(artigo publicado no Vida Económica)
Não é novo o conceito económico do microcrédito. Nasceu no Bangladesh há quase duas décadas pela inspiração e determinação de Muhammad Yunus, então professor de economia na Universidade de Chittagong.
Tratando-se de uma abordagem diferente do conceito de crédito bancário, é criado e desenvolvido numa óptica inversa à filosofia tradicional das práticas bancárias. Dirigido aos pobres e mais desfavorecidos como os desempregados, desocupados e, fundamentalmente, às mulheres, uma vez que nas sociedades tradicionais sempre foram elas as responsáveis pela gestão dos meios de subsistência da família, procurou sempre servir pessoas que, apesar de não apresentarem qualificações suficientes para se enquadrarem no mercado competitivo de trabalho, nalguns casos porque nunca lhes foi dada essa oportunidade, possuem no entanto talentos, saberes, aptidões ou conhecimentos que lhes permita desenvolver uma actividade produtiva em pequena escala quer a título individual quer colectivo.
Actualmente, este conceito está reproduzido em todos os continentes e por mais de 60 países tanto do mundo desenvolvido como em vias de desenvolvimento. Exemplo próximo da realidade portuguesa é a existência da Associação Nacional de Direito ao Crédito, entidade que desenvolve no nosso país programas de microcrédito para os mais desfavorecidos, apoiando financeiramente pessoas com ideias, tornando assim viáveis pequenos projectos de pessoas talentosas e permitindo-lhes desenvolver uma actividade económica de forma digna, introduzindo essas pessoas no sistema económico, que de outra forma estariam em situação de marginalização.
Para além de representar uma diferente filosofia relativa ao crédito, um outro principio está inerente à actividade do microcrédito, pelo menos entre os seus defensores e praticantes, que é o facto de considerar o acesso ao crédito como um Direito do Homem ( ideia desde sempre defendida por Muhammad Yunus). Este principio está ligado a um outro que defende que a condução da ciência económica deve estar orientada por uma consciência social, uma vez que, segundo a filosofia do microcrédito, o indivíduo não pode ter definido à partida o seu papel económico e social na comunidade onde está inserido, apenas em função da sua condição económica derivada do nascimento. Como ser pobre não é sinónimo de ser incapaz, à ciência económica cabe o papel de “cuidar” daqueles que, por razões diversas, não atingiram um estatuto social suficiente para garantir os seus próprios meios de subsistência sem a ajuda de terceiros. O microcrédito poderá ajudar a cumprir este papel.
A essência deste novo conceito inverte o sentido, sendo mesmo contrário, aos princípios e práticas da actividade bancária tal qual a conhecemos e entendemos nas sociedades ocidentais desenvolvidas e mesmo entre a maioria das sociedades modernas do mundo actual. Porque, como afirmou o professor Yunus, considera que o crédito significa confiança; porque os destinatários do microcrédito não têm condições para oferecer quaisquer tipo de garantias; porque o crescimento, desenvolvimento e internacionalização da actividade bancária tradicional, ocorreu tendo como base uma plataforma de desconfiança entre os intervenientes no negócio, desconfiança essa suprida apenas pela criação de produtos complexos para cobertura de riscos, elevadas contrapartidas e novas formas de garantia dos riscos de crédito.
A prova do sucesso deste conceito é dada pelo próprio Grameen Bank, criado por Yunus no Bangladesh, primeira instituição bancária no mundo a desenvolver os programas do microcrédito, o qual apresenta um nível de reembolso/retorno do crédito concedido, na ordem dos 98%.
É pois possível estabelecer uma ligação e paralelismo entre a prática do microcrédito, no âmbito da actividade bancária, com uma nova cultura empresarial, que se ocupa dos aspectos inerentes à dimensão social das empresas: a Economia de Comunhão.
Este último conceito, assente na cultura do dar e partilhar, conduz a acção das empresas a um novo principio de gestão empresarial, mais solidária, tanto mais que este principio defende a partilha do lucro não só para o crescimento e enriquecimento da própria empresa e dos empresários, mas também pelos indivíduos mais pobres e necessitados da sua comunidade envolvente, na procura de um “homem novo”, capaz de por em prática e divulgar esta filosofia, através da qual as relações económicas e empresariais assentam na reciprocidade e confiança.
A banca e o microcrédito, as empresas e a filosofia de gestão empresarial de partilha, são duas faces da mesma moeda. Ambos os conceitos representam uma nova dimensão social da economia, uma nova direcção para a ciência económica, cujo objectivo é servir o Homem, ainda que de forma racional, mas no entanto mais solidária.
Não é novo o conceito económico do microcrédito. Nasceu no Bangladesh há quase duas décadas pela inspiração e determinação de Muhammad Yunus, então professor de economia na Universidade de Chittagong.
