Deixei por esquecimento dois objectos de uso corrente pouco volumosos e pouco pesados numa casa de férias. Os dois objectos custam 11 ou 12€. Foram-me reenviados por encomenda postal, via CTT, com um custo de 4,75€, a que acresceu um pacote almofadado por, creio, 0,80€. Ou seja, o transporte e a embalagem de dois objectos custaram o preço de um deles.
Fui levantar a encomenda à minha estação de correios que fica a mais de 250m de minha casa! Tinha uma estação a 50 metros que foi há meses encerrada. A estação a que actualmente pertenço tem invariavelmente filas e uma significativa demora. Ao ponto de ter passado a enviar as encomendas que recebo por via postal para a morada de um familiar próximo que está quase sempre em casa.
As estações de correio hoje, além de produtos postais próprios e alheios, também vendem livros, telemóveis e outros objectos, e até lotaria. Não diria que são bricabraques ou lojas chinesas mas já estiveram mais longe disso. Pior, o pessoal que lá trabalha chega-nos a oferecer produtos que não pedimos! Já me ofereceram lotaria!? O atendimento deixou de ser pessoal. Passou a ser o produto de uma linha de montagem de pseudo-comportamentos estandardizados tidos por adequados. Ser atendido por um ou ser atendido por outro é literalmente igual.
Por último, o serviço de entrega é cada vez pior. O carteiro de anos acabou. Hoje não há sequer carteiros, há sim trabalhadores dos CTT ou subcontratados que mudam com enorme frequência e distribuem correspondência a um ritmo vertiginoso. A letra dos avisos é cada vez pior. A correspondência entregue nos endereços indevidos idem. Profissionalmente, a experiência que tenho também não é boa. Mas fiquemo-nos pela pessoal.
Tudo isto para dizer que, com este cenário, e como cidadão e utente, é-me indiferente que os CTT sejam ou não privatizados. Simplesmente porque já não reconheço os CTT como um serviço do Estado. É, sim, um serviço público prestado por uma empresa, igual às outras, mas que por acaso é propriedade do Estado.
Os CTT, tal como outras empresas públicas e infelizmente até já muitos organismos do Estado, não são hoje verdadeiramente serviços públicos. São serviços prestados ao público pelo Estado, o que é coisa diferente. O Estado elegeu o modelo de gestão empresarial, puro e duro, visando o lucro, como sendo bom também para si. Nas suas práticas, passou apenas a tentar copiar as empresas, não percebendo que são coisas diferentes. Esse comportamento encerra, em si mesmo, o gérmen do seu próprio fim.
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