Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, março 29, 2008

Miopia internacional das PME - O caso Português

No âmbito da actividade profissional que tenho desenvolvido quer como consultor quer como formador nas áreas de comércio internacional tenho vindo a constatar que ainda existem grupos de empresários de PME que continuam com a chamada doença "miopia internacional".

Doença esta que no âmbito dos estudos consagrados a internacionalização ainda afecta muito
alguns sectores de actividade em Portugal. Quais são os sintomas dessa doença? Vejamos:

- Estratégia de exportação definida pelo lado da oferta e não pelo lado da procura
Exemplo de discurso: tenho um bom produto e a um bom preço............mas sem estudar a concorrência directa e indirecta no plano global de produtos semelhantes e alternativos existentes em outros mercados.

- Aquele meu amigo que tem a empresa A está a exportar para o País X ou Y logo eu também vou exportar e ser bem sucedido nesses mercados.

- O mercado Português está estagnado e aqui não vendo nada logo é melhor fazer as malas e ir a procura de mercados sem uma estratégia definida. Há uns tipos que dizem que o que está a dar é os PALOP, outros que falam na Europa Central e de Leste onde as míudas são giras..... Porque não ir até aos PALOP, pois, eu até conheço bem Angola,pois, o meu bisavô fez lá a tropa...........

- Há uns tipos nesses mercados que me querem comprar uns produtos......eu fui lá para vender o que fabrico que são produtos têxteis mas isso eles já lá tinham então conheci uns distribuidores que me pediram se lhes arranjava vinho. Pensei cá para os meus botões eu tenho uma amigo da Adega Cooperativa que quer exportar, pois, ele não consegue entrar com os vinhos deles nas grandes superficies pois o produto tem que ser referenciado logo sugeri-lhe para irmos vender o vinho deles nesses mercados onde estive........vou perguntar quantas caixas leva um contentor de 20 FCL de tinto do bom.......e mandar umas amostras com rótulo de portugal,pois, agora é só para eles verem o produto. depois logo se vê o que vai dar...já me estava a esquecer........essa empresa que quer comprar é um importador/distribuidor de relevo nesses mercados? quais os termos de pagamento a praticar? quais os termos de entrega? custos de logistica? quais são? custos de adaptação de embalagem foram feito? o meu amigo também me disse que isso agora não é relevante......isto é como vender a porta da fábrica - o Lado da oferta é que manda.......e o meu amigo vai 1 semana num ano a um desses mercados logo tem um elevado conhecimento desses mercados. Para que tanta interrogação sobre como efectuar as transacções internacionais? é uma perda de tempo!

2 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Prezado Alfredo,

Obrigado por uma vez mais nos trazeres de uma forma clara, exemplos reais do que ( não ) está a ser feito em termos de comércio internacional. O valor das tuas observações sai largamente reforçado pelo facto de não se tratarem de casos isolados mas de uma realidade constante. Exigimos que os profissionais de Hotelaria, Saúde, Indústria, etc, frequentem escolas de formação para que nos deêm garantias de um bom trabalho profissional. Penso que na mesma linha de pensamento deveríamos pensar na necessidade de criação de uma escola de empresários. Essa escola teria utilidade a diversos níveis, tanto no plano nacional como internacional. Orgulhamos de ser um dos países do mundo onde é mais rápido e fácil a criação de uma empresa, exibindo com orgulho o programa empresa na hora. Falta reflectir sobre o lado lado da realidade: quantas dessas empresas criadas na hora, não entram rápidamente em declínio, entrando numa lenta agonia que as leva à sua extinção. O exemplo da miopia internacional reflecte claramente alguns dos motivos dessa realidade. Parabéns por mais este excelente contributo.

Otavio

Mário de Jesus disse...

Caro Alfredo

Já conheço a temática e o sentido das tuas opiniões. Este artigo é por isso ultra-relevante pelo tema em si. MAs sabe-me a pouco! Isto é, dadas as tuas posições e conhecimentos e a valiossíssima proposta do Otávio sobre uma escola específica de formação para empresários num determinado estado de maturidade dos seus negócios mas com necessidades de formação na etapa seguinte - a internacionalização - eu proponho já aqui que ambos efectuem um artigo ou paper em conjunto, mais profundo com estas vossas propostas. Creio que o mercado de empresários será um alvo essencial para estas propostas. Artigo assim seria imediatamnet publicável.
Este tema merece na minha opinião ser largamente aprofundado.

Grande abraço