Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

segunda-feira, setembro 24, 2007

Portugal Hoje – o medo de existir


Portugal, como defende o filósofo José Gil no seu extraordinário livro cujo título está em epígrafe e se recomenda e que classifica o país como a nação da não-inscrição portou-se como um país fraco.

De facto os exemplos multiplicam-se pela sociedade sendo o último o episódio da vinda do Dalai Lama a Portugal o exemplo do que se afirma. Contráriamente à Áustria e Alemanha, em que os respectivos chanceleres se afirmaram e se “inscreveram” na importância, reconhecimento e respeito por esta visita, não cedendo às pressões do governo chinês para não receber aquela personalidade com honras de estado, em Portugal, assobiámos para o ar e mais uma vez cedemos às pressões (desta vez chinesas) não tendo a coragem necessária de tomar uma decisão auto-determinada. Não tivemos por isso a coragem de nos afirmar como nação de força. Falhámos de novo.

Aqui ficam alguns testemunhos do que José Gil considera ser o Portugal de hoje, o nosso Portugal, por outras palavras, o que para a posteridade ficará sobre o que todos nós somos.

A não-inscrição não data de agora, é um velho hábito que vem sobretudo da recusa imposta ao indivíduo de se inscrever. Porque inscrever implica acção, afirmação, decisão com as quais o indivíduo conquista autonomia e sentido para a sua existência. Foi o salazarismo que nos ensinou a irresponsabilidade – reduzindo-nos a crianças grandes, adultos infantilizados”.

Em Portugal não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia, o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam”.

Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando o interesse da comunidade prevalece sobre o dos grupos e das pessoas privadas”.

Em Portugal nada se inscreve, quer dizer, nada acontece que marque o real, que o transforme, que o abra. É o país por excelência da não-inscrição”.

Apesar das liberdades conquistadas herdámos antigas inércias: irresponsabilidade, medo que sobrevive sob outras formas, falta de motivação para a acção, resistência ao cumprimento da lei etc.

A não-inscrição não ocorreu apenas no plano político, mas em todos os planos da vida social e individual. Porquê? Porque nada há para se inscrever, nem uma ideia para o país, nem um destino individual”.

O medo é uma estratégia para nada se inscrever. Constitui-se, antes de mais, como medo de inscrever, quer dizer, de existir, de afrontar forças do mundo desencadeando as suas próprias forças de vida. Medo de agir, de tomar decisões diferentes da norma vigente, medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. A prudência é a lei do bom senso Português”.

Enfim, vale-nos de facto a nossa alegria na adesão às novas tecnologias, essa ousadia que não se espalha e não contagia a sociedade noutros planos da vida. O que é pena.

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