Num mês de Maio muito incaracterístico em termos atmosféricos, vai iniciar-se este sábado, a 78ª Feira do Livro de Lisboa, que se prolongará até ao próximo dia 15 de Junho.
Dados sobre esta feira podem ser consultados em
http://www.feiradolivrodelisboa.pt/
Com tantas décadas de existência, a Feira do Livro de Lisboa já atravessou, naturalmente, bons e maus momentos.
Este ano temos a polémica inicial motivada pela pretensão do Grupo Editorial LEYA, de estar presente na feira com pavilhões diferentes e supostamente mais funcionais, permitindo uma melhor aproximação do público aos livros. Esta pretensão foi fortemente contestada pelos outros editores e livreiros presentes na feira, que defendiam que a feira deveria manter o seu traço característico de existência de pavilhões uniformes, embora já antigos e talvez um pouco desajustados.
Na edição desta noite do Jornal Nacional da TVI, o comentador Vasco Pulido Valente, analisou esta polémica, afirmando que o nosso povo mais do que a liberdade, preza a igualdade, mesmo quando os nivelamentos são feitos por uma bitola mais baixa. Só assim se justificaria a rejeição da inovação e ousadia que o grupo Leya vai trazer à Feira. Só assim se justifica também, o constante medo de mudança que norteia o nosso pensamento e as nossas acções. Segundo Vasco Pulido Valente, com esta mentalidade igualitária e de “guerra” a tudo o que é novidade, não podemos ambicionar a ter uma vida melhor e um país melhor.
Não posso deixar de concordar com estas análises. Julgo que temos sido muito prejudicados por existir um elevado número de pessoas que não fazem e não deixam fazer. Esta constante luta e oposição à criatividade e inovação, muitas vezes moldada por uma forte inveja de quem não se sente capaz de fazer igual ou melhor, tem sido um travão ao nosso desenvolvimento.
Quem tem o mérito de (em qualquer área) querer fazer mais e melhor, deve ser apoiado. Devem ser-lhes dadas condições ou pelo menos, não lhe serem criadas barreiras, para que as suas ideias positivas floresçam trazendo benefícios a toda a comunidade.
Não acredito que só os melhores devam existir. Julgo que todos fazemos falta. Os menos bons e os melhores. Curiosamente os melhores só são melhores, porque existe alguém menos bom do que eles em determinado momento.
Temos aqui duas situações típicas: os melhores que se eternizam no pódio, ofuscando por completo a existência dos outros e a alternância dos lugares do pódio, movida por uma sã concorrência que proporciona uma rotatividade no protagonismo. Como não gosto da receita “mais do mesmo”, sou adepto da segunda situação. Hoje é o Grupo de Paes do Amaral a tomar a dianteira na ousadia de fazer coisas diferentes. Será bom que nas próximas edições, outros editores e livreiros tenham outras ideias inovadoras de forma a tornar ainda mais agradável um acontecimento que por si só já é uma festa.
Termino esta pequena reflexão com votos de boa feira a todos, seja em Lisboa, Porto ou em qualquer outro ponto do país.
Dados sobre esta feira podem ser consultados em
http://www.feiradolivrodelisboa.pt/
Com tantas décadas de existência, a Feira do Livro de Lisboa já atravessou, naturalmente, bons e maus momentos.
Este ano temos a polémica inicial motivada pela pretensão do Grupo Editorial LEYA, de estar presente na feira com pavilhões diferentes e supostamente mais funcionais, permitindo uma melhor aproximação do público aos livros. Esta pretensão foi fortemente contestada pelos outros editores e livreiros presentes na feira, que defendiam que a feira deveria manter o seu traço característico de existência de pavilhões uniformes, embora já antigos e talvez um pouco desajustados.
Na edição desta noite do Jornal Nacional da TVI, o comentador Vasco Pulido Valente, analisou esta polémica, afirmando que o nosso povo mais do que a liberdade, preza a igualdade, mesmo quando os nivelamentos são feitos por uma bitola mais baixa. Só assim se justificaria a rejeição da inovação e ousadia que o grupo Leya vai trazer à Feira. Só assim se justifica também, o constante medo de mudança que norteia o nosso pensamento e as nossas acções. Segundo Vasco Pulido Valente, com esta mentalidade igualitária e de “guerra” a tudo o que é novidade, não podemos ambicionar a ter uma vida melhor e um país melhor.
Não posso deixar de concordar com estas análises. Julgo que temos sido muito prejudicados por existir um elevado número de pessoas que não fazem e não deixam fazer. Esta constante luta e oposição à criatividade e inovação, muitas vezes moldada por uma forte inveja de quem não se sente capaz de fazer igual ou melhor, tem sido um travão ao nosso desenvolvimento.
