demasiado cedo dados os problemas estruturais vigentes.

Afirmo que sou defensor de que Portugal não tinha outro caminho que não fosse o caminho da austeridade dado o estado das finanças públicas e do endividamento do país, das empresas e das famílias. O governo tem estado a fazer um bom trabalho neste campo e a ganhar a confiança dos parceiros internacionais. Isto é um facto e era absolutamente necessário. O que me preocupa é o problema da falta de instrumentos para incitar ao aumento da produtividade e do crescimento que induz a competitividade. Porque me parece que têm faltado medidas importantes de ajuda às empresas como apoio de crédito ao investimento e à internacionalização.

Quero dizer que concordo que mais importante que a competitividade é para Portugal mais determinante a produtividade. O seu crescimento e performance é uma das fórmulas para se chegar a um aumento da competitividade. E apenas conseguiremos aumentar a produtividade com empresas mais produtivas, adequadamente financiadas, a vender mais, com melhores profissionais, mais bem preparados, mais competentes, melhor formados e motivados. Mas isto não chega. Como poderemos hoje aumentar a produtividade quando temos cerca de 1 milhão de pessoas em idade activa que estão sem actividade e no desemprego? E que não consomem ou consomem muito menos?

E não conseguimos aumentar a produtividade porque as empresas não conseguem produzir mais porque não conseguem vender mais já que o consumo interno cai a pique porque as pessoas, com menos rendimentos disponíveis, mais impostos e o país com mais desempregados, reduzem o consumo.

Mas se não conseguimos vender mais cá dentro porque o mercado interno encolhe devido à austeridade (infelizmente é um facto pois a esmagadora maioria das empresas tem vindo a reduzir as vendas internas há 3 anos consecutivos) então só nos resta a exportação. Mas aqui reside outro problema. Em Portugal apenas 10% das empresas são exportadoras, estamos a falar de cerca de 25 mil empresas representando as exportações 30% do PIB quando em países como a Irlanda (110%) ou a Holanda, a Bélgica ou a Hungria, mais próximos da nossa dimensão, essa percentagem está acima dos 80%. Aumentar as exportações também não chega. Importa além disso aumentar nº de empresas exportadoras. Mas para tal é necessário criar condições e ajudá-las a exportar, porque lhes falta capital.

É da teoria macroeconómica que se sabe que, para as empresas serem mais competitivas, há que reduzir o custos dos factores de produção. É verdade. Mas as empresas não têm só nos custos de produção os salários e remunerações. Lá estão os custos com a energia (enormes para as industriais) dos transportes, da água, os custos dos financiamentos (o que dizer dos custos dos combustíveis sempre a crescer) para além das taxas, licenças e impostos que pagam.

Portugal vive um momento absolutamente crítico. A forma de sairmos daqui é aumentar a produtividade e a competitividade. Mas para isso é necessário dinheiro para investir, crescer, criar emprego, financiar a economia. Como os investidores portugueses não aparecem ou não revelam capacidade para dar cumprimento a esse investimento, então só nos resta os investidores externos. Mas esses parecem não ter confiança no país.

Não vejo aqui, com a miríade de problemas e desafios que enfrentamos, que a variável salários seja de facto a mais importante.

Quero dizer-vos que conheço um pouco a realidade das empresas portuguesas e que não são os salários dos seus colaboradores a principal fonte de preocupação. Como muito bem diz o Zé Mesquita, as melhores pagam bem estando na generalidade as pessoas contentes com o que recebem. Quanto existem problemas de fundo, estes resolvem-se de outra forma. Se há que reduzir estruturas, o problema resolve-se de uma outra maneira e estas reduzem-se, mas isso não tem directamente a ver com o nível de salários nem com a falta de competitividade das empresas por tal. Nunca ouvi uma ou algum empresário a dizer isso. Menos salário é menos empenho, menos dedicação, menos energia, menos interesse, menos profissionalismo.

As empresas procuram uma melhor competitividade num quadro de maiores incentivos e melhores condições politica e fiscais ao investimento, às exportações, no aperfeiçoamento e estabilidade do sistema fiscal, na redução dos custos de contexto (burocráticos e processuais), não no plano da redução de salários.

Austeridade sobre recessão apenas agrava a recessão, não sou apenas eu que o digo mas é antes a opinião da grade generalidade dos economistas e dos observadores sobre ciência económica. Vemos o investimento, o consumo público e privado, a receita dos impostos (ainda que com mais impostos dado que menos salários e menos consumo, leva a menos impostos) os combustíveis, a compra de casas, de carros, para dar apenas alguns exemplos, a caminhar negativamente. Assim será mais difícil.

1 comentário:

Paulo J. S. Barata disse...

Caro Mário. Competitividade e produtividade são duas faces de uma mesma moeda. Quanto à questão da redução de salários é inexorável e já está a acontecer. Vai acontecer lentamente e, claro está, mais para uns e menos para outros. Mais para os funcionários públicos, menos para «entes» públicos especiais e para as empresas públicas, como bem o demonstram os vergonhosos casos do BdP, da TAP, da CGD e dos outros que se seguirão… Quanto aos privados uns pagarão a não redução da pior forma, com o desemprego, outros simplesmente não a pagarão ou pagá-la-ão de forma muito mitigada. Isto independentemente da nossa concordância. E vai acontecer simplesmente porque é a única variável que inteiramente dominamos. Aliás a própria troika insistiu, como «choque de competitividade», na desvalorização dos custos de trabalho por via da TSU. Não conseguiu pelas nossas próprias circunstâncias, designadamente pela questão da sustentabilidade da SS. Krugman apenas sugere isso de outra forma: diretamente nos salários! Quanto aos restantes «fatores de produção» - que tb abordo no texto – estamos – como verás – inteiramente reféns das nossas circunstâncias, das políticas que seguimos e dos contratos que assinámos. E não vejo músculo político suficiente para o contrariar e alterar isto de forma significativa, como o recente caso do pagamento das portagens de agosto à Lusoponte o demonstra. Resultado: quem vai pagar isto é o trabalho até ao limite que será traçado por nós próprios enquanto povo…