Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, março 01, 2009

69999

Sessenta e nove mil novecentos e noventa e nove.
Sendo um número consideravelmente grande o que quererá dizer?

Esta semana ficamos a conhecer que inscreveram-se nos centros de emprego e durante o mês de Janeiro deste ano 70000 novos desempregados.
Naturalmente ficamos impressionados e chocados com a dimensão do número de novos desempregados.
Eu contribuí para esse número pois fui um dos 70000 novos desempregados que se inscreveram nos centros de emprego.
Mas se é certo que me inscrevi no dia 2 de Janeiro, também é verdade que menos de 15 dias depois já estava a trabalhar noutra empresa pelo que o meu caso já não é o de um dos 70000 citados. Se a esse número subtrairmos o meu caso que no mesmo mês de Janeiro encontrei um novo emprego, teríamos então, não 70000 mas sim 69999 novos desempregados.
Acredito que o meu caso foi em parte uma questão de sorte. Desejo sinceramente que muitos desses outros 69999 colegas de infortúnio, tenham também sorte em breve.
Mas o meu caso não foi só de sorte. Trata-se de uma adaptação à realidade.
Saí por minha iniciativa da empresa onde trabalhei anteriormente durante cerca de 14 anos.
Saí numa altura de crise em que praticamente todos consideraram a minha decisão quase um “acto de loucura”. E de facto, em parte foi. Tenho 41 anos e já estou numa altura da vida em que muitas portas se fecham no mercado de trabalho.
Não deixa de ser um contra-senso. As empresas necessitam de profissionais competentes, qualificados, experientes, sérios, responsáveis e algumas destas qualidades só se adquirem com alguns anos de experiência. O certo é que tendo ou não muita experiência, sendo ou não um candidato com elevado valor profissional, esses factores são ignorados ou substituídos pelo factor idade.
Felizmente não foi esse o meu caso. Aceitei a primeira oferta que me surgiu pois o meu principal interesse é trabalhar. Outras oportunidades de emprego surgiram, inclusive vinda do Centro de Emprego mas que tive de declinar pois cruzou-se com a minha informação ao Centro de Emprego de que já estava a trabalhar. Mas fiquei agradavelmente surpreendido pois nas notícias que vemos na televisão, temos só casos de pessoas que se inscrevem e não são chamadas para ofertas de emprego.

Não creio que o meu seja só um caso de sorte ou de sucesso. Trata-se antes de um caso de adaptação onde se aceita novos desafios a todos níveis, de funções, remuneratórios, etc.
Aqui ressalta-me também um dado curioso. Alguns desempregados ao ser entrevistados perguntam “ Quem é que vai dar-me emprego para o nível de qualificações elevado que eu possuo ? “. Julgo que aqui reside um erro dos desempregados. O mercado nem sempre pode oferecer-nos trabalho de acordo com as nossas qualificações máximas. Será então altura de ter alguma dose de humildade e aceitar funções eventualmente menos qualificadas.
Trabalhar de forma séria e honesta nunca será desonra para ninguém.
Também existe o caso de muitos desempregados que não aceitam trabalhos em que ganhem menos do que estão a receber do subsídio de desemprego.
O mundo do desemprego e dos desempregados tem pano para mangas, sendo difícil ouvirmos falar das questões verdadeiramente importantes. Estão todos descansados se o desemprego estiver nos 7,8% e preocupados se subir para 8,1%, esquecendo-se que em qualquer dos casos estamos a falar de milhares de famílias que estão a enfrentar situações muito difíceis.

1 comentário:

Mário de Jesus disse...

Excelente Otávio.

Retrato frio mas sério, verdadeiro e honesto da situação do desemprego no país. Todos os problemas que afloras são de facto verdadeiros.

Pena é que entre aqueles que, desiludidos por não encontrarem emprego nem ofertas do mesmo há muito tempo, desistindo de manter a procura, simplesmente são abatidos do grupo de desempregados, ou seja, são abatidos à população activa!!

O que dizer disto? Que soluções? Creio que será aqui que o governo deverá investir toda a sua energia naquilo que se chama os verdadeiros apoios à economia real, i.e. motivar e incentivar, premiando, as empresas a criarem empregos.

O país precisa, as familias precisam, o povo agradece. Todos ganham.