Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

domingo, junho 21, 2009

Desenrascar e Aprender com Prazer!


A propósito do artigo "Queremos Explicações" comecei a escrever um pequeno comentário que acabou nesta contribuição.

As informações, conclusões e comentários recolhidos naquele artigo, são perturbadores para mim.

Dei comigo a pensar: como é que à beira do ano 2010 continuam os Portugueses a ser educados para serem, tão só, verdadeiros Mestres na "bela Arte do Desenrasca" que nos tem caracterizado?

Começam já enquanto estudantes a "desenrascar" a passagem de ano através de explicações de ultima hora. E, naturalmente, os pais até colaboram. Não tivessem eles, também, sido criados com o mesmo estigma.

A propósito desta característica portuguesa conta-se a nível internacional uma anedota que vou resumir:

"Todos os bons gestores sabem que devem manter na sua empresa ou fábrica, bem no centro das instalações, uma redoma de vidro com as seguintes instruções: Quebrar em caso de calamidade, crise, ou problema sem solução.
Dentro da redoma o que estará? Um português!
Com a sua capacidade de "desenrascar" é o único elemento capaz de resolver a situação a contento e dentro do prazo."

Longe de estar aqui a lamentar-me por ser portuguesa, muito pelo contrário, pretendo que nos foquemos naquilo que há de positivo nesta história. Temos, realmente, este espírito de "desenrasca" que até nos é reconhecido internacionalmente. Em momentos de grande crise e tensão somos capazes de encontrar soluções que nem passariam pela cabeça de outros que até podem estar, teoricamente, melhor posicionados para o fazer.

O que precisamos, mesmo, é de capitalizar essa capacidade e não ficar por aí.

Conjugando este ponto com o tema do artigo “Queremos Explicações” e porque gosto de ser positiva: se esta nossa capacidade fosse reforçada com conhecimentos mais profundos chegaríamos muito mais longe.

Felizmente, já muitos portugueses perceberam isso (mesmo que não se tenham dado conta de forma consciente) e distinguem-se todos os dias no mundo, de várias maneiras, tal como o fazem cidadãos de muitos outros países.

Seria bom que conseguíssemos ter todo um povo a dirigir-se nesse sentido, em vez de apenas excepções.

A minha sugestão vai para a necessidade de passar às nossas crianças, aos nossos estudantes, a todos os envolvidos no ensino e educação, desde os pais aos professores, o prazer que pode ser a aquisição de conhecimentos. Aprender, pelo prazer de aprender é algo muito diferente de aprender porque tem que ser, porque fico bem visto, porque dou prazer ao papá, porque... porque... mas dá muito trabalho e é um grande sacrifício... Tudo, menos: porque gosto de saber mais, de crescer no conhecimento e retiro prazer desse crescimento.

E não sou eu quem inventa esta fórmula. Já dizia Alfred Mercier, (1816-1894): “Aquilo que aprendemos com prazer, jamais esquecemos”.

Transforme-se a aprendizagem num 'bem de consumo por prazer'. Explique-se, de forma positiva e atraente, a crianças e a adultos qual o valor acrescentado do 'saber' e muito pode mudar.

Eu acredito, e você?

4 comentários:

Mário de Jesus disse...

Estimada Isabel

Em primeiro lugar digo isto: que sejas bem vinda ao nosso blog por esta primeira inserção. Depois parabéns pelo excelente artigo.

De facto muito teríamos a capitalizar se soubessemos transformar em atitude positiva e vontade de aprender, educando-nos, essa capacidade, quase inata diria eu, de improvisar e desenrascar.

Cabe aos pais, tutores, escola e professores, enfim a quase todos, ensinar os meninos a gostar de aprender e a ter prazer em aprender.

Cabe a todos os indicados, ensinar as crianças a aprender e a orientá-los para o primado do saber, da cultura, da aprendizagem, do estudo, não só por obrigação mas também por distracção.

É bom a arte do desenrasca pois então. Mas melhor seria canalizar essa arte e engenho num sentido mais positivo: organizar, planear, estruturar ideias e métodos, reduzir o improviso e incrementar a arte de saber fazer bem e de forma competente.

EfeitoCris disse...

Olá a todos,

De vez em quando visito o v/ Blog e gosto bastante dos v/ artigos e temas em discussão, como é o caso deste "Arte de Desenrascar".

Creio que actualmente e desde todo o sempre, o Português é um fenómeno de reacção e não de acção. O português não actua porque sabe que tem tempo, que pode fazer amanhã, que talvez apareça feito... a verdade é esta.