Quem tem o mérito de (em qualquer área) querer fazer mais e melhor, deve ser apoiado. Devem ser-lhes dadas condições ou pelo menos, não lhe serem criadas barreiras, para que as suas ideias positivas floresçam trazendo benefícios a toda a comunidade.
Não acredito que só os melhores devam existir. Julgo que todos fazemos falta. Os menos bons e os melhores. Curiosamente os melhores só são melhores, porque existe alguém menos bom do que eles em determinado momento.
Temos aqui duas situações típicas: os melhores que se eternizam no pódio, ofuscando por completo a existência dos outros e a alternância dos lugares do pódio, movida por uma sã concorrência que proporciona uma rotatividade no protagonismo. Como não gosto da receita “mais do mesmo”, sou adepto da segunda situação. Hoje é o Grupo de Paes do Amaral a tomar a dianteira na ousadia de fazer coisas diferentes. Será bom que nas próximas edições, outros editores e livreiros tenham outras ideias inovadoras de forma a tornar ainda mais agradável um acontecimento que por si só já é uma festa.
Termino esta pequena reflexão com votos de boa feira a todos, seja em Lisboa, Porto ou em qualquer outro ponto do país.
3 comentários:
Independentemente de achar ou não da justeza de princípio da posição de VPV sobre a espécie de miserável anátema que se abate sobre o nosso país (que não se desenvolve por causa do povo gostar da igualdade e não da liberdade), não posso deixar de dizer que ela é, no mínimo, estranha e de mau gosto. É que só podem estar a brincar quando desde 5ª feira se tem dito que Portugal é dos 27 países da UE aquele que apresenta maiores índices de disigualdade. Então mais desigualdade é então melhor? Devem estar a brincar. Se o "povo" gosta de igualdade é porque talvez sinta na pele o tratamento desigual que as estatísticas revelam.
Caros participantes deste espaço público,
Sobre a Feira do Livro, o que lamento profundamente é que a discussão tenha sido em torno do factor diferenciador que designam por “inovação do aspecto” versus “aspecto tradicional”. Eu fiquei sem saber realmente do que se tratava, não tive oportunidade. A discussão não foi em termos de n.º de expositores, área de exposição, temas expostos, interesse do público, variação de visitantes, datas de actividade, período da feira, etc.!...
Como visitante da feira fico com a sensação de que perdi algo!
Quanto à reacção dos demais livreiros à inovação proposta por um deles, eu entendo-a perfeitamente e acho-a legitima. Qualquer entidade, não tendo actuado antecipadamente, prevendo estar na eminência de ir perder uma batalha deve actuar! Foi o que fizeram com sucesso, parabéns para os vencedores.
O Juiz, deste caso, adoptou a opinião e a força da maioria que se pronunciou. Ficou por saber se a amostra que produziu e apresentou opinião era representativa da opinião dos potenciais interessados (entidades presentes, visitantes, e potenciais visitantes)?
O assunto resume-se a uma batalha comercial ganha pelos conservadores representados, coisa normal, nas actividades comerciais. Assim, a extrapolação realizada sobre este tema para a “igualdade <> liberdade” é um exagero que não tem fundamento neste contexto.
Nuno Maia
Caro Otávio
Fazes já jurisprudência pela forma como discursas e escreves sobre assuntos mundanos. Para mim, ao ler estas linhas é absolutamente extraordinário como transportas a questão e temática da "batalha da feira" - tema ligado ao conhecimento e cultura - às questões da inovação.
De facto este é um exemplo que revela e releva a estrutura mental de muitos portugueses: a resistência à mudança e a tudo o que é novo e rompe com o tradicional. Talvez por isso sejamos sempre e só, apenas, um país típico, tradicional, por outras palavras da sardinha e do carapau, do galo de Barcelos ou da caneca das Caldas. Não vejo nenhum mal nisso, Apenas digo que é pouco e não basta, pois gosto igualmente muito da sardinha e do carapau, mas também gosto de lacosta ou garoupa, cherne ou entrecote.
Este exemplo da feira é o exemplo que colhe a realidade do que se passa em muitas outras "feiras".
Não foi à toa, e hoje compreendo melhor do que nunca, que aquele grande poeta português de tempos idos nos trouxe à lembrança o "velho do Restelo". Lembras-te do que ele simbolizava? lembramo-nos todos do que ele simbolizava? Ou o que escreveu Pessoa sobre a inveja dos portugueses, este no início do século XX. Lamentavelmente assistimos hoje, muitos anos depois, a um Portugal cujos cidadãos na sua maioria revelam uma estrutura mental muito igual à dos tempos de Camões ou de Fernando Pessoa.
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