Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

terça-feira, março 10, 2009

CRISE ESTRUTURANTE

Que estamos mergulhados numa crise económica não é novidade para ninguém.
Agora o interessante é escrutinar quando passará esta crise.

No ano de 2007 ouvíamos dizer que esse seria um ano mau e que o próximo provavelmente não seria melhor, e na realidade não foi.
Em 2008 ouvimos dizer que esse seria um ano mau e que o próximo provavelmente não seria melhor, e na realidade não parece estar a ser.
Em 2009 ouvimos dizer que este será mais um ano mau e que 2010 provavelmente não será melhor.
Para além deste recorrente e brilhante vaticínio de muitos analistas ( economistas e não economistas ), de que este será um ano mau e o próximo não parece vir a ser melhor, pouco se tem ouvido ou lido de interessante ou relevante.
A verdade é que os anos vão passando e o discurso das perspectivas de saída da crise ou de crescimento económico, pouco se alteram.
Habituados a ciclos económicos de períodos curtos onde se alternavam cíclica e regularmente os bons e os maus anos económicos, estamos nos dias de hoje perante realidades tendencialmente diferentes.
Já não é líquido que a crise seja conjuntural. Arrastando-se por demasiados anos é mais provável que ela se torne estrutural. Mas o que de certeza esta prolongada crise está a ser é uma crise estruturante.
Durante muitos anos os sistemas económicos e financeiros viveram na ilusão de que o dinheiro circularia sempre com grande fluidez. O crédito parecia ser um recurso inesgotável mas não era e não o está a ser agora.
Quer para empresas, quer para particulares, a concessão de crédito tornou-se muito mais rigorosa e difícil. Os bancos alegam que os critérios de rigor são maiores e de facto são. Mas também não é menos verdade que eles próprios têm ( muito ) menos liquidez para emprestar às empresas e aos particulares.
Tornando-se a escassez de dinheiro uma dura realidade, forçosamente temos alteração de comportamentos das empresas e dos particulares, ou seja, há todo um novo redimensionar de prioridades, e toda uma nova reconstrução das estruturas das vidas das empresas e particulares.
Uma das características imediatas é a forte diminuição do consumo. Dirão muitos que isso não é bom porque o consumo equivale à procura e é a procura de bens e serviços que estimula a economia. Pois é, só que ao olharem para os seus bolsos, nem empresas nem famílias têm dinheiro para “fazerem flores”. A hora é de aperto e sobrevivência. A prolongada crise tornou-se de facto estruturante e teremos de ser criativos para conseguirmos ultrapassá-la.
Não acontecerá neste ano ou no próximo. Poderá até levar anos a ultrapassá-la.
No limite estaremos no inicio de uma nova era onde as novas regras a que estamos a ser habituados a viver, não serão regras temporárias.
Elas poderão vigorar por muitos anos pelo que não vale a pena estarmos sentados à espera que aconteçam milagres.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não podia ir embora, depois de uma leitura mesmo que "atravessada", sem antes deixar um rasgado elogio a toda a equipa do FRES. Bem-hajam e continuem. Eu serei leitora assídua a partir de hoje.

Cecília Santos disse...

Excelente reflexão.
Importa tirar ilações desta crise.

Em primeiro lugar, nada será como dantes em termos do custo do crédito (do dinheiro)acredita-se. Lembremo-nos que vivemos no passado recente um clima de verdadeira ilusão com a concorrência no plano bancário a praticar e alimentar essa mesma ilusão.

Por outro lado verificamos agora e percebemos como durante muito tempo se viveu a gastar mais do que se tinha e mais do que se poupava, sempre de forma galopante.

Apenas dois exemplos do que não será a nova era.