Fórum de Reflexão Económica e Social

«Se não interviermos e desistirmos, falhamos»

sábado, março 10, 2012

Pink Floyd - The Wall - 33 anos depois



Farei já aqui uma confissão e uma declaração de interesses: sou fã incondicional dos Pink Floyd.



Como disse uma vez um amigo meu, "É Deus no céu e Pink Floyd na terra".



Vem isto a propósito da força, do cunho e da arte que é a música como manifestação da marca, do símbolo, dos sinais e das características sociais e antropológicas de uma sociedade, de um povo ou de uma era.



A música é transcendental e pode fazer sentir-nos transcendentais. Ela ultrapassa barreiras físicas ou psicológicas, aproxima culturas e povos, é uma linguagem universal e universalmente entendida e reconhecida. É um instrumento de paz e ao mesmo tempo de luta política.



Hoje vivi uma experiência interessante e curiosa sobre a música a qual partilho. E partilho porque teve importância para mim e me fez recordar a força e o poder da música enquanto linguagem de sons (mas também de palavras independentemente da língua original).



E lembrei-me do papel que certos interpretes, artistas ou fenómenos da música podem representar nas ligações humanas e culturais - tudo através da sua arte que é a música.



E muitas vezes esta aproxima pessoas que se sentam no ponto mais diametralmente oposto ao nosso.



Hoje, 33 anos depois, The Wall encontra-se entre os 10 Albuns musicais mais vendidos em Portugal. Porque há 33 anos este mesmo The Wall permaneceu meses a fio nesse mesmo top das preferências musicais do portugueses, novos e velhos da altura.



E hoje como há 33 anos vibrei ao ouvi-la.



Nunca de tal fenómeno idêntico me lembro, embora tal possa ter acontecido já antes, mas não na minha era.



Por isso aqui deixo, em especial para mim e depois, se for caso, para alguns de vós que sejam fãs, esta minha homenagem.



Shine on you crazy diamond.












domingo, março 04, 2012

Outra vez a KrugmanMania e as respostas a dar



Caro Paulo e estimados fresianos, sobre o tema aqui em discussão e relativamente às reflexões levantadas e assinaladas pelo Paulo Barata, diria algumas palavras e recordaria que Paul Krugman ganhou o Nobel da economia pelos seus estudos sobre a globalização e as economias de escala defendendo que os mercados nem sempre funcionam e que o seu fracasso se deve à falta de economia de escala. É portanto um critico dos mercados.

Com o enorme respeito que me merece não vou aqui falar de Krugman, uma vez que discordo da sua teoria da redução de salários mas concordando com outras ideias como a dificuldade que Portugal sentirá em voltar aos mercados em 2013, já que me parece ser demasiado cedo dados os problemas estruturais vigentes.

Afirmo que sou defensor de que Portugal não tinha outro caminho que não fosse o caminho da austeridade dado o estado das finanças públicas e do endividamento do país, das empresas e das famílias. O governo tem estado a fazer um bom trabalho neste campo e a ganhar a confiança dos parceiros internacionais. Isto é um facto e era absolutamente necessário. O que me preocupa é o problema da falta de instrumentos para incitar ao aumento da produtividade e do crescimento que induz a competitividade. Porque me parece que têm faltado medidas importantes de ajuda às empresas como apoio de crédito ao investimento e à internacionalização.

Quero dizer que concordo que mais importante que a competitividade é para Portugal mais determinante a produtividade. O seu crescimento e performance é uma das fórmulas para se chegar a um aumento da competitividade. E apenas conseguiremos aumentar a produtividade com empresas mais produtivas, adequadamente financiadas, a vender mais, com melhores profissionais, mais bem preparados, mais competentes, melhor formados e motivados. Mas isto não chega. Como poderemos hoje aumentar a produtividade quando temos cerca de 1 milhão de pessoas em idade activa que estão sem actividade e no desemprego? E que não consomem ou consomem muito menos?