Creio também que muitos de nós (e dito com franqueza), todos actuamos dessa forma alguma vezes e alguns de nós até já usaram essa atitude como ferramenta para o dia-a-dia. Os motivos ou desculpa, se assim o quizerem chamar podem ser muitas, mas não desculpam na totalidade essa nossa forma de vida.

O desenrascar é o nosso fado, é claro que nos cabe a nós alterar, mas a maioria dos governantes, dos professores, sociólogos, psicólogos...entre tantos outros que intervêm para as decisões, a cultura, a educação ... são filhos dessa filosofia, também eles foram educados dessa forma.

Aliás vemos, diariamente, pessoas "+adultas" com atitudes dessas nomedamente face à inovação e evolução natural que o Mundo segue, esses não se adaptam, não reaprendem...remendam, reajustam e usam muitoa a expressão "eu sempre fiz assim"... mais desenrascanço do que isto...

Não julguem que tenho agora 14 ou 16anos, que me sinto ofendida ou sinto revoltam com o que se escreve... Apenas quero dar uma outra visão: O homem é um animal de hábitos e ninguém se esqueças que aprendemos por imitação e que ninguém encha a boca para pontar o dedo, se não se olha ao próprio espelho e vê onde erra.

Eu costumo dizer, quando me aponto o dedo, e digo-o assertivamente "somos todos iguais!", a maioria fica ofendida, porque inteirou o comentário como uma critica pessoal, há os outros que ficam a pensar...

O que quero dizer é que, quando eu andei na escola e precisei se estudar para exames, tirei excelentes notas, mas haviam factores a contribuir para isso:
- os meus pais não controlavam, mas estipulavam metas;
- os professores não usavam net, pc's, jogos, animações em sala, nem muito menos metodologias activas... era rectos e concretos;
- €€€, na alturam eram escudos e não chegavam a contos, para contar histórias nos explicadores...

Poderia continuar, mas provavelmente já devem estar a detestar ler o que estou a escrever, mas em jeito de síntese:

Como trabalhadora estudante que sp fui; como trabalhadora (há 10anos) numa área que não é a minha de formação; sou formadora e professora, administrativa e espero vir a ser psicóloga, fui animadora e baby sitter, bailarina e trabalhei à caixa, mas o que nunca mudou foi o meu gosto pela leitura e pelos estudos...se pensar que faço, faço mesmo; se me desenrasco - sim, muitas vezes; se isso é bom - é!!! Ensina-nos a trabalhar sob pressão, sob a incompetência, nossa e dos restantes, a trabalhar hoje naquilo que era pra ontem, mas que o próximo só vai depois de amanhã...

o desenrasque do português é fruto do pouco valor atribuído ao trabalho, esforço e atitude do próximo...

a arte de desenrascar é a forma do português se adaptar às constantes alterações das leis, pouco claras e de prazos flutuantes...

o português é um ser humano IMPECÁVEL...
Inventivo
Manipulador
Pecador
Energético
Cautelouso
Apaixonado
Vivido
Oprimido

Vivam e sejam portugueses...

Anónimo disse...

Olá Isabel. De uma forma gobal estou de acordo com o artigo. Porém penso que determinadas características não são só do Português, vejamos os Americanos que, para construirem os USA, foram muito na arte do desenrasca e quando não sabiam, importavam europeus politicamente afastados dos seus países. Já não falo dos Brasileiros, porque, se calhar, na mistura racial levada a cabo pelos portugueses, também isso foi nos genes. Mas é verdade que esta característica que pode ser lida como ponto fraco, pode ser modificado em ponto forte desde que bem sustentado e orientado pelos conhecimentos adequados. Podemos ir mais longe e já o fizemos no passado, transformando "cascas de nozes" em Caravelas e demos novos mundos ao mundo e muitos conhecimentos até então ignorados. Por isso, há que reinventar as nossas capacidades adormecidas e construir novas Caravelas.
José F Alves

Isabel Teixeira disse...

Mário, EfeitoCris e José,

Muito obrigada pelas vossas participações que vieram enriquecer os primeiros pontos que levantei. No debate de ideias saimos sempre, todos, a ganhar.

Vou alterar o título do artigo porque na realidade aquele que escolhi acabou por desvirtuar um pouco a minha opinião. Na realidade estou bastante de acordo com algumas das vossas opiniões.

Nunca pretendi "desfazer" no nosso espírito criativo de "desenrasca", acho é que não podemos nem devemos ficar por aí.

A diferença entre um "ou" e um "e" pode mudar bastante o sentido. Creio que "Desenrascar e Aprender com Prazer" é muito mais o que pretendo transmitir.