Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, junho 13, 2008

Dia Não

A Irlanda, único país da União Europeia que fez um referendo ao Tratado de Lisboa, votou não ao tratado.

Este acontecimento merece múltiplas abordagens. Tentarei aqui focar algumas.

A Europa quer ( e precisa de ) andar para a frente. No entanto o consenso entre os europeus não está fácil de alcançar. Impressiono-me com o poder do não irlandês. Um projecto tão abrangente e com implicações em centenas de milhões de europeus pode, pelos vistos, ser posto em causa por uma minoria de pouco mais de 3 Milhões de eleitores. Aqui está mais um ponto interessante pois desses 3 Milhões de eleitores apenas cerca de 40% votaram. Como é que uma votação democrática, que nem tem 50% dos votantes pode ter uma força tão grande ? São as virtudes da democracia.

Por outro lado é super interessante ler o que pensaram e disseram muitos Irlandeses a propósito do referendo ao Tratado de Lisboa.

"Ninguém me explicou do que se trata, para que eu, o comum dos mortais, possa perceber o que é o tratado", diz Jason Hills, que acabou por votar contra naquele que é o único referendo em 27 Estados membros da União Europeia.”

“Na mesma linha, Maria Duggan, que tentou ler o documento, brinca, à porta da assembleia de voto, que "eles lá em Bruxelas devem ter um tradutor de japonês muito mau, aquela coisa é impossível de ler!".

Quando se fala da construção europeia, falamos da construção da nossa Europa, local onde todos os cidadãos-membros da União Europeia residem e trabalham. No entanto, atendendo a estas 2 representativas opiniões, ficamos mais uma vez com a opinião de que há mesmo 2 Europas: a nossa Europa e a Europa deles. A Europa deles aqui é entendida como a Europa dos políticos europeus que devem de uma vez por todas tentar explicar aos seus povos, o que andam a fazer. Se pode ser mau haver um não ao tratado de Lisboa, haver um não porque não foi explicado aos eleitores o que é o tratado, parece-me mau demais.
Mas a ignorância sobre o tratado em que votaram não foi um problema para todos. John Edwards, que interrompeu o trabalho para ir votar, escuda-se na "confiança no Governo" para se decidir "pelo 'Sim'". E justifica que "não cabe ao cidadão comum perceber todos pormenores sobre um tratado. Já votei neles, se me dizem que é o melhor, então voto sim a Lisboa".

Com maior ou menor ignorância, a verdade é que o não vingou.

O Presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, antecipou-se e fez uma declaração em Bruxelas dizendo que o chumbo irlandês é um resultado que deve ser assumido por todos os países membros da união e não apenas pela Irlanda.
«Este voto não deve ser encarado como um voto contra a União Europeia», sublinhou Durão barroso. «Acredito que a Irlanda continua empenhada em construir uma Europa forte e em ter um papel activo na UE».
Pois é a Irlanda até pode continuar empenhada em construir uma Europa forte mas os Irlandeses não, pelo menos a maioria dos cerca de 40% que votaram.
A União Europeia vai debater este assunto na próxima segunda-feira. Aguardemos pelas “cenas dos próximos capítulos”.

4 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Peço desculpas a todos pois os dados iniciais da votação Irlandesa que eu tinha quando escrevi o artigo não estavam correctos. Os dados correctos li agora e são " Os irlandeses chumbaram em referendo o Tratado de Lisboa. O “não” recolheu 53,4 por cento dos votos, o “sim” 46,6. A taxa de afluência foi de pouco mais 53 por cento. Os resultados finais foram anunciados ao fim da tarde."

Anónimo disse...

Para avaliar o veto da Irlanda seria interessante saber o que é que a Irlanda fez pela Europa ou...pelo Mundo!

Dado que não lhe reconheço nenhum mérito, salvo as ajudas á independncia da Escócia, e uns Whiskys, apetece-me perguntar quem é que lhes deu direito de veto?


Já que têm esse poder, o que é que pretendem com o "NÃO"?...Este aspecto é crucial, dado que as consequências não são, de todo, nulas!


Quem passeia pelo mundo apenas a observá-lo, sem fazer nada por ele não lhe dá o devido valor!

Se estiver enganado sobre a Irlanda, solcito e agradeço os respectivos esclarecimentos!

Mário de Jesus disse...

Concordo com o comentário deste nosso amigo anónimo que gostaria de ver identificado.

De facto, em primeiro lugar faz-me uma certa confusão e levanta-se-me a dúvida se é legítimo recusar o trabalho ou um documento subscrito por 26 de 27 estados (não quer dizer que seja já o caso mas pelo menos 18 estados assinaram favorávelmente). Isto é uma espécie de democracia estranha.

Por outro lado, a Irlanda foi um dos estados membros que mais fundos comunitários usufruíu ao longo dos últimos 20 anos. Pergunta-se: o que pretende agora desta europa que tanto lhe deu? O que almeja com o seu NÃO? Qual é a alternativa que apresenta?

Como diz o nosso amigo anónimo referindo-se ao Wiskey, estaria esta amostra sob o efeito do mesmo?

O que é facto é que nos corredores de Bruxelas, entre as pessoas mais sérias e dedicadas que por lá passam, tal resultado não deixa de provocar esta estranheza.

Quinta feira se saberá o que se segue.

Anónimo disse...

Se o voto "não" da maioria Irlandesa que foi às urnas se baseou na ignorância do conteudo do Tratado de Lisboa, conforme tem sido veiculado na imprensa, iremos observar mais um exemplo das consequências de dar poder a irresponsáveis.