E não conseguimos aumentar a produtividade porque as empresas não conseguem produzir mais porque não conseguem vender mais já que o consumo interno cai a pique porque as pessoas, com menos rendimentos disponíveis, mais impostos e o país com mais desempregados, reduzem o consumo.

Mas se não conseguimos vender mais cá dentro porque o mercado interno encolhe devido à austeridade (infelizmente é um facto pois a esmagadora maioria das empresas tem vindo a reduzir as vendas internas há 3 anos consecutivos) então só nos resta a exportação. Mas aqui reside outro problema. Em Portugal apenas 10% das empresas são exportadoras, estamos a falar de cerca de 25 mil empresas representando as exportações 30% do PIB quando em países como a Irlanda (110%) ou a Holanda, a Bélgica ou a Hungria, mais próximos da nossa dimensão, essa percentagem está acima dos 80%. Aumentar as exportações também não chega. Importa além disso aumentar nº de empresas exportadoras. Mas para tal é necessário criar condições e ajudá-las a exportar, porque lhes falta capital.

É da teoria macroeconómica que se sabe que, para as empresas serem mais competitivas, há que reduzir o custos dos factores de produção. É verdade. Mas as empresas não têm só nos custos de produção os salários e remunerações. Lá estão os custos com a energia (enormes para as industriais) dos transportes, da água, os custos dos financiamentos (o que dizer dos custos dos combustíveis sempre a crescer) para além das taxas, licenças e impostos que pagam.

Portugal vive um momento absolutamente crítico. A forma de sairmos daqui é aumentar a produtividade e a competitividade. Mas para isso é necessário dinheiro para investir, crescer, criar emprego, financiar a economia. Como os investidores portugueses não aparecem ou não revelam capacidade para dar cumprimento a esse investimento, então só nos resta os investidores externos. Mas esses parecem não ter confiança no país.

Não vejo aqui, com a miríade de problemas e desafios que enfrentamos, que a variável salários seja de facto a mais importante.

Quero dizer-vos que conheço um pouco a realidade das empresas portuguesas e que não são os salários dos seus colaboradores a principal fonte de preocupação. Como muito bem diz o Zé Mesquita, as melhores pagam bem estando na generalidade as pessoas contentes com o que recebem. Quanto existem problemas de fundo, estes resolvem-se de outra forma. Se há que reduzir estruturas, o problema resolve-se de uma outra maneira e estas reduzem-se, mas isso não tem directamente a ver com o nível de salários nem com a falta de competitividade das empresas por tal. Nunca ouvi uma ou algum empresário a dizer isso. Menos salário é menos empenho, menos dedicação, menos energia, menos interesse, menos profissionalismo.

As empresas procuram uma melhor competitividade num quadro de maiores incentivos e melhores condições politica e fiscais ao investimento, às exportações, no aperfeiçoamento e estabilidade do sistema fiscal, na redução dos custos de contexto (burocráticos e processuais), não no plano da redução de salários.

Austeridade sobre recessão apenas agrava a recessão, não sou apenas eu que o digo mas é antes a opinião da grade generalidade dos economistas e dos observadores sobre ciência económica. Vemos o investimento, o consumo público e privado, a receita dos impostos (ainda que com mais impostos dado que menos salários e menos consumo, leva a menos impostos) os combustíveis, a compra de casas, de carros, para dar apenas alguns exemplos, a caminhar negativamente. Assim será mais difícil.

Krugmanmania!

As reações às declarações do Nobel da Economia 2008, Paul Krugman, esta semana, por ocasião do seu triplo doutoramento honoris causa pelas Universidades públicas de Lisboa – Clássica, Nova e Técnica – de redução de 20% a 30% dos salários dos portugueses face aos alemães e a comparação entre a capacidade de intervenção do Primeiro-Ministro português e do Governador de Nova Jérsia provam à saciedade o que já conhecíamos: as notórias deficiências do modelo de construção europeia. Apenas ganham notoriedade por serem proferidas por quem foram.