Tratando-se de uma abordagem diferente do conceito de crédito bancário, é criado e desenvolvido numa óptica inversa à filosofia tradicional das práticas bancárias. Dirigido aos pobres e mais desfavorecidos como os desempregados, desocupados e, fundamentalmente, às mulheres, uma vez que nas sociedades tradicionais sempre foram elas as responsáveis pela gestão dos meios de subsistência da família, procurou sempre servir pessoas que, apesar de não apresentarem qualificações suficientes para se enquadrarem no mercado competitivo de trabalho, nalguns casos porque nunca lhes foi dada essa oportunidade, possuem no entanto talentos, saberes, aptidões ou conhecimentos que lhes permita desenvolver uma actividade produtiva em pequena escala quer a título individual quer colectivo.
Actualmente, este conceito está reproduzido em todos os continentes e por mais de 60 países tanto do mundo desenvolvido como em vias de desenvolvimento. Exemplo próximo da realidade portuguesa é a existência da Associação Nacional de Direito ao Crédito, entidade que desenvolve no nosso país programas de microcrédito para os mais desfavorecidos, apoiando financeiramente pessoas com ideias, tornando assim viáveis pequenos projectos de pessoas talentosas e permitindo-lhes desenvolver uma actividade económica de forma digna, introduzindo essas pessoas no sistema económico, que de outra forma estariam em situação de marginalização.
Para além de representar uma diferente filosofia relativa ao crédito, um outro principio está inerente à actividade do microcrédito, pelo menos entre os seus defensores e praticantes, que é o facto de considerar o acesso ao crédito como um Direito do Homem ( ideia desde sempre defendida por Muhammad Yunus). Este principio está ligado a um outro que defende que a condução da ciência económica deve estar orientada por uma consciência social, uma vez que, segundo a filosofia do microcrédito, o indivíduo não pode ter definido à partida o seu papel económico e social na comunidade onde está inserido, apenas em função da sua condição económica derivada do nascimento. Como ser pobre não é sinónimo de ser incapaz, à ciência económica cabe o papel de “cuidar” daqueles que, por razões diversas, não atingiram um estatuto social suficiente para garantir os seus próprios meios de subsistência sem a ajuda de terceiros. O microcrédito poderá ajudar a cumprir este papel.
A essência deste novo conceito inverte o sentido, sendo mesmo contrário, aos princípios e práticas da actividade bancária tal qual a conhecemos e entendemos nas sociedades ocidentais desenvolvidas e mesmo entre a maioria das sociedades modernas do mundo actual. Porque, como afirmou o professor Yunus, considera que o crédito significa confiança; porque os destinatários do microcrédito não têm condições para oferecer quaisquer tipo de garantias; porque o crescimento, desenvolvimento e internacionalização da actividade bancária tradicional, ocorreu tendo como base uma plataforma de desconfiança entre os intervenientes no negócio, desconfiança essa suprida apenas pela criação de produtos complexos para cobertura de riscos, elevadas contrapartidas e novas formas de garantia dos riscos de crédito.
A prova do sucesso deste conceito é dada pelo próprio Grameen Bank, criado por Yunus no Bangladesh, primeira instituição bancária no mundo a desenvolver os programas do microcrédito, o qual apresenta um nível de reembolso/retorno do crédito concedido, na ordem dos 98%.
É pois possível estabelecer uma ligação e paralelismo entre a prática do microcrédito, no âmbito da actividade bancária, com uma nova cultura empresarial, que se ocupa dos aspectos inerentes à dimensão social das empresas: a Economia de Comunhão.
Este último conceito, assente na cultura do dar e partilhar, conduz a acção das empresas a um novo principio de gestão empresarial, mais solidária, tanto mais que este principio defende a partilha do lucro não só para o crescimento e enriquecimento da própria empresa e dos empresários, mas também pelos indivíduos mais pobres e necessitados da sua comunidade envolvente, na procura de um “homem novo”, capaz de por em prática e divulgar esta filosofia, através da qual as relações económicas e empresariais assentam na reciprocidade e confiança.
A banca e o microcrédito, as empresas e a filosofia de gestão empresarial de partilha, são duas faces da mesma moeda. Ambos os conceitos representam uma nova dimensão social da economia, uma nova direcção para a ciência económica, cujo objectivo é servir o Homem, ainda que de forma racional, mas no entanto mais solidária.
1 comentário:
Caro Autor,
Este artigo demonstra bem, como, neste caso, a concessão de microcréditos está interligada á visão a longo prazo de que o desenvolvimento sutentado deve incluir o bem estar das gerações vindouras nas nossas preocupações e acções diárias, das quais gostaria de destacar; o combate sem quartel á pobreza, redução da clivagem social e o fim do saque desenfreado dos nosso recursos naturais.
Excelente trabalho….
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