Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, janeiro 22, 2011

Exportar


(Artigo Publicado no Jornal de Negócios)


Recente notícia do FMI diz-nos que, analisado o crescimento do PIB na última década em 180 países, Portugal surge colocado no 178º lugar.

É sabido e na generalidade das opiniões aceite que um dos principais problemas do país, para além do excessivo endividamento externo e interno (do Estado, das famílias e das empresas) e da necessidade de reequilibrar as finanças públicas, reside na baixa produtividade que afecta a nossa competitividade internacional e dificulta o crescimento das exportações. Aquela é por sua vez o resultado da ineficiência dos factores produtivos, em especial de uma reduzida produtividade das pessoas e consequentemente das empresas, o que nos leva a uma deficiente capacidade competitiva que afecta o crescimento do país.

Com um tecido empresarial composto essencialmente por micro empresas e PME´s (são 99.5% do total de empresas) com um mercado interno relativamente pequeno e que tem esgotada a sua capacidade de crescimento, em especial no momento actual em que se perspectiva uma quebra nos consumos público e privado, não restará outra alternativa às empresas nacionais que não seja virarem-se para os mercados externos. Mas para tal é necessário que estas estejam dotadas de uma boa capacidade competitiva para terem sucesso além fronteiras, pois à semelhança do que se passa por cá, também os nossos principais concorrentes estrangeiros esperam aumentar a venda dos seus produtos nos mercados externos e desta forma competirem directamente com as empresas Lusas. A prova disso é o crescimento das exportações verificado na Zona Euro as quais, segundo o Eurostat, registaram já uma subida de 1% em Agosto face a Julho e de 31% face ao mesmo mês de 2009.

Sabemos que no quadro macroeconómico vigente o crescimento económico do país está directamente indexado à capacidade de crescimento das exportações nacionais, daí que seja hoje mais do que nunca determinante que as empresas nacionais definam estratégias de exportação e internacionalização, não de forma dispersa e desordenada, mas focando-se em mercados onde estão já identificadas boas oportunidades de investimento e de venda dos seus produtos.

Aliás, esta ideia é suportada pela proposta de orçamento do Estado para 2011 o qual aponta para um crescimento das exportações de 7.3% para o próximo ano (contestada por alguns) como factor de crescimento da economia para o ano que se aproxima. Acreditamos que é assim. O crescimento económico está neste momento refém do crescimento da actividade interna e externa das empresas e em especial das vendas para o exterior.

É certo que o valor desta projecção orçamental levanta dúvidas se analisarmos o histórico do crescimento das exportações portuguesas na última década. Segundo dados do Eurostat, de 2000 a 2005 as exportações cresceram em média em Portugal 3.2% e de 2005 a 2010 3.8%. São pois estes dados históricos que nos criam alguma dúvida, porém é imperativo este esforço de internacionalização.

Há no entanto a registar sinais animadores uma vez que no 1º trimestre deste ano as exportações cresceram 14.8% face a igual período do ano anterior e no 2º trimestre 15.4%, acima por isso de todas as previsões.

Neste quadro é determinante saber escolher os países para onde dirigir os esforços e a oferta nacional. Segundo a AICEP só a Espanha, Alemanha, França e Reino Unido, foram responsáveis por cerca de 58% das exportações nacionais em 2009. Já de Janeiro a Maio de 2010, estes 4 países mantêm esta mesma percentagem no peso das exportações, com destaque para Espanha que, apesar da crise, acomodou 27.2% do volume global vendido ao exterior (acima dos 26.9% do mesmo período do ano anterior).

Angola surge em destaque fora dos países da Europa em 5º lugar e com um peso de 7.2% no ano de 2009 bem acima dos EUA que representaram 3.3% no 8º lugar. Há no entanto outros países igualmente relevantes como destino da internacionalização das empresas portuguesas, ainda que, representando posições secundárias, revelam contudo algum potencial por explorar pois são inúmeros os exemplos de sucesso conseguido pelas nossas empresas.

Referimo-nos em especial ao Brasil (onde as exportações atingiram em 2009 uns meros 295 milhões de Euros – que compara com os 8 mil milhões de euros para Espanha), à Venezuela, aos países do Magrebe como Marrocos, Argélia e Tunísia e depois à Líbia e Dubai. Em todos eles há presença empresarial portuguesa com casos de sucesso. O testemunho empresarial português nestes países tem sido positivo e os empresários bem recebidos pois tem sido reconhecida a qualidade do seu trabalho.

De entre estes importa em primeiro lugar destacar o Brasil pelo facto de revelar um enorme potencial de crescimento para os negócios de empresas nacionais devido aos investimentos resultantes da organização do campeonato do Mundo de futebol em 2014 e dos jogos olímpicos em 2016. Para além destas áreas verifica-se já um investimento significativo de grupos nacionais nos sectores turístico e de energia.

Não podemos ainda esquecer a importância que os países da Lusofonia representam para as empresas nacionais. Em especial Angola como já dito, Moçambique e Cabo Verde, os quais revelam um potencial de crescimento importante para a oferta e tecnologia das nossas empresas, onde a sua presença é já significativa e nos quais os factores de confiança empresarial se destacam, resultantes quer da relação histórica passada, da obra realizada, das afinidades culturais ou da língua comum.

No entanto para que esta estratégia de internacionalização tenha sucesso é necessário proporcionar às cerca de 25 mil empresas exportadoras e às outras que ainda não o são, alguns apoios não apenas pela via subsidiária. Estes apoios são indispensáveis para que as empresas possam lidar com os constrangimentos financeiros, humanos, burocráticos, políticos, legais ou tecnológicos que irão enfrentar em muitos destes mercados. É necessário ter a noção que há muitas dificuldades. Assim, os bancos podem ajudar a elaborar planos de negócio e de investimento, orientando para o modelo mais adequado de financiamento, a AICEP a identificar a cada momento os melhores mercados onde se detectam boas oportunidades e ajudar na interpretação das leis do investimento externo nesses países, o IAPMEI a definir as estruturas de gestão e marketing internacional mais ajustadas às suas estratégias.

O Estado, no seu papel de garante do risco, deve manter alguns instrumentos de apoio indirectos que já existem e até desenvolver alguns outros e que podem passar por garantir aos bancos o risco de empréstimos destinados ao investimento internacional em todos os mercados considerados prioritários, bonificar juros a este tipo de empréstimos (em detrimento de outros) e acordar com os bancos aumentar prazos de reembolso ou incrementar os seguros de crédito para além de manter e gerir adequadamente, supervisionando, as linhas de apoio existentes no âmbito do programa PME Investe. Num país que tem uma veia inovadora, onde as micro empresas tecnológicas estão como nunca a afirmar-se no exterior, parece-nos adequado programas como o Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento que contempla uma dedução fiscal às actividades de I&D.

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