Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sexta-feira, maio 15, 2009

OS PÁSSAROS

 Sair de Lisboa, ou de uma outra cidade , mais ou menos agitada e poluída, e passar uns dias no campo, é uma forma de retemperar o corpo e a mente. Assim o fizemos e rumamos ao Alentejo.

Mas, para além das nossas expectativas, de contemplar o horizonte da planície alentejana, ouvir o sossego dos sons da natureza, desde o cacarejar das galinhas e do canto dos galos, passando pelo balir das ovelhas até ao chilrear dos pássaros, o que, por si só, já justificava a nossa demanda, ainda fomos aprender como se reage a situações adversas, o significado de persistência e o que realmente é o trabalho de grupo.

Pois é, fomos aprender, não ouvindo dissertações académicas de doutores e teóricos em estratégias e tácticas que nunca vivenciaram, mas tão simplesmente observando na prática o comportamento de alguns pássaros. Como? Passamos a expor : na casa onde ficamos, deixada por uns avós, simples casa térrea num dos vários montes alentejanos, junto a Almodôvar, e por nós recuperada, existe um alpendre, cujas telhas estão a descoberto, suportadas por pequenas vigas de cimento e que apresentam alguns espaços abertos, que os pardais, de há uns tempos a esta parte, têm vindo a aproveitar para aí construírem os seus ninhos. Cansados da sujidade que os referidos pássaros diariamente fazem, resolvemos este ano, antes de fazerem os ninhos, porque aí já não teríamos coragem de os destruir, tapar os espaços abertos com pedaços de esferovite, até porque a primavera espreita e já se nota o bulício dos pássaros em busca de locais de nidificação.

Porém, um dia destes, quando nos levantamos e abrimos a porta para o alpendre, deparámos com 2 pássaros fugindo e, com espanto nosso, tinham retirado “à bicada” esferovite desenhando uma abertura para passarem, obtendo, deste modo, uma confortável casa com isolamento térmico e acústico. Mas como é possível manterem-se no ar se não são colibris e não têm o bico comprido? Desconfiados voltamos a tapar os espaços com esferovite mais volumosa como forma de resolver de vez a situação: Mas, no dia seguinte, a cena repete-se, constatando que já eram cerca de 4 ou 5 pássaros a esvoaçarem quando abrimos a porta. Isto já nos parecia trabalho de grupo e, como tal, para grandes males ... grandes remédios. Desta feita tapámos com pedras e assim ficaria o assunto resolvido de vez.

No dia seguinte, abrimos a porta e já só fugiram 2 pássaros e nada tinha acontecido. Pensámos ... finalmente estão convencidos de que perderam a causa.

Qual não é o nosso espanto quando, no dia seguinte, ao abrir a porta, deparámos com mais de meia dúzia de pardais a esvoaçarem e no chão jazia inerte uma das pedras que tínhamos enfiado dentro do buraco junto às telhas ... quase não acreditávamos.

Perante os factos, decidimos deixar em aberto um espaço para recompensar o esforço, a persistência e sobretudo o trabalho de equipa, pois, em poucos dias, entenderam que só com o esforço concentrado de todos, em torno de um objectivo comum é possível superar as adversidades.

Ainda bem para eles, que não são como nós (salvo raras e honrosas excepções, a que eu gostaria de pertencer) que nos preocupamos mais com dividir para reinar, olhamos mais para os nossos umbigos e somos mais egocêntricos do que sociais, faltando-nos espírito e coesão de grupo.

De facto o que temos e nos confunde são objectivos comuns, em que procuramos atingir não o bem estar global mas o nosso próprio bem estar, pensando que  estamos assim a trabalhar para a sociedade, só que o nosso conceito de sociedade assenta na definição de que esta é “eu e os outros ... e não nós”.

Era bom uma mudança de atitudes, a começar pelos nossos políticos, já que temos de começar por algum lado, que seja por aqueles que têm ... ou deviam ter, a responsabilidade de observar os pássaros e entender, de uma vez por todas,  o que é governar/trabalhar para o bem comum e não para si próprios!

2 comentários:

Otavio Rebelo disse...

Leitura Apaixonante
Conteúdo Profundo
Timing Certo
Target´s bem definidos
Concordo com a lição dos pássaros
José, Muito obrigado por este incisivo testemunho

Mário de Jesus disse...

Estimado Zé Alves

Eis um exemplo verdadeiro e "cinematográfico" diria até, para explicar a verdadeira importância do trabalho em grupo e do espirito da célebre "união faz a força".

Dará que pensar, devia-nos fazer pensar.

Uma prova de que "together we stand, divided we fall".

Abraço