Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

quarta-feira, agosto 25, 2010

Os melhores do mundo para viver


Segundo um estudo recente da revista “Newsweek” Portugal figura no 27º lugar entre os países considerados como dos melhores do mundo para viver. Como já vem sendo habitual a Finlândia é o país que ocupa o primeiro lugar deste ranking, seguida da Suíça e da Suécia.

Esta análise tem como critérios a qualidade da educação (onde nos posicionamos em 37º lugar) da saúde (23º lugar) a qualidade de vida (27º lugar) o dinamismo económico (42º lugar) e por fim o ambiente político (onde arrecadámos a 23ª posição).

A Grécia tomou a 26ª posição e a Espanha, um pouco acima de nós, a 21ª posição. À nossa frente temos ainda a Irlanda a França, Bélgica, Israel ou Itália.

Vale a pena consultar em:
http://www.newsweek.com/2010/08/15/interactive-infographic-of-the-worlds-best-countries.html

O meu patriotismo e o gosto pelo meu país, leva-me a torcer o nariz a esta classificação no ranking, tendo em consideração todos os factores críticos de sucesso desta nação à beira mar plantada. Lembro-me por exemplo do clima, da cor do céu, da riqueza gastronómica, das praias, da hospitalidade e pacatez de um povo, dos registos históricos e culturais e penso para mim que é injusta esta posição. Parece-me que merecemos melhor.

Mas depois recordo que muito disto que refiro, para ser usufruído, é pago! E que a carteira é um dos nossos pontos fracos.

Vem esta notícia a propósito da tentativa a que se assiste em Portugal, através de uma proposta incluída no projecto de revisão constitucional do PSD, para eliminar do texto da constituição relativamente ao Serviço Nacional de Saúde, a expressão “tendencialmente gratuito”.

Quando assistimos nos países que estão acima de nós neste ranking a um esforço contínuo para tornar os sistemas de vacinação gratuitos, o seu sistema nacional de saúde tendencialmente gratuito e de melhor qualidade, suportados maioritariamente pelos impostos já pagos pelos contribuintes (onde a carga fiscal na maior parte deles até está abaixo da nossa) e com níveis de qualidade de vida (e rendimento disponível) já bem acima do nosso, a pergunta que se impõe é: para onde caminhamos?

Se recordarmos que o rendimento mínimo no país são 475 Euros e o médio 900 Euros, outra pergunta que se impõe é: como podem as pessoas suportar o pagamento de mais esta factura, quando sabemos, numa boa parte dos casos entre os cidadãos mais idosos e de pensões mais fracas, que já muitos não conseguem pagar o que necessitam?

Apesar do sol, do clima e das praias, da sardinha e do carapau, do fado, futebol e pão saloio, do presunto de barrancos e do sorriso afável dos portugueses, dificilmente subiremos neste ranking.

domingo, agosto 22, 2010

FRES - " SE NÃO INTERVIERMOS E DESISTIRMOS, FALHÁMOS"

A vantagem de estar no FRES, e ter um lema, é o permanente apelo feito à nossa atenção para a realidade que nos cerca. Assim, e ao "passar os olhos" pela imprensa escrita, deparei-me com uma situação assaz interessante. De um artigo de Luís Osório, na revista "Tabu" do jornal "SOL" de 23 de Julho de 2010, relativo a uma conversa tida com o general Ramalho Eanes, a propósito da sua candidatura à Presidência da República em 1976, retive este episódio, passado durante a sua campanha na Figueira da Foz, que nos remete para a estruturação da personalidade dos sujeitos, revelada pelo seu comportamento e que passo a citar:
" O ambiente está pesado e há tentativas de agressão de parte a parte. As mulheres ameaçam o grupo de agitadores e não tiram os olhos de um rapaz, com pouco mais de vinte anos, que grita e insulta Eanes com especial e refinada veemência. Chegada a hora de almoço e à porta do restaurante a confusão não parece abrandar. O candidato ... ordena aos seguranças que convidem o rapaz a vir até si. Contrafeitos, lá o foram buscar e quando o rapaz, perante o homem que insultara antes, começa a esmiuçar as palavras de ordem, Eanes sem pestanejar dá-lhe a lista do restaurante e pergunta-lhe o que vai almoçar. Poucos minutos depois já o jovem revolucionário tratava Ramalho Eanes por senhor Presidente e dizia compreender bem o que realmente estava em equação. Percebeu tão bem que aceitou a boleia de um dos carros de apoio da comitiva ..."
À medida que ia lendo ia pensando ... onde é que eu já vi isto?
Então, folheando " As Farpas" de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, da "Princípia, Publicações Universitárias e Científicas" sob a coordenação de Maria Filomena Mónica e, da página 30, retirei este pequeno excerto relativo ao ano de 1871:
" A pobreza geral produz um aviltamento na dignidade. Todos vivem na dependência: nunca temos por isso a atitude da nossa consciência, temos a atitude do nosso interesse. Serve-se, não quem se respeita, mas quem se vê no poder ..."
E mais adiante, da página 31:
" Lentamente o homem perde também a individualidade do pensamento. Não pensa por si: sobrevem-lhe a preguiça do cérebro. Não tendo de formar o carácter, porque lhe é inútil e teria a todo o momento de o vergar;- não tendo de formar uma opinião porque lhe seria incómoda e teria a todo o momento de a calar,- costuma-se a viver sem carácter e sem opinião. Deixa de frequentar as ideias, perde o amor da educação. Cai na ignorância, e na vileza. Não se respeitando a si, não respeita os outros: mente, atraiçoa, e habitua-se a medrar na intriga."
E em 2010, o que se passa? será que os comportamentos evoluem ou se adaptam? Afinal, e tendo em atenção a diferença temporal, trata-se de uma evolução ou involução?
Com tanta informação disponível, com a preocupação da igualdade de direitos e oportunidades, ou seja com a democracia, ter-se-á alterado este tipo de comportamentos? Nem me parece necessário mencionar casos, pois são do conhecimento geral, tal a sua proliferação. Porém, o que mais impressiona é o facto de determinado tipo de comportamentos se repetirem de geração em geração, independentemente do seu grau de desenvolvimento. Porque razão permitimos a continuidade deste estado de coisas? Porque razão as pessoas, e sobretudo as que têm responsabilidade na "justiça", se calam e manipulam a verdade perante comportamentos menos lícitos de uns? Será porque se vêm projectados e naquelas circunstâncias fariam o mesmo? Ou será por medo, necessidade de segurança? Ou de facto trata-se de uma relação de dependência, de subalternidade, de que o Homem não se consegue libertar? Se atentarmos a que o Homem, logo após o seu nascimento, fica dependente, dependente de quem o alimente, de quem o proteja, de quem lhe transmita o conhecimento, de quem lhe dite as regras de convivência social, então não há ninguém verdadeiramente independente. Assim, e tendo em conta a situação de crise actual e da falta de soluções com que nos deparámos, colocaria, para reflexão, a seguinte questão: será este tipo de relação responsável pela falta de criatividade dada a situação de dependência, sendo que, nos dias de hoje, a económica se afigura como a mais determinante e, talvez daí a razão de apenas alguns conseguirem ser bem sucedidos? Qual a sua correlação com o empreendedorismo? Será este a manifestação de alguma indepedência conquistada ou facilitada ou uma tentativa de conquistar essa mesma independência? Ou será que aqui assentaria bem o lema do FRES : " SE NÃO INTERVIERMOS E DESISTIRMOS, FALHÁMOS"?