Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, abril 24, 2009

Lutas desiguais

Acabo de ler esta notícia que me deixou simultaneamente animado e perturbado:
“Violência doméstica: Governo lança três "projectos inovadores" para apoiar vítimas e controlar agressores
24 de Abril de 2009, 19:37
Coimbra, 24 Abr (Lusa) - Três projectos de combate à violência doméstica, para controlo dos agressores e de apoio às vítimas, com o valor de 1,5 milhão de euros, foram anunciados hoje em Coimbra numa sessão com três membros do Governo.
Um dos programas prevê a vigilância electrónica de agressores em casos de violência doméstica e vai decorrer entre 2009 e 2012 em zonas das regiões Norte e Centro, podendo vir a ser alargado a todo o país.
Vai permitir a fiscalização do agressor através de uma pulseira que emite sinais de rádio frequência enquanto a vítima possui em sua casa uma unidade de monitorização, visando possibilitar alertá-la a ela e às autoridades da proximidade de uma agressão iminente.”
Fim da Notícia.
Mais uma vez louvo o esforço do Governo numa luta que devia ser de todos nós.
Como nos podemos intitular sociedade desenvolvida e civilizada quando convivemos com a crescente violência que é exercida em muitos dos lares do nosso país ?
Apologista da não violência, custa-me a aceitar toda e qualquer forma de opressão. Mais ainda quando ela é perpetuada de forma cobarde, por um qualquer pequeno tirano, que utilizando a sua vantagem em termos de força bruta, fragiliza até uma dimensão que não consigo imaginar, pobres vítimas que pouco ou nada conseguem fazer, sofrendo em silêncio.
Nesta constante luta desigual, fico contente por o Governo continuar a dar sinais de que pretende ajudar conforme pode, as vítimas deste flagelo, maioritariamente mulheres.
Perturbado mas ao mesmo tempo animado, irei procurar formas de ajudar as vítimas, talvez indirectamente, através das associações que apoiam as vítimas da violência doméstica.

5 comentários:

Mário de Jesus disse...

Umas notas sobre o assunto. A violência doméstica é praticada também sobre os idosos (e muito de filhos para pais paradoxalmente).

Não é um fenómeno apenas das classes mais desfavorecidas nem das zonas rurais. Antes ocorre em grande escala nos pólos urbanos e entre familias das classes média alta e alta.

Uma das formas de violência mais comum é a indiferença...

A sociedade moderna vive hoje um grau preocupante de desequilibrios e de alienações que afectam a humanidade (o verbo "ser" humano).

MJS disse...

Fiz voluntariado na APAV entre 1999 e 2002. Assisti de perto a este flagelo. Conheci mulheres vítimas das maiores atrocidades. Aos 24 anos, quando tive ali a minha primeira intervenção percebi que o ser humano era capaz de tudo. Já nada me espanta. Senti-me impotente! Digo-vos, é horrível. Lamento que volvidos 10 anos pouco se tenha feito para apoiar estas vítimas. Ainda há muito para se fazer neste combate, onde quase tudo falha. Sei do que falo. Profissionalmente estou em condições para o afirmar. Ainda hoje mantenho contactos com algumas das vítimas que conheci na APAV, aquelas que com apoio familiar e mesmo de alguns dos voluntarios conseguiram recostruir as suas vidas e educam os seus filhos com amor e carinho; e também aquelas que infelizmente acabaram muito mal, sobretudo as que sofreram a violência psicológica, a que não se vê e que mata aos bocadinhos.

Mário de Jesus disse...

Este é um excelente (e importante tema) para debate e trabalho no FRES.

Otavio Rebelo disse...

Mário, a violência doméstica é como referes ujm fenómeno amplo, quer nas vítimas quer nas classes sociais onde se verifica. Sem dúvida que merece a reflexão e o contributo do FRES para de algum modo "minimizar" este flagelo como a Maria João indicou. Fiquei impressionado pelas palavras da Maria João pois uma coisa é acompanharmos as notícias nos jornais e televisão. Onde bem pior e mais dificil é conviver directamente com as vítimas destes horrores. Por vezes também dúvido até que ponto terei vontade, disponibilidade ou capacidade de contribuir de forma mais directa como a Maria João fez. Mesmo que não tenha essa capacidade, haverá certamente formas de eu ( e também muitos fresianos ) de contribuirmos de outras formas; reforçando os alertas para esta situação, fazendo análises e reflexões que facilitem os que podem tomar decisões que ajudem as vítimas e ajudando directa ou indirectamente as associações que apoiam as vítimas da violência doméstica. SE como diz a Maria João em 10 anos pouco se alterou o cenário, talvez pudéssemos fazer algo para nos próximos 10 anos muito se alterar de forma positiva. O que não poderemos fazer é manter uma atitude de indiferença, essa não é a postura do FRES.

Efeito Cris disse...

Olá amigos,

É com gosto que venho ao v/ Blog, que quase diariamente nos faz pensar em temas desde os mais megalómanos até aos de nível regional ou de determinadas MicroTendências. Aliás por falar nisto deixo-vos uma dica de leitura
"75 Microtendências", por E. Kinney Zalesne Mark J. Penn, da Lua de Papel. Como não sabia os autores, ao fazer a pesquisa encontrei o Portal do Empreendedor - interessante!

Mas comentando directamente este post "Lutas Desiguais"...o que dizer, é um tema tão intenso, com raízes que quase afirmo "culturais", não vejo que seja uma "tendências" que acabe a curto prazo.

Quando era bem mais nova, quase há dez anos - fiz um curso de Igualdade de Oportunidade e os formadores (3) que tivemos trabalham na APAV e um deles ainda fazia voluntariado num Lar que acolhia mulheres vitimizadas pelos meus companheiros.

Mais tarde trabalhei para a CMVFXira, com idosos e a realidade que o Mário comenta é tão ou mais preocupante ainda! São inúmeros os idosos que vivem em condições deprimentes e aqueles que supostamente têm a sorte de terem familías que os acolhemm, esses cenários facilmente se tornam de violência, abandoso e desprezo/indiferença.

Mesmo com a Paula, chegamos a comentar isso, é preocupante - a nossa sociedade nao tem uma cultura de valorização do idoso - este mesmo capaz e activo intelectual e fisicamente, fica desprezado e sem soluções para ocupar o seu dia e partilhar algo com outros.

Este fim-de-semana, mais precisamente no Sábado à tarde, estive no Saldanha Residence, foi impressionante a quantidade de "seniores", alguns talvez com pouco mais de 55/60anos que estavam sozinhos, a ler, a desenhar, a escrever...espalhados pelas mesas do shopping - um shopping que mal conhecia, mas que se torna calmo e até agradável para estar por lá a ler, e assim estavam eles e uma quantidade também que faz pensar de sem-abrigo!

Para terminar, em 2007 estive no Encontro Anual da Amnistia Internacional (AI), onde este assunto foi muito debatido, infelizmente chegou-se a uma conclusão triste e deverás preocupante. Apesar de estarmos na presença de agentes da autoridade - PSP - que têm um Gabinete (supostamente) especializado para o atendimento às vitimas. Como podem consultar http://www.psp.pt/Pages/programasespeciais/violenciadomestica.aspx

Mas falando da conclusão, a AI concluí com muitas mulheres vítimas de abusos e violência, que fugiram, que denunciaram e que posteriormente foram viver para lares, depararam-se como abusos por parte de agentes e de outras figuras masculinas que coordenavam determinados programas de apoio.

Acho que esse é um ponto fulcral para qualquer debate sobre este flagelo!