Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, maio 19, 2006

EDUCAÇÃO E CONHECIMENTO


A propósito do nosso actual tema de reflexão e investigação: a Educação e o Conhecimento, quero adicionar algumas reflexões pessoais como contributo.
Muito se tem falado da educação em Portugal como factor de produtividade, competitividade e desenvolvimento. Acredito sinceramente que sem educação e conhecimento dificilmente uma empresa, organização ou o próprio país, se tornarão competitivos e desenvolvidos. Contudo creio que não bastam apenas bons níveis de educação, formação ou escolaridade. Parte da produtividade resulta de um certo tipo e qualidade das lideranças existentes, dos níveis de motivação das pessoas, da qualidade das próprias organizações no que diz respeito à sua capacidade de estabelecer adequados métodos de trabalho e, acima de tudo, da atitude das pessoas (sendo certo que desta atitude depende obviamente a sua educação e formação).
Em Portugal o problema da educação e do seu impacto no desenvolvimento e crescimento do país, depende de factores mais complexos do que estes, que designaria de carácter mais estrutural. Em primeiro lugar trata-se de um problema cultural. Como afirma Pedro Carneiro, economista, no seu paper “Equality of opportunity and educational achievement in Portugal” já anteriormente dissecado e apresentado ao FRES pela Cecília Santos - a politica educativa terá que ser criativa e inovadora e envolver sempre a escola e a família. É necessário intervir na criança e na família desfavorecida muito antes desta criança chegar à escola, já que existe uma forte associação entre a educação dos pais e aquela que os seus filhos irão ter. Conclui-se também que a desigualdade quanto ao sucesso escolar é, em parte, explicada pelo sucesso educativo vivido pela família – é esclarecedor deste problema cultural.
Como tem sido defendido por muitos que se preocupam com o problema da educação, acredito igualmente que a melhoria do ensino em Portugal só evoluirá quando os programas escolares (incluindo aqui os universitários) forem mais ousados, menos arcaicos, mais virados para as novas tecnologias nos mais diversos campos (informática, design, ambiente, robótica, energias renováveis, medicina, saúde, marketing, marcas, turismo, gestão empresarial). A prova disto são as estatísticas actuais sobre o ensino em Portugal: temos apenas 11% de licenciados, quando a média da OCDE está acima dos 22%; temos apenas 21% da população com o ensino secundário quando a Espanha tem mais de 60%; apenas 35% da população entre os 25 e os 35 anos tem este nível de escolaridade; etc. Isto apesar de Portugal apresentar um gasto na educação (em percentagem do seu PIB) superior à media dos países da OCDE, um gasto médio por aluno acima da média destes mesmos países e do rácio do número de alunos por professor estar abaixo da média dos mesmos países.
Por fim torna-se indispensável que os pais possam escolher as escolas que querem para os seus filhos (tal qual o modelo Britânico apresentado recentemente por Tony Blair) devendo aquelas desenvolver a sua actividade num quadro competitivo, i.e, em primeiro lugar, terem autonomia de gestão, segundo um plano orçamental previamente estabelecido; depois, lutar pelos seus clientes - os alunos - sendo que se torna indispensável estabelecer um ranking nacional de escolas, no qual esteja reflectida a avaliação destas segundo vários critérios de avaliação, entre os quais, no caso particular das universidades, baseado no número de licenciados do último ano que foram integrados no mercado de trabalho nos primeiros 6 a 12 meses após a licenciatura.

3 comentários:

Henrique Abreu disse...

Excelente reflexão Mario, estou de acordo com os pontos focados no teu artigo, gostaria apenas de acrescentar 2 áreas que podem merecer, também, alguma atenção da nossa parte; o ensino técnico profissional e a formação continua de activos.

Anónimo disse...

Gostava de os felicitar pelo bom material de reflexão publicado e pela actualidade dos temas tratados.Seria interessante ver mais informação sobre o Vosso forum. (intervenções publicas, debates, se são abertas ou não a público exterior etc.)
E já agora sugeria tornar o grafismo do blog mais apelativo, para quem está de fora a ler torna-se um pouco fastidioso, de resto os meus Parabéns

Antonio G.

Anónimo disse...

Caro Mário

A presente reflexão é inequivocamente acertada. A motivação faz a atitude e ambas fazem toda a diferença.

Não é possível ensinar quem não queira aprender! Contrastando com quem quer aprender que pouco precisa de ser ensinado.

Assim, é mais ou tanto importante motivar e orientar os alunos do que ensiná-los de acordo com os modelos actuais.

Chamo a tua atenção para a tua nota sobre a selecção das escolas pelos pais. Concordando com a ideia, entendo ser vital considerar aqueles que não tem pais ou que tendo, não são correctamente orientados. Assim, deveremos sempre trabalhar para que hajam opurtunidades iguais para todas as crianças e jovens. As escolas deverão ser todas idênticamente competentes na formação de homens para o futuro de Portugal.

Nuno Maia