A economia portuguesa definha, o desemprego avança para níveis históricos, é necessário um choque de competitividade. Neste cenário, e no que respeita às políticas do Estado, constatamos que o país já não tem instrumentos de política monetária, que o país já não tem instrumentos de política cambial, que o país ainda tem instrumentos de política fiscal, mas não está em condições de baixar a tributação, depois do endividamento excessivo criado em particular pelas medidas de estímulo à economia tomadas entre 2007 e 2009.

Em relação aos fatores de atração do investimento: quanto à energia, o país não controla o sector, sobretudo o principal agente do mercado, a EDP, que está nas mãos de privados, parte dos quais internacionais, alguns dos quais – pasme-se, empresas estatais: e há liberais que defenderam com denodo a venda da participação do Estado à empresa pública chinesa China Three Gorges?! –; ainda por cima há um défice tarifário conhecido; a tendência será, aliás, para o aumento do custo da energia e não para a sua redução; algum ganho introduzido pela maior concorrência esperada ou mesmo pela redução das rendas nessa área vai-se com certeza esvair pelo aumento que terá de existir para compensar o défice tarifário; quanto ao trabalho, o país não está em condições de baixar os impostos sobre o trabalho designadamente o IRS e a TSU; quanto à tríade: fiscalidade, burocracia e justiça, o país não está em condições de baixar o IRC, pode agir sobre a burocracia – e no que respeita à facilitação do investimento já muito se fez: a empresa na hora, os balcões únicos, os PIN, etc., pode agir sobre a justiça, para que as cobranças de dívidas e a resolução de litígios sejam mais rápidos, mas não mais do que isso.

O Estado também não pode, devido ao programa de ajuda, injetar diretamente dinheiro na economia através de políticas expansionistas ou criar emprego público. O Estado está de mãos e pés atados para resolver o problema da competitividade! O Estado limita-se hoje a ser um cobrador de impostos e (ainda) provedor de educação e de assistência social em sentido lato. Não tem já qualquer poder sobre a economia onde nem a regulação exerce bem. Neste contexto, por si só, um país periférico como Portugal não pode fazer praticamente nada para estimular a competitividade. E como é que um país fortemente dependente do exterior, funcionando num mercado aberto e com os condicionalismos referidos consegue reduzir a curto prazo as importações. Temo bem que só pela diminuição da procura através da redução do rendimento disponível das pessoas.

O que é que lamentavelmente sobra neste cenário? Sobram os custos diretos do trabalho como um fator interno que inteiramente dominamos. O que é curioso aqui verificar é que o Governo já fez o que é proposto por Krugman na Administração Pública (AP)? De forma crua, Vítor Gaspar referiu, quando reduziu os vencimentos da AP: ou é isto ou é a redução de 50 a 100 mil funcionários públicos. E os melhores quadros da AP viram reduzidos os seus salários nominais em cerca de 25%, ou seja, curiosamente um valor dentro do intervalo proposto por Krugman. E globalmente, a redução deve situar-se perto dos 20%. Quanto ao sector privado: o ajustamento pela via salarial tem estado a ser feito de duas formas. De imediato, através do crescimento do desemprego, mais lentamente através da manutenção salarial, comida ano após ano pela inflação e pelos impostos. Neste ínterim, sacrificam-se as novas gerações, obrigadas a emigrar, e os desempregados, para que os que outros sobrevivam mais intocados. A distribuição dos sacrifícios é, como sempre acontece nestes processos, injusta e desigual. Além de que os desempregados, cujo número já supera o dos trabalhadores da Administração Pública, constituem despesa pública. Com isto se colocando ainda mais pressão sobre o Estado.

Vamos empobrecer coletivamente, vamos continuar a ver subir os números do desemprego, com os dramas pessoais que essa situação comporta, vamos assistir à quebra da coesão social que o desemprego está a gerar. E não se vê grande reflexão sobre as notórias deficiências do atual modelo de construção europeia e, já agora, sobre o capitalismo desregulado que nos conduziu até aqui e uma ideia que seja para reduzir as assimetrias entre o que paga o trabalho e o que paga o capital.